Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os nós de Lula


Lula e Sarkô, no último 7 de setembro, em Brasilia.




No dia 07 de setembro de 2009, o Sarkozy desembarcou em Brasília e assistiu ao desfile de comemoração da independência em companhia de Lula. Ali, naquele momento, eles teriam fechado um acordo para o Brasil comprar os caças franceses Rafale. Sarkô embarcou para Paris feliz da vida, crente de que o negócio estava fechado, porque Lula parece tinha dado um sinal positivo. Não estava. A FAB revelou ontem, segundo a Folha de hoje, que prefere os caças suecos Gripen NG. Lula -- que está de férias na Bahia --- tem muito nó para desatar com a área militar. Além disso, o "cara"  vai ter de desenredar a amarra arquitetada por Dilma e Tarso no projeto de revisão da Lei da Anistia.


Abaixo uma boa análise feita por Igor Gielow na Folha de hoje.




Processo de escolha está em risco

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA 

Com a inclinação da FAB pelo Gripen NG para reequipar sua frota de caças, Lula ganhou um belo nó para desatar em meio à crise decorrente da tentativa do governo federal de colocar militares no banco dos réus por conta de crimes ocorridos durante a ditadura.
Isso não significa que a escolha pró-Suécia tenha algo a ver com a iniciativa. A decisão é um processo de um ano inteiro. Mas o "timing" é explosivo, por colocar em rota de colisão frontal vontades civis e militares num momento de confronto.
Mas se Lula vai pagar a conta, a culpa é só dele. A sucessão de trapalhadas a partir do anúncio antecipado, sem ouvir a FAB, da vitória do Rafale durante a visita do francês Nicolas Sarkozy no 7 de Setembro passado colocou o governo numa sinuca de bico.
A cada declaração de Lula ou Nelson Jobim (Defesa) sobre a preferência pelo caro modelo da Dassault, ficava mais evidente o problema político caso a FAB decidisse optar tecnicamente pelo Gripen ou pelo F-18. Antecipando-se, Jobim pediu à FAB para evitar fazer um ranking dos aviões.
O governo tentou convencer o público de que tal pressão favoreceria uma redução no preço do Rafale, como numa negociação sindical. Mas não se baixa o preço de um caça significativamente, até porque ele não é construído pelos governos, e sim por empresas. E nisso, o custo, a Saab sueca sempre esteve à frente com um avião menor e monomotor.
Agora, o ônus de uma opção francesa será de Lula e Jobim. A alegação está pronta: o Rafale não foi descartado, tanto que foi finalista do processo, e sua escolha respeitaria a opção estratégica do Brasil pela França como parceira militar -referendada no acordo de 2009.
Mas será difícil para os militares engolirem. E até aqui fóruns como o Congresso e o TCU não foram devidamente acionados, e o serão sobre um negócio que pode passar dos R$ 10 bilhões. O fato de um Rafale custar o dobro de um Gripen, embora sejam aeronaves com características operacionais e de produção distintas, certamente chamará atenção.
A decisão, contudo, é soberana de Lula por tratar-se de assunto de segurança nacional. Jobim chegou a levantar eventuais questionamentos jurídicos na época do anúncio precipitado, mas ele na verdade se referia à hipótese de algum concorrente querer reapresentar sua proposta após a escolha final, algo especulado por um competidor da primeira disputa dos caças, o F-X.
Na prática, a escolha é final. Politicamente, contudo, ela pode ser revista no futuro, e o governo Lula acaba neste ano.
Todo esse cenário conflituoso lembra o que antecedeu o fim, por outro motivos, do F-X -adiado em 2002 por FHC e enterrado por Lula. Como naquela ocasião, a combinação fim de governo e diversas variáveis em choque favorece uma postergação. É tudo o que temem militares e concorrentes.

Um comentário:

charlie disse...

Alguém não considera a possibilidade de corrupção nesse negócio dos aviões? Sei que a sugestão está implícita em quase todos os artigos sobre o affair, mas é realmente difícil não considerar...