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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 17 de junho de 2009

De Novo, o Caso da Ford



Essa fábrica da Ford em Camaçari na Bahia poderia estar hoje em Guaiba,RS se não fosse o ranço ideológico anticapitalista do governo Olívio Dutra.

Fui citado pelo Marco Antônio Weissheimer no Blog Rs Urgente.



Carlos Maia reproduziu aqui, no espaço dos comentários, os principais argumentos que acusam o governo Olívio Dutra (PT) de ter mandado a Ford embora do Estado. Segundo ele, são, na verdade, “fatos objetivos” aos quais não caberiam contestação. Vejamos, um a um, esses “fatos objetivos” (as posições de Maia estão em negrito):
“Olívio sempre se recusou a receber os executivos da Ford e disse que “nenhum dinheiro do erário será destinado às multinacionais”.
Esse “fato objetivo” é, na verdade, uma inverdade. O ex-secretário de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Zeca Moraes, falecido recentemente, relatou, em uma
entrevista ao jornal Extra-Classe, em junho de 1999, como se deram as conversas com o negociador da Ford e a proposta feita pelo governo do Estado para a instalação da montadora:
“No primeiro encontro com a Ford, o negociador designado (Waldemar Mussi, diretor-jurídico da companhia) já chegou dizendo que não estava autorizado e não tinha delegação para conversar. Isso na primeira reunião. Ele estava autorizado única e exclusivamente a escutar o que tínhamos a colocar. E a cada proposta que apresentávamos não se instituía um diálogo em relação ao contrato. A proposta final, que não recebeu resposta formal por parte da companhia, não contestava os incentivos fiscais concedidos e propunha que o estado buscasse junto ao governo federal e à prefeitura de Guaíba os recursos (cerca de R$ 100 milhões) para viabilizar determinadas obras que estavam sob responsabilidade estadual. Propomos até um financiamento à prefeitura de Guaíba para viabilizar as obras, que seria pago somente a partir do retorno obtido na arrecadação do município. Tudo para viabilizar o investimento. O estado mantinha outros R$ 70 milhões em recursos e mais R$ 85 milhões em obras, o que dá R$ 255 milhões. Com mais R$ 75 milhões das obras no porto de Rio Grande, o custo da Ford seria de R$ 110 milhões, que além disso poderiam ser colocados no financiamento do BNDES. Isso é 10% do investimento total”.
O problema, disse Zeca Moraes, é que a Ford queria a fábrica de graça (o que acabou conseguindo, na Bahia, graças à intervenção do governo federal).
“Foi por isso (“nenhum dinheiro para multinacionais”) que a Ford decidiu não construir mais a fábrica. A MP da Ford só ocorreu depois que a empresa tinha desistido do RS.
A Ford foi para a Bahia porque descobriu que podia ganhar a fábrica de graça. O professor Nilton Vasconcelos, da Universidade Federal da Bahia, analisou em uma tese sobre Políticas Públicas e Emprego na Indústria Automativa Brasileira, o custo (público) da ida da empresa para a Bahia. Um resumo desse estudo foi
publicado pela revista Fórum. Vejamos alguns dados desse estudo, divulgados pela revista:
“O que se sabe é que do BNDES, banco do governo federal, foram emprestados cerca de 700 milhões de reais a juros subsidiados. O governo do Estado deu isenção total de ICMS e comprometeu-se a financiar até 12% do faturamento bruto da empresa como capital de giro. O prazo do financiamento é mais que camarada, quinze anos, com carência de dez para começar a pagar, e amortização em doze anos. E com desconto de 98% nas primeiras 72 parcelas. Mas os incentivos não param por aí. O governo baiano se encarregou de financiar investimentos fixos e despesas com implantação do projeto pelo prazo de quinze anos (com taxa de juros de 6% ao ano, sem atualização monetária) e despesas com pesquisa e desenvolvimento de produtos.
Há outro detalhe que chama a atenção. Na lei editada para a Ford, e aprovada pela Assembléia Legislativa, determina-se que cabe ao Estado “…assegurar a substituição das mesmas condições, em caso de mudança decorrente de reforma do sistema tributário ou impossibilidade jurídica de adotar o tratamento dispensado na referida lei…”. Traduzindo, em caso de uma reforma tributária que acabasse, por exemplo, com a isenção de ICMS, o governo baiano teria de utilizar recursos próprios para cobrir a diferença. Não receberia impostos e ainda teria de pagar.
“A Ford é uma grande estatal”, resumiu o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia, Aurino Nascimento Filho, que sempre foi favorável à instalação de uma indústria de ponta na Bahia, mas ele logo acrescenta: “Se eu fosse a Ford, com essas condições, também montaria uma fábrica aqui. Com esse dinheiro investido, cerca de 3 bilhões de reais durante o período dos incentivos, poderiam ser desenvolvidos outros setores da economia”, afirma.
A matéria informa ainda:
“O maior salário da indústria automobilística vem sendo pago na Bahia. Não acredita? Faça as contas. Cerca de 3 bilhões de reais estão sendo usados para abrir vagas para 2 mil empregados. O que dá 1,5 milhão de reais por emprego. É esse o valor que os governos estadual e federal estão dando em incentivos, renúncias fiscais, investimento e empréstimos para a instalação da fábrica da Ford em Camaçari”.
“A Ford foi para a Bahia por causa do ranço anticapitalista do PT”
Como os números citados acima indicam, o “capitalismo”, em questão é do tipo que só faz empreendimentos se for maximamente financiado pelo Estado. O governo Olívio Dutra foi “rançoso”, “ideológico” e “anticapitalista” por que julgou o contrato com a Ford, nos termos que havia sido firmado pelo governo Antonio Britto (PMDB), lesivo ao interesse público. Foi “anticapitalista” por que não quis dar uma fábrica praticamente de graça para a Ford. E a Ford, coitada, não pode praticar o “capitalismo” (bancado pelo dinheiro público) no Rio Grande do Sul. Esse é, aliás, um dos esportes preferidos dos capitalistas que denunciam o “ranço ideológico” de quem defende o interesse público: enriquecer usando o dinheiro público e, em caso de prejuízo, fazer com que o Estado e o público paguem a conta (a recente quebra do sistema financeiro internacional mostra isso de forma exemplar).
Greg Palast, em “A melhor democracia que o dinheiro pode comprar”, revela um aspecto macabro desse esporte: um processo judicial a favor de trabalhadores escravos que perderam seus filhos em “creches” assassinas administradas pelas montadoras Volkswagen, Ford e Daimler, entre outras, no período da Alemanha nazista. Esse processo trouxe à tona uma carta assinada por Hitler concordando com um pedido da Volkswagen por mais trabalhadores escravos dos campos de concentração (o fac-símile da carta está publicado na página 246). Se Hitler tivesse sido capturado, ironiza Palast, ele poderia ter alegado em sua defesa: “Eu estava apenas cumprindo ordens….da Volkswagen”. Mas deixemos isso pra lá. Deve ser puro ranço ideológico




