Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 1 de junho de 2009

Grande Dacanal


J.H. Dacanal em seu apartamento na Cidade Baixa em Porto Alegre.

Excelente crônica de José Hildebrando Dacanal no Caderno Cultura da ZH de sábado:

O faxineiro de direita*

Condomínios não são colmeias. São zoológicos de animais exóticos e variados.Eu tenho uma vizinha nova no pedaço. Ela é da minha idade, ou pouco menos. E também mais ou menos redonda, ou pouco mais. E tem uma voz grossa, como o Mateus, o travesti invertido de Beleza Pura. Dias atrás ela me encontrou no elevador. E lascou, à queima-roupa, com voz rouca:– O senhor faz o quê? Perplexo, dei uma de minhas respostas anódinas:– De tudo um pouco. De escrever livros a fazer faxina. E ela, mortal:– E o senhor faz faxina para fora? Balbuciei um “Ainda não”, e então fui salvo pelo elevador. Ela saiu. E fiquei pensando na resposta que deveria ter dado. Que talvez pudesse ser um “Sim”, porque eu não fizera nenhum grande investimento no passado, não fora preso – a não ser por uma ou duas horas, mas fora salvo por um ex-delegado do DOPS –, não aleijara inocentes, não executara ninguém, não assaltara bancos, não roubara cofres, nem fora vigarista ideológico. Portanto, não tinha qualquer direito a uma gorda indenização que me permitisse deixar de trabalhar. Além do mais, moro na Cidade Baixa e não no Moinhos de Vento, não tenho empregada, não tenho carro, a piscina de plástico do terraço apodreceu e limpo o meu próprio banheiro e, portanto, tenho na ponta da língua a resposta àquela famosa pergunta dos anos 1960: se todos forem iguais, quem limpará o banheiro do primeiro-ministro? O primeiro-ministro, ora! É que eu sou de direita. Um faxineiro de direita. E isto que eu poderia ser um ministro de esquerda... Ou ministra. Afinal, passo roupa olhando a novela das seis. Só não uso bóbis. É que não tenho cabelo.

* Texto escrito no final do ano passado e publicado originalmente no já extinto house organ de uma gráfica do Interior. “Não é ficção”, alertou o autor antes de entregá-lo à reportagem de ZH. “É tudo real, palavra por palavra. De fato, só não uso bóbis”

Bate Bola com J.H.Dacanal

10 respostas precisas para 10 perguntas escorregadias

ZH – Qual o livro da sua vida?
José Hidelbrando Dacanal – A Guerra do Peloponeso, de Tucídides.
ZH –E o escritor, ou pensador, que mais o inspirou?
Dacanal – Todos os grandes retóricos e estilistas do Ocidente: Platão (A Apologia de Sócrates), Salúcio, Cícero, Tácito, São Paulo, Demóstenes, Vieira e Santo Agostinho.
ZH – O que há de melhor e o que há de pior na literatura brasileira?
Dacanal – O melhor: Machado de Assis e Euclides da Cunha. O pior: o puxa-saquismo e a sabujice pseudo-esquerdista.
ZH – E na literatura gaúcha?
Dacanal – O melhor: Simões Lopes Neto, Mario Quintana, O Tempo e o Vento, algumas payadas de Jayme Caetano Braun e Sergio Faraco. O pior: prefiro não elencar.
ZH – Prosa ou poesia?
Dacanal – Nível, em qualquer uma das duas.ZH – Hollywood ou a novela das oito?Dacanal – A novela das seis.
ZH – Tradicionalismo ou PT gaúcho?
Dacanal – Cruz! Credo! T’escon­juro!
ZH – Depois de Riobaldo e Jesus, qual o seu próximo alvo?
Dacanal – Gostaria de escrever uma grande e moderna história do Rio Grande do Sul. Mas não tenho o preparo que a Sandra Pesavento tinha nem terei o tempo de vida suficiente. Porque não há nenhuma história do Rio Grande do Sul que tenha nível, nem minimamente uma visão tucidideana.
ZH – Se o senhor fosse um Veris­simo, deixaria o acervo de Erico aos cuidados do Instituto Moreira Salles ou confiaria o material à secretária Mônica Leal e a um dos equipamentos culturais gaúchos?
Dacanal – Sinceramente, de Erico Verissimo só me interessa a epopeia genial que é O Tempo e o Vento. O resto é dispensável.
ZH – E o fator Feijó?
Dacanal – Este é o estado a que chegamos!, como disse Barão de Itararé. Tenho um breve ensaio pronto sobre o atual momento. Procuro editor...

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