Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 31 de março de 2008

"Plus ça change...' Nelson Ascher


Plus ça change


"Eu vi coisas nas quais vocês, humanos, não acreditariam", diz o andróide Roy a Deckard no final de "Blade Runner". Bom, eu também vi algumas não menos incríveis como, por exemplo, olhando da janela de um Gordini novinho em folha, a colisão de um Aero Willys com um Simca Chambord na esquina da av. Ipiranga com a av. São João. A radiopatrulha que atendeu a ocorrência era um Fusca e, entre os veículos que transitavam nas cercanias, creio que não faltavam Vemaguets, Karmann Ghias, Romizettas e Lambretas.Como o "centrão" inteiro me era familiar, desde o largo do Paissandu (onde, talvez na minha recordação mais antiga da cidade, eu pedira à minha avó que me comprasse o bonequinho com uma vassoura nas mãos que um camelô vendia) até a praça da República (na qual eu corria atrás dos marrecos), não estranhei que, com o bonde parado por causa do acidente, seus passageiros aproveitassem para, descendo e enfrentando a fila habitual, tomar o expresso tirado de uma das poucas máquinas Gaggia importadas da Itália que havia em São Paulo."O passado", escreve L. P. Hartley no início de "O Mensageiro" (The Go-Between), "é outro país" e, cinqüenta anos atrás, a região de dois ou três km2 na qual nasci e vivo era um outro planeta. A televisão familiar não o alcançou antes de eu completar seis anos, mas foi nela que assisti, em branco e preto, tanto à vitória na Guerra dos Seis Dias, como à Guerra da Biafra.Ter habitado a segunda metade do século 20 implica constatar que, malgrado alterações maiores do que as que costumavam ocorrer em meio milênio, tampouco é possível negar que "plus ça change, plus c'est la même chose" (quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam iguais).Quanto às mudanças, elas ultrapassam o enumerável. Vejamos: a vitrola mono se transformou em toca-discos estéreo, em gravador de rolo, de fita cassete, em toca-CD e em MP3 player. Nem por isso Bach, Beethoven ou Puccini saíram de moda e inclusive Elvis Presley e os Beatles se revelaram menos transitórios do que se pensava.A evolução tecnológica, no entanto, permitiu que a música ouvida na sala de estar passasse ao quarto dos adolescentes e, depois, adquirida on-line, se tornasse quase autisticamente individual e portátil. Paralelamente, os filmes que a TV transferira do cinema para casa ganharam flexibilidade espaço-temporal com o videocassete, qualidade com o DVD e praticidade com o computador pessoal. Já seus temas e o tratamento destes variaram menos do que o esperado após terem sido originalmente formulados e registrados há 2.500 anos, em grego.Embora os novos meios de transporte prometessem, por seu turno, encurtar as distâncias, o que eles comprimiram foi o tempo, e é justo que paulistanos forçados a cruzar a cidade ponham em dúvida a eficiência do automóvel cujo uso na hora do rush nem o sistema de som e o ar-condicionado tornam menos exasperador. Que voar seja agora para muitos não luxo, mas necessidade é uma contingência que submeteu as viagens aéreas a incômodos idênticos. Seria fácil multiplicar esses exemplos paradoxais que, como sempre, confirmam a única lei indiscutível da história, aquela que Marx não descobriu: a das conseqüências imprevistas.Não houve progresso? Houve. A expectativa de vida aumentou em toda parte. Vive-se mais e mais saudavelmente. Graças à economia de mercado, mais gente (em números absolutos e relativos) come mais, melhor e tem acesso a uma variedade maior. Onde há fome (na África Central, Cuba, Coréia do Norte), isso se deve aos desvarios políticos e ideológicos locais.A tais melhoras, porém, contrapõem-se estagnações e regressões igualmente significativas. Deste modo, quando o genocídio moderno que, inaugurado pelos turcos ao massacrar os armênios, atingira a condição de obra-prima com o Holocausto repetiu-se no Camboja do Khmer Vermelho e em Ruanda, o silêncio ensurdecedor foi o da indiferença generalizada. Entre outros reveses estão o anti-semitismo que, antes europeu, virou global e a "desdemocratização" provocada, na América Latina, pelo neopopulismo e, no Velho Continente, pelo Estado assistencialista.A escolha de algo capaz de desequilibrar o empate técnico acima depende sobretudo do gosto pessoal. Para mim, se o saldo melhorou marginalmente desde que estou por aqui, ou seja, se há um mínimo lucro líquido, este decorre do surgimento da internet, que, além de me permitir comprar livros novos ou usados do mundo inteiro sem me erguer de minha cadeira, deu-me acesso à biblioteca sobre a qual Jorge Luis Borges falava: a de Babel.


