Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Nossa Péssima Cerveja




Já toquei neste assunto aqui no post "Nossas Falsas Loiras Geladas de Milho", onde coloquei um artigo do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite que retorna hoje, pois escreveu um artigo na Folha, com carga total. Uma coisa parece ser certa, a cerveja brasileira, salvo poucas exceções é de péssima qualidade.


Cerveja: o orgulho de quem fatura mais

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Por que as cervejas belgas, inglesas e alemãs que usam lúpulo de boa qualidade não precisam de antioxidantes e estabilizantes?

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EM TEXTO anônimo, assinado por um certo Silvio Luiz Reichert e intitulado "A cerveja e o orgulho de quem faz o melhor" (30/ 12), a multinacional de capital estrangeiro Anheuser-Busch Inbev, proprietária da AmBev, responde ao meu artigo "A cerveja: bebendo gato por lebre" (18/12/09).

Entretanto, não responde à principal acusação, a saber, o engodo de que foi vítima o governo e o povo brasileiro pela fusão Antártica-Brahma, quebrando princípios e a legislação contra a formação de cartéis com a desculpa de que, fundidas, poderiam enfrentar a competição com multinacionais -para ser o cartel, em seguida, absorvido por empresa estrangeira. Também não foi explicada a prática perversa de coação a cervejarias nascentes para depois absorvê-las e aniquilá-las ou banalizar seus produtos. Pois bem, a mentira tem muitas faces, como se vê em seguida.


1) Maranhão, mentira bem urdida (padre Vieira, "Quinto Domingo da Quaresma"). Diz o echadiço que "a maior parte do malte utilizado pelas grandes indústrias, algo em torno de 65% ou mais, é importado. Mas isso não entrou na conta do autor". Ora, ou o trombeta não sabe ler, ou é intelectualmente apoucado, ou é mal-intencionado, ou os três, pois foi exatamente com a soma da cevada produzida no Brasil com a importada que foram feitas as minhas contas.


2) Patranha, mentira para tolos, crédulos. Afirmei e reafirmo aqui que a taxa de conversão da cevada em álcool é de 0,216 L/kg, e de milho em álcool é de 0,388 L/kg. E o sofista responde com as taxas de rendimento "na composição do extrato originário", o que nada tem a ver com conversão em álcool. Os dados, em todo caso, podem ser encontrados por exemplo no estudo "Culturas energéticas e o etanol", de Tiago Mateus. O leitor interessado também pode encontrar os dados de importação e exportação em www.cnpt.embrapa.br ou www.quercus.pt e com isso repetir os meus cálculos. Cuidado, deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), pois está sendo ultrapassado desavergonhadamente em seu recorde mundial.


3) Inverdade, eufemismo (Machado de Assis, "A Semana"). Diz o buzina que "as cervejarias brasileiras de primeira linha não usam conservante (...) porque é ilegal". Será que a legislação brasileira é diferente para cervejas de segunda linha? E quais são as cervejas de segunda linha que, de acordo com a legislação brasileira, podem legalmente intoxicar os brasileiros com conservantes?


4) Embuste, quando é calculada para enganar. Diz o passavante que conservantes não são usados por serem desnecessários. Então para que servem o antioxidante INS 315 e o estabilizante INS 405, como se lê em letras miúdas de quase todos os rótulos de cervejas da AmBev e das demais cervejarias nacionais? Será que a mudança de nomenclatura de "conservante" por seu sinônimo, "estabilizante", satisfaz o legislador brasileiro? Será que o sarabatana estaria chamando o brasileiro de analfabeto, incapaz de ler o rótulo, ou de idiota, pois incapaz de entender o que lê?


5) Patarata é mentira com basófia, ostentação. Diz o estafeta que o lúpulo que é usado no Brasil vem da Alemanha e dos EUA e, portanto, é tão bom quanto o usado naqueles países.


Mais uma vez ofende a inteligência do leitor da Folha e do brasileiro em geral. Importamos vinhos de excelente e de péssima qualidade da França, da Itália etc. Os de baixa qualidade são mais baratos. Importamos bons e péssimos filmes dos EUA.


A diversidade da qualidade do lúpulo alemão é, reconhecidamente, enorme. As cervejas americanas são quase tão "leves, refrescantes e digestivas" e homogeneamente banais quanto as brasileiras. Que o leitor experimente uma dessas vulgares cervejas americanas. (Aliás, se alguém precisa de digestivo, é melhor tomar sal de fruta Eno do que cerveja da AmBev. E o gosto não é muito diferente). Então por que as boas cervejas belgas, inglesas e alemãs que usam lúpulo de boa qualidade não precisam de antioxidantes e estabilizantes?


6) Intrujice, quando se abusa da credulidade de fraternos. E, agora, o maior dos sofismas, o abuso repugnante de um sentimento de brasilidade dentro da mesma técnica que a AmBev elabora suas indecorosas propagandas televisivas, que induzem o cidadão desavisado a consumir suas cervejas pela associação com objetos de desejos primitivos: carros de luxo, mulheres seminuas, fartos banquetes, ou seja, a peta da promessa de sucesso.


Os pífios argumentos do recadista apenas comprovam o baixo nível ético da empresa que o emprega.


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ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE , 78, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha .

3 comentários:

Fábio Mayer disse...

A cerveja brasileira é ruim (é mesmo?) pelos mesmos motivos que nossos carros são ruins e nossa internet é (extremamente) ruim, e nossa telefonia é (incomensuravelmente) ruim:

O custo e produção é contido ao máximo para maximizar o lucro, porque as empresas sabem que brasileiro não reclama e aceita de bom grado todo o embuste que lhe empurram! E quando perguntadas acerca de questões de qualidade, dizem sempre que a culpa é da carga tributária, mas não explicam porque as distribuições de lucro são sempre muito maiores de um ano para o outro, para os executivos.

Longe de ser socialista, sou capitalista até o osso. Mas o Brasil nunca foi capitalista, mesmo na cerveja, o Brasil demonstra que é socialista pra caramba: paga impostos absurdos e ao mesmo tempo, remunera um monte de gente com margens de lucro muito maiores que a de qualquer empresa similar no exterior.

Em tempo: Detesto cerveja!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Ahahaha, Fábio, vc detesta cerveja. Eu me recuso a tomar certas cervejas que existem por ai como Sol, Skol, Brahma, Antartica e Schin. Tenho bebido a Heineken, Original, Brahma Extra e olhe lá.

senna madureira disse...

Maia,

O Fabio não deve conhecer as daqui..

Parece urina velha e fedida.