Meu comentário;
Impressionante como certa esquerda não assume seu lado anticapitalista.

Weissheimer tenta reescrever uma nova história do emblemático caso Ford para mostrar que a Ford foi embora do RS porque o governo FHC editou a MP da Ford favorecendo o investimento no Nordeste, por pressão de ACM. e eu fiz alguns comentários mostrando certas contradições.
A tese do Weissheimer não fecha, por questão cronológica.
Os fatos, em ordem cronológica são os seguintes.
a) o governo Britto concedeu incentivos para a Ford e trouxe a empresa para implantar uma fábrica no RS, perto de Guaíba.
b) Britto, PMDB, perdeu a eleição para Olívio do PT.
c) Olívio tentou renegociar os termos do contrato com a Ford.
d) Havia uma parcela do contrato de financiamento a ser pago pelo Estado do Rs para a Ford ( o dinheiro para isso era da privatização da CRT e de parte da CEEE e, portanto, havia recurso para isso), mas o RS não efetuou o pagamento.
e) A Ford não aceitou renegociar os termos do contrato.
f) Em abril de 1999, a Ford realizou uma reunião em Detroit, sede da empresa, para decidir se manteria ou não o empreendimento no RS. E nessa reunião, a Ford decidiu não mais investir no Estado do RS.
g) A MP de FHC que beneficou a Ford é de 30 de junho de 1999.

Ou seja, quando FHC editou a MP, a Ford já havia decidido em reunião em Detroit que não mais iria investir no RS.
Cai por terra, assim, essa nova e fantasiosa versão de que a Ford foi embora do Rs porque o governo FHC editou MP beneficiando a Bahia de ACM.

9 comentários:

guimas disse...

Tu vês: eu sempre enxergo a coisa de um ponto de vista diferente: nem de certa esquerda, nem de certa anti-esquerda.

A Ford ganhou muito mais pra ir pra Bahia. MUITO mais. Mais incentivos fiscais, mais benefícios diretos, mais facilidades de crédito.