Artigo de Nelson Ascher publicado na Folha de hoje.
Imagem de um Simca Jangada 1962.

Para SIP, Chávez nega acesso à informação


Na Folha de hoje:
O relatório final da reunião semestral da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), encerrada ontem em Caracas, criticou duramente o tratamento dado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aos meios de comunicação críticos ao seu governo. O documento também ressaltou a onda de assassinatos de jornalistas, no México, e as ações movidas por seguidores da Igreja Universal contra a Folha como ameaças à liberdade de expressão."O governo Chávez nega reiteradamente aos meios não subordinados à sua hegemonia o direito de acesso à livre informação pública e impede aos jornalistas independentes o trabalho com as fontes e cenários controlados por organismos de Estado", diz o relatório.A SIP, que reúne empresários e editores dos meios de comunicação das Américas, acusou ainda o governo Chávez de usar as verbas da publicidade oficial com fins políticos e voltou a criticar sua decisão de não renovar a concessão da emissora oposicionista RCTV, em maio passado.Em entrevista à TV oposicionista Globovisión, o presidente da Comissão de Liberdade de Expressão da SIP, Gonzalo Marroquín, disse que a Venezuela é o país das Américas com as relações mais complicadas entre governo e imprensa.




Já o Encontro Latino-Americano contra o Terrorismo Midiático, organizado pelo governo Chávez para rivalizar com a SIP, realizou anteontem manifestação com algumas dezenas de pessoas diante do hotel onde estava sendo realizada a reunião da SIP. Pedaços de cérebro, aparentemente de gado, foram jogados na calçada.Chávez, que havia sido convidado pela SIP, não participou de nenhum dos eventos. Ontem, no programa de TV "Alô, Presidente", disse que "aqui há plena liberdade de expressão, e me parece que uma das grandes batalhas de hoje é precisamente a batalha midiática".A realização da reunião da SIP na Venezuela sofreu críticas internas de alguns dos seus membros, segundo participantes ouvidos pela Folha. Alguns teriam deixado de comparecer temendo que o evento se transformasse em "provocação" a Chávez que poderia gerar mais perseguição aos meios críticos ao governo. Outros não participaram por temor de incidentes violentos -nenhum havia sido registrado até ontem à tarde.


Serra na Frente no Datafolha


A dois anos e meio da eleição, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), lidera a disputa pela Presidência com pelo menos 16 pontos de vantagem sobre o principal adversário, o deputado federal Ciro Gomes (PSB). Segundo pesquisa Datafolha, Serra aparece como favorito nos três cenários em que é apresentado como o candidato do PSDB, com taxas que variam de 36% a 38% de preferência.O PT fica em quarto lugar em seis diferentes cenários apresentados pelo instituto.O Datafolha ouviu 4.044 pessoas de 25 a 27 de março.Segundo a pesquisa, Ciro é hoje o mais competitivo da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Contra Serra, tem 20% e 21% da preferência, variando conforme o cenário.Ciro, porém, assume a liderança, com taxas que vão de 28% a 32%, nas três vezes em que Serra é substituído pelo governador de Minas, Aécio Neves. Em dois desses cenários, Aécio fica em terceiro lugar, atrás da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL). Em outro, está tecnicamente empatado com ela. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.Sem chanceA pesquisa mostra ainda que o PT não teria chance de permanecer na Presidência se as eleições fossem hoje. No partido, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, é quem aparece como mais forte. Ainda assim, fica em quarto lugar, com 8%, quando Serra está no páreo. Nesse cenário, Serra tem 36%, Ciro, 20%, e Heloísa, 12%.Mas, lembrando a popularidade de Lula, o diretor-presidente do Datafolha, Mauro Paulino, aposta numa mudança com sua entrada em campo. "O ator principal, que é o Lula, ainda não entrou no jogo. A partir do momento em que ele defender um nome do PT, esse tabuleiro tende a mudar."Para a pesquisa, o Datafolha apresentou sete diferentes simulações. Em três delas, Serra é o nome do PSDB. Em outras três, é substituído por Aécio.Pelo PT, são alternados os nomes de três ministros: Marta, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social). Ciro e Heloísa estão em todos os cenários.Com Dilma, Serra chega a 38% contra 20% de Ciro e 14% de Heloísa. A ministra da Casa Civil fica com 3%. Contra Patrus (1%), Serra mantém-se com 38%, e Ciro atinge 21%.Marta chega a 11% no cenário em que Aécio substitui Serra. Nele, Ciro tem 28%, seguido de Heloísa (17%) e Aécio (14%).Como os adversários são os mesmos, é possível comparar o desempenho de Serra ao de Aécio. Serra atinge até 23 pontos a mais que Aécio.O Datafolha também elaborou um cenário em que os dois concorrem. Nessa hipótese -em que um deles teria deixado o PSDB- não há nome do PT. Com 34%, Serra tem larga vantagem sobre Aécio (11%).Mesmo com diferença na composição dos cenários, é possível concluir que não houve variação significativa de Serra e Aécio desde a última pesquisa (novembro). Ambos se mantêm no mesmo patamar.

