Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sábado, 4 de julho de 2009

Nossa Herança Portuguesa


Primeira Missa no Brasil de Vitor Meireles, 1860

Livre Releitura do Raízes do Brasil - Parte I

Estou lendo "Raízes do Brasil" de Sérgio Buarque de Holanda, primeira edição em 1936, e pretendo depositar aqui um resumo, do que acho importante, fazendo um paralelo entre os estudos do pai do Chico e o Brasil de nossos dias.

O primeiro capítulo diz respeito às Fronteiras da Europa, países como Portugal, Espanha, Rússia que estão na periferia européia e, portanto, não carregam aquele eurocentrismo dos países europeus centrais. Esse aspecto de periferia está muito presente na nossa herança, nas nossas raízes.

Somos uma nação anárquica e um dos motivos para o nosso desprezo com o que é organizado e a complicada repulsa ao trabalho é porque nossa herança ibérica aplaudia o ócio e vaiava o negócio.

Diz o pai do Chico: 'A atividade produtora é menos valiosa do que a contemplação e o amor'. Somos, então, desorganizados socialmente, diferente dos nossos irmãos do norte que foram educados pela doutrina protestante que exaltava o valor do trabalho e da organização.

Na moral portuguesa que herdamos o que importa é a honra, o que é nobre, o "proceder sisudo", a ociosidade era mais digna do que a luta pelo pão de cada dia.

Sérgio B. Holanda resume bem, essas questões, nessa parte:
"O certo é que, entre os espanhóis e portugueses, a moral do trabalho representou sempre fruto exótico. Não admira que fossem precárias, nessa gente, as idéias de solidariedade."

A solidariedade era entre os amigos, parentes, familiares, reduzida ao recinto doméstico, entre fidalgos, muito embora, frise-se, a aristocracia portuguesa era bem mais aberta do que as do centro europeu, onde o mercador, a pequena burguesia, o proprietário rural tinha direito aos títulos de nobreza.

Uma característica forte da nossa herança portuguesa é o culto à personalidade, o dever de obediência, a vontade de mandar e a disposição para cumprir. Havia, portanto, um elemento centralizador, que determinava o cumprimento das ordens que deveriam ser cumpridas. Se 'disciplina pela obediência'.

Os jesuítas - que aqui se estabeleceram e se estabelecem, pois no Brasil de hoje boa parte das escolas privadas são da Companhia de Jesus -- pregaram em relação aos índios exatamente essa noção de 'disciplina pela obediência'.

Meus avós nasceram no início do século XX e pude vislumbrar, com a convivência que tive, que essa doutrina, esse princípio da 'disciplina pela obediência' estava muito presente em suas vidas.

Diz SBH:

"Hoje a simples obediência como princípio de disciplina parece uma fórmula caduca e impraticável e daí, sobretudo, a instabilidade constante de nossa vida social.

Como esse preceito, de fato, caducou temos de procurar outras formas de disciplinar, de impor nossos limites, de racionalizar a nossa vida e nossa existência. E procuramos -- e parece que não encontramos -- nas outras culturas, 'outros povos modernos', uma fórmula, um caminho, uma via mais adequada para superamos os nossos impasses, as nossas anarquias, nossa crônica desorganização.

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