É ingenuidade achar que eles iam colocar o projeto do RS no lixo por causa do Olívio, do PT e de seu "ranço ideológico". A Ford se foi porque levou grana, e da boa. Simples assim.

Houve uma articulação enorme pra Ford ir pra Bahia, e as data que tu grifaste nada significam. Ou melhor, significam apenas que a articulação politica e as negociações em prol da Ford ocorreram abertamente naquele período.

Mas, o que ocorre, é que é muito mais importante para os palermas anti-petistas creditarem a culpa ao PT. Uma pena.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, a Ford já havia fechado contrato com governo do RS, no caso o Britto. Estava tudo acertado e tudo assinado. Quem tentou modificar o pacto não foi a Ford, mas o governo Olivio. E não se tratava de doação, mas de financiamento de dinheiro público. O governo Olívio foi incompetente na negociação, não obteve êxito na renegociaçaõ e o próprio Olívio diversas vezes se recusou a receber os executivos da Ford. As datas grifadas são o fundamento de tudo. A Ford não iria embora do Rs se Olívio tivesse mantido o contrato de Britto. Mas foi, porque Olívio não pagou parcela do contrato e quis renegociar. Não havia entre as partes contratantes confiança, parceria e nem compromisso. Depois a Ford realizou reunião em Detroit comunicando que não iria mais investir no RS. Dois meses depois é que ocorreu a MP da Ford.

guimas disse...

"A Ford não iria embora do Rs se Olívio tivesse mantido o contrato de Britto."

Isso é opinião, e uma opinião ingênua. Só pra lembrar, quando a Ford fechou o contrato, o dólar era R$ 1,90. Quando foi embora, era R$ 3,50. O contexto econômico mudou, o contrato poderia (e deveria) ser renegociado.

Acreditar que a Ford ficaria só pelos belos olhos de Britto é ingenuidade.

É mais facil colocar a culpa no Olívio.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, o contrato não estava atrelado ao dólar. O financiamento era em reais. O contexto não mudou, porque a Ford fez de qualquer forma a fábrica. Quem resolveu modificar as cláusulas do contrato não foi a Ford, mas o governo Olívio. Sua tese estaria correta se fosse a Ford que tivesse tentado modificar o contrato. Não foi. Se Olívio tivesse mantido as cláusulas de Britto, o que a Ford poderia fazer???? Absolutamente nada. Repita-se a obrigaçaõ de pagar não era da Ford, mas do RS. E Olívio não pagou a primeira parcela do financiamento. Não cumpriu o que estava estabelecido no contrato. Foi Olívio e não a Ford quem quebrou o contrato.

guimas disse...

Cruzes. Essa barreira anti-Olívio que tens é de lascar, e faz tu escreveres bobagens sem fim.

"Guimas, o contrato não estava atrelado ao dólar. O financiamento era em reais. O contexto não mudou, porque a Ford fez de qualquer forma a fábrica."

Fez a fábrica com um caminhão e mais um pouco de incentivos a mais. Um contexto TOTALMENTE diferente. Legal, né. E mais: a diferença entre o que o PT ofereceu e o que Britto ofereceu é em torno de 10% do total do investimento. Por conta disso, a Ford pegou a bola e foi embora. Interessante, não?

"Se Olívio tivesse mantido as cláusulas de Britto, o que a Ford poderia fazer???? Absolutamente nada."

Claro, claro. Iam meter o rabinho no meio das pernas e ficar quietinhos... Ainda mais com um lobby gigante correndo por trás pra tirar a fábrica daqui... Sim, tudo estaria perfeito. Santa ingenuidade.

Maia, o teu bloqueio ideológico - o que chamas de ranço - te impede de ver o óbvio: a Ford recebeu uma oferta melhor e se mandou. O contexto mudou, tudo mudou. Especular o que teria acontecido se Olívio tivesse feito o mesmo que Britto é bobagem - posso dizer que se a RBS não tivesse feito uma campanha gigante pró-Ford - tivesse essa campanha sido pró-RS - as coisas seriam diferentes. A validade das especulaçoes é a mesma.

Mas deixa. Continua falando mal do Olívio, atiçando os blogueiros de "certa esquerda", que ganhas mais. Discutir com lógica não é o teu forte.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, a Ford só recebeu oferta melhor depois que o governo Olívio não cumpriu o que estava determinado no contrato celebrado com o Britto, inclusive pagamento de parcelas do financiamento. Quem quebrou o contrato não foi a Ford, mas o governo Olivio. O governo Olívio deu motivos para a Ford desistir do empreendimento no RS. A MP de FHC foi editada meses após. Guimas faça uma coisa: aceite que Olívio é socialista e anticapitalista, porque efetivamente ele é.

