Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 5 de junho de 2009

A Conquista do Espírito


Arthur da Costa e Silva.


Não consigo entender como tem gente que não gosta do David Coimbra. Chamam ele de filhote da RBS. Sim, o cara trabalha para a RBS e daí? O Luiz Fernando Veríssimo, por acaso, não trabalha para a RBS. Não, mas o David Coimbra para ser o cara tem que fazer literatura engajada, tem que se alinhar a determinado tipo de sentimento bipolar, fazer da política a arte da amargura. David Coimbra não é nada disso. Ele está além da politiquinha ideológica que existe nesse território complicado chamado Rio Grande.



Crônica do David Coimbra hoje na ZH

Brasil grande



Quantos anos eu tinha? Seis? Sete? Estava aboletado numa das carteiras do Costa e Silva. Era como se chamava o meu colégio: Grupo Escolar Presidente Arthur da Costa e Silva, engastado nos recônditos do Parque Minuano. Parece que hoje o apelidaram de “Costinha”. Melhor. Costa e Silva foi o homem do AI-5. Um autoritário, embora fosse mandado pela mulher, dona Yolanda, a única primeira-dama da história do Brasil a ser fotografada com o todo o ministério da República – sem o presidente.Então lá estava eu, numa fileira perto das janelas, ouvindo a professora falar, ela parada de pé diante do quadro negro. Falava do Brasil. Orgulhosa, descrevia como a Nação vinha crescendo nos últimos anos, como tudo dava certo, como o país seria a maior potência do planeta em algum tempo. Aí virou-se de costas para nós e escreveu um nome no quadro. Escreveu-o em letras maiúsculas bem desenhadas, letra de professora de primário. O nome ocupou quase que toda a extensão horizontal do quadro.– Esse homem – disse a professora, peito estufado. – É o homem que está construindo o Brasil do futuro.Bateu com a ponta do giz na primeira letra do nome, tectec. Este nome: Emílio Garrastazu Médici.Durante anos senti o coração palpitar de ufanismo pelo Brasil que ia para frente e por seu presidente ativo e patriota. Ainda hoje, volta e meia recordo-me daquela tarde de sol na sala de aula do, vá lá, Costinha. Sei que a professora, quando discorria sobre Médici e o Brasil Grande, não o fazia por obrigação; tratava-se de densa certeza. A professora acreditava mesmo que o Brasil estava sendo salvo pelo governo militar. Muita gente acreditava. Médici, creiam, era popular.Depois de Médici, só um presidente alcançou o mesmo nível de popularidade: Lula. Um presidente que tem 70% de aprovação nas pesquisas. Lula fez por isso. Apartou o Banco Central do governo, manteve a política econômica do Plano Real, atuou com força na área social. Merece a popularidade que tem. Mas o que fará com ela?Até agora, Lula tem usado sua popularidade exatamente da mesma maneira que Médici usou a dele: promovendo o desenvolvimento material. O PAC é o equivalente do Milagre Brasileiro.Bem. Médici, ainda que quisesse, não conseguiria mudar a estrutura do país. Não conseguiria transformar o Brasil numa nação de cidadãos. Porque Médici acreditava, realmente, que o desenvolvimento material bastava. Fazer o bolo crescer para depois dividi-lo, era o lema do governo.Mas, não. Só o crescimento não é o suficiente. Era o que um presidente deveria levar em conta. Um presidente, bem como um governador ou um prefeito, um homem eleito para um cargo executivo deveria valer-se do poder que o voto lhe concedeu. Porque um executivo tem de ser mais do que um administrador de orçamento. Tem de saber que ele pode, graças ao prestígio do cargo, mobilizar a sociedade. Pode fazer com que as pessoas se unam em torno de um objetivo que ele, executivo, defina como o mais importante. Algo estrutural, algo profundo, que possa mudar o país de verdade.O desenvolvimento material pode ser perdido. A Alemanha foi destruída na Guerra dos 30 anos e, depois, outras duas vezes nas guerras do século 20. A Alemanha perdeu o que tinha de material. Restou-lhe o espírito. O povo alemão desde sempre foi um povo culto, um povo que valorizou a Educação. É o que faz um país. Pontes desabam, o asfalto das estradas se corrói, usinas caducam, até a beleza das mulheres um dia murcha. O espírito, não. O espírito de um país nunca se perde, se ele é cultivado. Um pouco de sua popularidade Lula poderia despender nessa conquista. A conquista do espírito.
P

3 comentários:

Charlie disse...

Alguém disse certamente que o problema do Brasil é ser cheio de brasileiros. Nosso espírito não é uma Brastemp.

Charlie disse...

certamente = acertadamente.

Charlie disse...

certamente = acertadamente.