sábado, 29 de março de 2008

O homem que não era bicho e o cavalo que não era homem


Essa é uma crônica de Zé Pedro Goulart, um bom cronista do cotidiano gaúcho, cuja capital, Porto Alegre é a capital da carroça. É impressionante como tem carroça em Porto Alegre.


O homem que não era bicho e o cavalo que não era homem



De modo que eu vinha guiando meu carro na rua, quando vi esse homem só de bermudas conduzindo uma carroça velha. Você não vê (ou se vê, é raro) pessoas dirigindo automóveis sem camisa, entretanto é comum homens conduzirem carroças assim - é um caso aceito. Como é aceito que índios andem despidos, ou padres usem saias. O que não é aceito é que se maltratem animais nas ruas - especialmente nessa nossa época em que os bichos são protegidos por entidades constituídas para isso - e o homem chicoteava com vigor o cavalo que puxava a carroça. Era um trabalhador na luta pelo pão de cada dia, o que poderia amenizar a situação. Mas aquilo dava pena, o animal estava judiado, quase pele e osso. Andava cabisbaixo, encilhado, amarrado, chicoteado.Parei do lado da carroça, abri o vidro elétrico e com isso perdi um tanto do ar condicionado do auto. O calor que veio da rua incendiou minha alma que já queimava de indignação. Como não sou índio, eu estava completamente vestido; e como não sou padre também, não estava com uma saia arejada. Mesmo assim, repleto de bons sentimentos, protestei. "É necessário bater nele desse jeito?". E lembrando algum aprendizado remoto na vida, conciliei: "Não dá para "mostrar" o chicote apenas?" O carroceiro me olhou e sorriu: "Ah, essa égua só anda a pau."A situação piorou: o cavalo era uma guria. Uma moça. Ou ainda, uma senhora. Quem sabe não terá tido filhos, outros cavalos que andam por aí a puxar carroças e serem chicoteados. Me deu vontade de brigar com o sujeito, mas o sorriso dele, compreensivo com meu arroubo, me desconcertou. Ele que não tinha vidro elétrico nem ar condicionado. Talvez num ato alucinado, desmedido, eu pudesse fazer-lhe uma proposta pela égua: passar a cuidar dela, dar banho, comida e, mais do que tudo, carinho. Era uma idéia maluca mas corajosa, aquela. Um movimento contrário à onda implacável e cruel do nosso destino de dor e morte. Afinal: "Há sempre uma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura", como disse Nietzsche. Aliás, reza a lenda que ele terminou de enlouquecer (terminou porque ele já vinha derretendo os fusíveis há tempos) quando viu um homem açoitando um cavalo na rua. Mas eu, sem sequer me dar o direito de endoidar, desisti. Chicoteei o pedal do acelerador e com isso acionei os mais de cem cavalos do motor do meu carro e me mandei dali. Deixando a égua, o sujeito, e aquela fatia de vida miserável para trás. "Até os mais corajosos (e nem é o meu caso) raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem". Essa também é do bigodudo.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Viajem na Excentricidade Colorida de Darjeeling


Quem quiser ver o DVD de Viagem à Darjeeling (The Darjeeling Limited) deve clicar inicialmente no curta Hotel Chevalier. No curta estão os baixinhos Jason Schwartzman e Natalie Porchman trocando desejos e falando historinhas, num simpático hotel parisiense, mas cada um vai para o seu espaço.