Carlos Eduardo da Maia disse...

E mais, Guimas, se a diferença era de apenas 10% porque o governo Olívio não bancou a fábrica? Era só manter o contrato firmado pelo Britto e liberar as parcelas. TEriamos hoje aqui em Guaíba a fábrica da Ford que está em hoje na Bahia. Burrice ideológica das grossas. O PT depois dessa grande baboseira ganhou apenas uma eleição nas cidades grandes do RS: em Canoas com o arejado Jairo Jorge. Olívio causou prejuízo ao PT, tanto que foi alijado da disputa e causou prejuízo ao RS e a rejeição do ex companheiro governador é enorme no RS. Por que ele não disputa mais uma eleição? E a culpa é da mídia malvada.... E tem gente que quer reescrever essa história com as lentes da manipulação, como faz o Weissheimer.

guimas disse...

É divertido ver como, em nome do preconceito que tens com Olívio (que não foi bom governador), fechas os olhos ao óbvio.

"Guimas, a Ford só recebeu oferta melhor depois que o governo Olívio não cumpriu o que estava determinado no contrato celebrado com o Britto, inclusive pagamento de parcelas do financiamento."

Maia, pensar isso é ingênuo, como já disse antes. A articulação para a Ford sair do RS começou assim que o PT fez menção de renegociar o contrato. Não tenta bancar o esperto. Oficialmente, recebeu proposta melhor depois, mas a negociação já corria solta antes, e todo mundo sabe (e os anti-petistas fazem de conta que não) disso.

"Guimas faça uma coisa: aceite que Olívio é socialista e anticapitalista, porque efetivamente ele é."

O que muda eu aceitar o que Olívio é? Nada! E foi exatamente isso que a Ford usou: posou de vítima!

Ouvimos diariamente nossa classe média reclamar (adequadamente) de nossa carga tributária, e como os governos jogam fora nosso dinheiro e mais blahblahblahs. Interessante como esta mesma classe média jamais questionou por que uma empresa como a Ford precisa de nosso dinheiro? E mais, nunca questionou o uso deste dinheiro?

"Ah, gera empregos e desenvolvimento, olha pra Gravataí!"

Tem certeza que é a melhor forma de aplicar a grana? Por que raios ninguém questiona isso, e aceita que a Ford era essencial e que o RS deveria se curvar aos interesses da indústria?
Toda vez que eu questiono isso, recebo um olhar vazio como resposta. É como o que escreves: vazio. Só sabes repetir que "Olívio foi o monstro que espantou a querida e amada Ford para longe!"

E o pior: essa mentalidade ainda é maioria no RS, conseguindo, inclusive, eleger Yeda Crusius. É dose!

Por fim: "Era só manter o contrato firmado pelo Britto e liberar as parcelas. TEriamos hoje aqui em Guaíba a fábrica da Ford que está em hoje na Bahia."

NINGUÉM garante isso. É apenas a tua opinião. A Ford poderia ter ido embora mesmo que tivesse recebido tudo o que Britto negociou. Simples assim. Teria ido? Não sei. Mas, a pergunta que não quer calar: Teria ido se não houvesse uma campanha anti-PT tão forte a ponto de articular a ida da Ford para a Bahia? Ou teria renegociado o contrato, como acontece em qualquer democracia do mundo, quando há uma mudança no cenário econômico brusca como a de janeiro de 1999?

Quando eu vejo que tu nem chegas perto de cogitar estas questões, e apenas repete "Olívio mau! Olívio mau!", é que vejo como foi fácil para a Ford pegar o chapéu.

E note, em nenhum ponto eu disse que o governo Olívio agiu 100% corretamente. Houve incompetência nas tentativas de renegociação? Talvez. Provavelmente. Mas com a mídia, a oposição e um lobby gigantesco do lado, pra quê a Ford ia se incomodar? Pegou o chapéu e foi embora, receber mais grana em outro lugar.

Ficaram aqui as viúvas (como tu), que preferem colocar a ideologia na frente, criticar o PT e fechar os olhos ao óbvio: a Ford não precisou renegociar nada, aproveitou que havia uma oposição política disposta a tudo (inclusive articular a ida pra Bahia), e só colheu os louros.

Simples assim. O resto é ranço ideológico. Teu, do PT e de certa esquerda.

Gelso disse...

Grande Guimas, colocou as coisas de uma uma forma asolutamente perfeita!