Salvador Puig Antich - Na Espanha de Franco Era Proibido Ser Canhoto

Filme espanhol, Salvador, de Manuel Huerga.


Foto de Salvador Puig Antich


Vale a pena tirar no DVD o filme Salvador sobre a vida de Salvador Puig Antich, muito bem interpretado por Daniel Brühl (ator hispano alemão que fez Adeus Lenin) , sobre a história real de um jovem da classe média catalã que, no início da década de 70, se envolve e milita em movimento político que se opõe, pela luta armada, ao regime franquista na Espanha.


A história é mais ou menos parecida com a do Gabeira do "O que é isso companheiro?" ou do Alfredo Sirkys, "Os Carbonários" sobre a ditadura militar e os movimentos tidos como subversivos de estudantes e trabalhadores, seus aparelhos, suas identidades secretas, seus encontros perigosos.



Salvador Puig ingressa no "MIL", movimento de jovens estudantes que se aproxima com o anarco sindicalismo catalão. E Salvador era chofer do grupo e atuava exatamente na fronteira entre França e Espanha, na Catalunia, trazendo armas.



Um ponto interessante do filme de Manuel Huerga é que ele mostra, com uma certa comédia, a ingenuidade dos militantes, aqueles chavões vazios, aquele pensamento pueril e piegas. Salvador e seus companheiros tentam convencer as pessoas de que aquele caminho, da luta armada, é a solução para se chegar a uma sociedade sem classes, mas não conseguem cativar ninguém, nem mesmo as namoradas de Salvador que acham aquilo tudo uma excentricidade.



Um dia um dos companheiros (Santi Soler) "caiu" e a cilada foi armada para Salvador. Ele consegue fugir, mas é capturado e, de arma na mão, ele dá uns tiros, um policial é atingido e morre.



Salvador é baleado, levado preso, mas consegue sobreviver. É instalado numa prisão perto de Barcelona. O grande azar de Salvador é que, pouco depois, o grupo basco, ETA, assassinou o "presidente do governo" espanhol, o político e militar franquista, Carrero Blanco e o fato influenciou no julgamento de Salvador Puig que foi condenado a morte.



Tudo isso ocorreu no ano de 1973. Há 36 anos. Não é tanto tempo assim. E Salvador Puig foi o última vítima do garrote vil, aquele parafuso que vai apertando a nuca até matar o vivente. O requinte de crueldade e de sadismo é imenso. Repito, isso não aconteceu na idade média, mas na Espanha em 1973. Na Espanha de Franco era proibido ser canhoto. Sim, os canhotos tinham que ter aulas para endireitar, se tornarem destros.

Poucos anos depois, o grande Almodóvar faz um filme urbano chamado "Carne Trêmula" que começa dizendo, em seu início, mais ou menos isso: a Espanha, enfim, conseguiu realizar o sonho de superar suas divergências.