O espaço de Jason é um trêm na pitoresca e colorida Índia. Lá, numa cabine e tomando chá de lima, ele encontra seus dois irmãos, os atores Owen nariz torto Wilson e Adrian pianista Brody. O que eles fazem afinal, por lá? Gente, eles querem se encontrar, querem se conhecer, viver o tempo perdido, meditar o amor hindu, católico romano, se entorpecer de xaropes, medicamentos e neuroses. E todos eles são excêntricos. Muito excêntricos. Excentricidade parece ser, pelo visto, característica do diretor Wes Anderson que filmou os "Excêntricos Tenenbauns".

Todos eles querem descobrir o passado no pitoresco e colorido presente. E carregam consigo as excêntricas malas Louis Vuitton do pai morto. Os irmão se direcionam aos pés do Himalaya, num convento católico, onde medita sua mãe, que virou freira e que fugiu de todos no dia do funeral do pai. Tudo, tudo, tudo muito excêntrico.

Mas também é muito divertido. As excentricidades são divertidas. A Índia é um universo de cores chamativas, cores que contrastam na pele, nos olhos e nos dentes de seu povo. Esse exótico ambiente espiritual contrasta e realça o curso do filme que se locomove no trem que passa e cruza o imenso e populoso país. É um filme de estrada, de trilhos. E o trem se perde nos trilhos.
Lá pelas tantas uma tragédia pára o andamento de tudo e os irmãos - finalmente -se encontram. Se abraçam, se olham e se percebem. E este "encontro" se dá no funeral numa aldeia colorida e primitiva no grotão indiano. Chegou, enfim, a hora exata de descobrir os segredos do passado e se desvencilhar de suas armadilhas. Está na hora de pegar o trem que leva ao destino do ocidente, mas as excêntricas malas ficam e dentro delas a incômoda bagagem da velha história.
Recomendo o filme. É divertido e... excêntrico.

E a Verba da Dengue Diminuiu


No ano que antecedeu a epidemia de dengue no Rio, o governo federal reduziu a menos da metade a verba total do "programa de prevenção e controle da malária e da dengue" em todo o Brasil, em relação a 2006. O montante caiu 53,6%, de R$ 85,4 milhões (em 2006) para R$ 39,6 milhões (2007), em valores atualizados com base no IGP-DI. Além de ter diminuído os recursos contra a dengue, o Ministério da Saúde só aplicou efetivamente um terço do volume destinado especificamente para a doença. Segundo levantamento do site Contas Abertas, dos R$ 22,8 milhões autorizados para gastos exclusivos com a dengue em 2007, Lula só usou R$ 7,1 milhões.


Fonte: Folha de Ontem e a foto é do aedes aegypti.

Lula e Chávez Arando nos Oceanos ?


Reportagem de Fabiano Maisonnave de Caracas, publicada na Folha de hoje.


Olhem que interessante, a toda poderosa PDVSA de Chávez aumentou sua dívida em 2007 de Us$ 3 bilhões para US$ 16 bilhões. E é uma empresa estatal utilizada pelo caudilho que não tem nenhuma transparência. É por isso que aviões alugados pela PDVSA são detidos no aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires com malinhas de 800 mil dólares, na véspera da eleição de Cristina Kirschner. Isso sem falar nos dólares das FARC....


Mas a matéria é a seguinte:



