Alunas reais atuaem em "Entre os Muros da Escola"; filme expõe visão do choque de civilizações
Professor na vida real, François Bégaudeau atua em filme inspirado em seu livro
A sociedade da diversidade é complicada -- essa palavra que não diz nada, mas diz tudo. A França foi um país colonialista, montou colônias em grande parte do continente africano, na América Latina, no Caribe, nas Antilhas. E hoje paga um preço social elevado, uma vez que parte considerável dos habitantes dessa colônia possuem cidadania francesa. Quem passa por Paris sabe muito bem a impressionante quantidade de Argelinos, Tunisianos, Marroquinos, Senegaleses, o pessoal da Costa do Marfim, do Mali, das Antilhas, das Guianas que vivem por lá. Além dos imigrantes das colônias francesas, existem também outros imigrantes de outros locais, como o Brasil, os países latino americanos, a China, a India, etc... A França vive, portanto, um choque de civilizações. E esse retrato está muito bem focado no filme "Entre os Muros da Escola", disponível no Brasil em DVD e vencedor da Palma de Ouro de Cannes de 2008, que mostra a dificil relação de um professor de francês com uma aula composta por alunos de diferentes etnias, culturas e valores. O filme foi escrito e inspirado na vida real de François Bégaudeau (foto abaixo), que faz o papel do professor François Marin (Marinheiro).
Professor na vida real, François Bégaudeau atua em filme inspirado em seu livro
Lá pelas tantas, o professor usa como exemplo, em uma frase, o nome Bill. E uma menina de origem africana pergunta, por que motivos se utiliza sempre esses nomes babacas como Bill? O professor responde, Bill é apelido de um ex presidente americano. E a menina replica, por que você não usa outros nomes "mais normais" e cita nomes árabes e africanos. Outra passagem interessante do filme é quando o professor refere que a aluna, de origem muçulmana, é cidadã francesa. A aluna responde: eu não tenho nenhum orgulho disso. Em uma outra cena, o professor de história, novo na escola, consulta o professor de francês sobre livros a recomendar para a leitura dos alunos, cita os iluministas: Voltaire, Montesquieu, Diderot. E o professor de francês faz um sinal negativo na cabeça e diz: não creio que eles vão se interessar por esses livros.
A falta de limites, o desrespeito à autoridade, a diferença entre linguagens, a falta de vontade de aprender os valores da sociedade francesa, os jovens preferem utilizar a gíria do que a lingua burguesa coloquial da boa gramática, são desafios cotidianos dos professores da rede de escola pública francesa. Tem gente que torce o nariz quando há qualquer tipo de referência a "choque de civilizações". Mas isso é fato, isso existe, é faz parte do cotidiano da sociedade moderna que é cada vez mais difusa e diversificada. Como, então, educar, impor limites, fazer os alunos respeitar à autoridade?
Ponto complicado nas reuniões de professores é como punir o aluno mal educado. Advertência não adianta, quando o aluno é suspenso ele gosta porque não vai a aula. A solução, então, é a expulsão. E aquela escola, naquele ano, já expulsou 12 alunos. E na escola pública francesa, o Estado é obrigado a relocar o aluno em outra escola pública.
Apesar de todas essas "complicações", o filme mostra uma escola pública razoavelmente organizada, com professores preocupados com a violência e o aprendizado dos alunos. Outro ponto que chama a atenção é que as aulas iniciam pelas 8 horas e terminam no meio da tarde, sendo que os alunos almoçam no colégio.
É um filme interessante que trata de um assunto atual e fundamental, como anda a escola pública nos países socialmente mais desenvolvidos. E tudo é muito, muito complicado.
Hoje de manhã ouvi na rádio gaúcha um debate sobre esse mesmo tema nas escolas públicas do RS. Um professor tocou na ferida. Ele disse mais ou menos isso: depois do fim da ditadura se fez um movimento de desconstituição da autoridade e duas leis contribuíram para isso: o Estatuto da Criança e do Adolescente e a aplicação do Código do Consumidor para as escolas, como se o aluno tivesse todo o direito do mundo de um simples consumidor. Mas ele não é.
3 comentários:
Legal o o post, vou ver o filme.
Assisti ontem e recomendo, Charlie.
ATENÇÃO! Vejam essa:
27.7.09
UFJF ensina COMUNISMO no Brasil, tudo pago com recursos Públicos!
UFJF oferece cursos para militantes de Movimento Sociais
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes, está ministrando curso de Especialização em Estudos Latinos Americanos para 25 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
(...)
O curso buscou capacitar os militantes dos movimentos ligados à Via Campesina sobre lutas de resistência que tivessem como meta entender, discutir e agir a partir de uma matriz histórica latino-americana. A proposta, então, é a de recuperar o pensamento de intelectuais e militantes latino-americanos, tais como Simon Bolívar, José Martín, Che Guevara, Mariategui, atualizando-a a partir da articulação dos movimentos sociais e das lutas dos camponeses no mundo, afetados pelas políticas da OMC e das grandes empresas transnacionais.
Não deixem de ler a matéria aqui. É estarrecedor!!!
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