O colunista Clóvis Rossi na Folha de hoje chama o Mercosul de poste. Eu concordo com ele: afinal para que serve o Mercosul? O Brasil - graças aos últimos governos FHC e Lula - conquistou nas cimeiras mundiais uma posição de relevância, no G14 e G20. Por que, então, devemos ficar atrelados a um bloco de países regionais e que pode, ainda, engessar ainda mais os interesses brasileiros com a possível entrada da Venezuela chavista no Mercosul. Aviso, nada contra a Venezuela e os venezuelanos, mas tudo contra Chávez e a chamada revolução socialista do século XXI, que é, na verdade, uma concentração de poderes em torno do executivo, inclusive no controle da mídia. Vale a pena o Brasil participar e se enquadrar nesse complicado bloco?
Diz Clóvis Rossi:
O Mercosul proporcionou, de fato, nos seus primeiros muitos anos, um impulso nas trocas de mercadorias entre os países membros, mas o ímpeto esgotou-se. (...) A expectativa era que Brasil e Argentina, os dois grandes do bloco, ombro a ombro, se tornassem mais fortes ante o "concerto das nações". (...) O fato é que o Brasil conquistou por direito próprio, independentemente do Mercosul, papel relevante no G14 e nos dois G20 (comercial e financeiro), gerentes das discussões planetárias (das discussões, mas não das soluções, o que é outra história para outra hora). O Brasil já deixou a Argentina falando sozinha nas negociações da Rodada Doha, ao aceitar proposta do mundo rico que os argentinos recusavam. Não acho que tenha sido uma atitude bonita. Sou dos ingênuos que ainda acreditam em solidariedade dos mais fortes para com os mais fracos. O problema é que a solidariedade está se transformando em abraço de afogados. O Brasil não consegue dar certos passos que são de seu interesse sem ser puxado para baixo por seus parceiros quando os interesses de cada parte divergem. O único caminho para tirar o Mercosul da catatonia seria a tal de coordenação de políticas macroeconômicas, já ensaiada uma e cem vezes, sem resultados. Fora isso, nem é preciso enterrar o Mercosul. Pode ficar por aí como obelisco a uma boa intenção frustrada.
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