Já virou rotina: a cada três meses, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez se reúnem com a expectativa de fechar um acordo definitivo sobre a refinaria de Pernambuco e depois se vêem obrigados a adiar o anúncio por falta de entendimento entre PDVSA e Petrobras. Hoje, o provável é que a parceria eventualmente se concretize, porém, as dificuldades jogam ainda mais dúvidas sobre projetos de integração mais complexos, como o Gasoduto do Sul.Ao negociar com os venezuelanos, a Petrobras enfrenta o mesmo dilema que outras multinacionais. Associar-se com a PDVSA é fazer parceria com uma empresa politizada, pouco transparente, de produção e lucros declinantes e uma dívida explosiva -só no ano passado, aumentou de US$ 3 bilhões para US$ 16 bilhões, apesar de todo o "boom" petroleiro.Por outro lado, as reservas de petróleo venezuelanas estão entre as maiores do mundo e sobreviverão mesmo que Chávez cumpra o desejo de ser presidente vitalício. Envolver a PDVSA em parcerias pode ser estratégico para o Brasil no longo prazo.Com o hiato entre o que Chávez e Lula dizem e o que se consegue fazer, projetos como a empresa Petrosul e o gasoduto da Venezuela à Argentina, correm o risco de serem enterrados no arquivo de projetos integracionistas fracassados, onde jaz a "imperialista" Alca.

L. tem 16 anos e já matou 12


L. é um adolescente de 16 anos. É franzino e quieto. Ele foi detido ontem na periferia de Novo Hamburgo, RS e confessou ter cometido 12 assassinatos nos últimos 8 meses.


Na pesquisa divulgada ontem pelo CNI/Ibope ( a mesma que deu a Lula uma imensa popularidade) 83% das pessoas consultadas defendem a redução da maioridade penal.


Estamos esperando o quê?


Será que o menor L. não tinha consciência e nem entendimento de que estava puxando o gatilho do revólver para tirar a vida de uma pessoa? Por acaso, pensava ele que estava apenas brincando de bandido e ladrão?


E a patrulha ideológica que é contra a mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente e que, coincidentemente, também é contra a o projeto de pesquisa para estudar a vida e o cérebro de menores infratores para identificar as origens do comportamento agressivo, o que diz disso?


Já se sabe que L... apanhou na infância e viu um tio matar uma pessoa quando criança. O problema de L... não é genético. Ele incorporou esses valores na sua infeliz infância. Mas isso não pode ser tocado, não pode ser revelado, é sigilo absoluto, porque .... tadinho do L....


É muita hipocrisia... E quem vai apostar as fichas que quando L.. se tornar maior -- quando ele obter, finalmente, a "consciência" da maioridade -- não vá cometer novos crimes.


Mais um triste fato deste Brasil mundo cão que cerca a periferia das grandes cidades. Como disse o David Coimbra no post acima, sobre os raios e os gordos, tudo se resolve na educação. O melhor investimento que o Brasil pode fazer é na educação.

Medo de Raio - David Coimbra


Gosto das crônicas do David Coimbra. Ele é inteligente, escreve bem, tem senso de humor e não tem ranço. Ah, ele também é gremista.

Medo de raio

Estava instalado atrás da minha mesa na redação do Jornal da Manhã, em Criciúma, pensando nas sutilezas do ponto-e-vírgula, quando aquele casal de gordos entrou pela porta. Antes que alguma ONG protetora dos gordos se ourice, esclareço que estou apenas descrevendo os dois. Podia ser um casal de baixinhos, ou de alemães muito brancos, ou de magricelas. Não era. Era de gordos. Não lembro da roupa do gordo, faz tempo isso, mas a gorda usava um vestido floreado. Tinha muitas flores no vestido da gorda, flores amarelas e tudo mais. Pararam defronte à mesa. O gordo me estendeu uma mão gorda, apresentou-se como jornalista e disse que queria trabalhar. Coincidentemente, havia uma vaga de repórter, então combinei com o gordo de fazer um teste com ele durante alguns dias. A primeira pauta que lhe dei foi sobre raios. Por algum motivo, caía um monte de raios em Criciúma, atingindo algumas pessoas, inclusive. O gordo saiu para fazer a matéria e, no fim da tarde, voltou chateado.- Gostaria que essa matéria não saísse - miou.Perguntei qual o motivo daquela estranha reivindicação, e ele respondeu que a mulher dele, a gorda, tinha muito medo de raio e, pelo que havia apurado, o bairro no qual moravam era justamente o mais atingido pelas descargas.- Se ela ler essa matéria, vai querer sair de lá - alegou.Olhei para ele por um momento e depois disse:- Cara, faz a @%$¨&¨% da matéria.Na manhã seguinte, cheguei ao jornal e a gorda estava lá, braba dentro do vestido floreado.- Essa matéria dos raios! - ralhou.Não dei bola. Fui trabalhar. Mais tarde, passei pela sala onde o gordo devia estar e vi a gorda sentada diante da máquina, escrevendinho. Chamei o gordo:- Que que a tua mulher está fazendo?- Está escrevendo a matéria.Mal acreditei:- Tu é quem tem que fazer a matéria!Ele acedeu. Mas, no outro dia, entrei na redação e quem encontro sentada à máquina, batendo furiosamente nas teclas com seus dedos roliços? A gorda de vestido floreado. Levei o gordo para um canto:- Meu, não pode isso de a tua mulher trabalhar por ti!Ele concordou. Só que, um dia depois, lá estava a gorda com aquele vestido, escrevendo a matéria do gordo. Irritei-me. Peguei o gordo e:- Por que é que tu não manda a tua mulher pra casa???Ele torceu as mãos e ciciou:- Porque lá cai raio...Tive que dispensar o gordo. Nunca mais o vi, mas sempre lembro dele, quando saem os índices de desemprego no país. Porque hoje o problema do Brasil não é o desemprego. É a falta de qualificação dos candidatos a emprego. Existem vagas, para quem está preparado, mas grande parte da população brasileira é composta por analfabetos funcionais, por gente que lê, mas não entende, por ignorantes de todos os quilates, que não sabem em que mundo vivem. O velho problema: a Educação. Ou a falta de. Foi difícil preencher aquela vaguinha no Jornal da Manhã, não aparecia ninguém muito melhor do que o gordo. Deveria mesmo era ter contratado aquela mulher dele.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O Panelaço Argentino


Do ponto de vista político, a situação é muito interessante. O que está acontecendo na Argentina hoje é a demonstração cabal de que o papel do Estado e de um governo não é alimentar conflitos e antagonismos sociais, mas procurar solucioná-los. O governo tem que procurar, SEMPRE, a convergência, a negociação. Está ocorrendo lá - e de forma um tanto autoritária -uma taxação deveras excessiva sobre produtos agrícolas que é o motor da economia Argentina, é por meio dela que aquele país se desenvolve, faz circular capital e gera divisas e receitas. Cristina Kirschner foi extremamente infeliz ao dizer que não negocia com esse setor e recebeu da classe média das grandes cidades a resposta, o panelaço. E a Argentina não é uma Venezuela. A Argentina é, ainda, um país classe média, apesar de ter empobrecido nos últimos anos. Os jornais Clarin e La Nación - acusados de PIG pelos blogs alternativos de esquerda -- apenas estão expressando -- e têm todo esse direito -- esse sentimento de contrariedade a uma política que impõe taxações, alimenta antagonismos e se recusa a negociar.

O Fracasso do Leilão da CESP


A Folha de S. Paulo resumiu muito bem, em editorial publicado hoje, os motivos do fracasso do Leilão da CESP. O governo José Serra manteve o preço mínimo da estatal elétrica em R$ 6, 6 bilhões. E esse foi o motivo principal do insucesso da licitação. O preço é muito alto e há riscos.


E o risco não é apenas da crise financeira mundial capitalizada pelos problemas econômicos americanos. O risco também é interno, tendo em vista a nossa frequente insegurança jurídica. Isso gera desconfiança.


Como a CESP tem acionistas minoritários que têm o direito de vender as ações pelos mesmos preço dos majoritário, este valor de R$ 6,6 bilhões poderia chegar a 20 bi.


Além disso, há dúvidas regulatórias, como bem referiu o editorial da Folha: As concessões das hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá, ambas instaladas no rio Paraná, expiram em 2015 e, pela norma vigente, precisam ser devolvidas à União e submetidas a outra licitação. As duas usinas, juntas, geram dois terços da energia produzida pela Cesp.


Tais incertezas afugentaram os interessados e o Estado de S. Paulo administrado pelo tucano que quer ir ao Planalto perdeu uma imensa capacidade de gerar investimentos. Poderia, por exemplo, ampliar a rede de metrô da capital - segundo o editorial, poderia construir, com este valor, três linhas inteiras.


Sou daqueles que acha que o Estado deve ser um gestor dos serviços públicos concedidos, autorizados ou permitidos à iniciativa privada. O serviço na área elétrica continua sendo público, mas sua atividade deve ser explorada pela iniciativa privada com a regulação e fiscalização estatal. Não há motivo nenhum para um Estado manter uma CESP, uma CEEE da vida. Que se privatize e que o Estado, qualquer Estado, canalize esses recursos importantes para novos investimento na infra-estrutura e na geração de empregos.

Aniversários - Kenneth Maxwell


Muito bom e interessante, como sempre, este artigo de Kenneth Maxwell publicado na Folha de hoje.
Aniversários
Dois marcos importantes foram atingidos nesta semana, sem atrair grande atenção: os cinco anos da guerra de Bush no Iraque e o fato de que o número de baixas fatais dos EUA ultrapassou 4.000. No entanto, de acordo com o "Pew Research Center for the People and the Press", a conscientização do público quanto ao número de baixas militares fatais dos EUA no Iraque recuou consideravelmente desde agosto. Hoje, apenas 28% dos adultos são capazes de dizer quantos soldados norte-americanos morreram no Iraque. Em agosto de 2007, 54% deles conseguiam identificar corretamente o número de mortos. Por que tão pouca atenção? Em parte isso resulta de fadiga de guerra. O público simplesmente deixou a guerra de lado. Também resulta de uma redução na cobertura noticiosa. Em julho de 2007, as reportagens sobre o Iraque respondiam por 15% da cobertura jornalística. Em fevereiro deste ano, o indicador havia caído a 3%. Trata-se de um resultado da percepção de que as Forças Armadas norte-americanas conseguiram mais sucesso na contenção da insurgência. A queda na cobertura de imprensa refletiu o aparente sucesso do reforço do contingente de ocupação norte-americano no Iraque desde janeiro de 2007, quando o envio de novos soldados e a adoção de uma política de impor e manter uma presença militar dos EUA nas ruas de fato reduziram substancialmente o número de baixas norte-americanas. Mas a realidade é mais complicada. Os EUA fizeram acordos com milícias sunitas e xiitas -em especial a longa trégua com a milícia do líder religioso xiita Moqtada al Sadr, que pode estar a ponto de terminar. Mark Danner, o brilhante jornalista que vem há muito revelando verdades inconvenientes para os poderosos, escreve: "Observe um mapa de Bagdá à véspera da invasão norte-americana. Os bairros das diferentes seitas eram coloridos em azul, vermelho ou amarelo, e o amarelo, que indicava bairros "mistos", predominava". Hoje, ele afirma, "o mapa é uma confusão de cores brilhantes". E por toda a cidade o amarelo pálido dos bairros mistos se foi, obliterado por estes cinco anos de conflitos sectários. Danner tem "a mais sombria das visões sombrias" quanto ao futuro. A retirada das forças norte-americanas deve causar a retomada de uma guerra civil mais brutal que nunca, com sunitas armados pelos norte-americanos em combate contra xiitas armados pelos norte-americanos, o que resultaria em um selvagem conflito regional pelos espólios do Iraque. A verdade é que, quem quer que seja eleito presidente em novembro, terá de enfrentar os assuntos inacabados do Iraque, que voltarão com toda força à posição central no panorama norte-americano.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Páginas Cubanas Bloqueadas


Blog Potro Salvaje



Outro Blog que foi bloqueado em Cuba, o Potro Salvaje que postou a seguinte e interessante mensagem:

Hemos logrado incomodar a los que trabajan en la doma del potro de la tecnología. Quieren evitar que nuestros relinchos lleguen al resto de la manada. Desde el jueves pasado nuestro Blog está presillado, acorralado, invisible y bloqueado para los lectores dentro de Cuba. Como si eso fuera un obstáculo para estos empecinados cuatreros de la Internet.
Parece que no les gustó el alboroto contagioso que lanzamos con nuestros posts. Sin embargo, todo lo que han hecho ha sido en vano. La manada ya está en estampida. Tendrán que cerrar el acceso a Internet en todas partes, declarar zona de silencio a esta Isla y cortar cada cable, cada tendedera que nos sirva para transmitir ideas. Tendrán que quemar los teclados en la Plaza, tirar los monitores desde el muro del Malecón y prohibir a los cubanos que se acerque a un ordenador. Necesitarán detectar los Cds, los USBs Flash y hasta los obsoletos disquetes, para evitar que el galopar se extienda.
Por lo pronto, estamos llamando a todos los hackers, informáticos, cibernautas y hasta ingenuos navegantes con pocos conocimientos pero con buenas intenciones, a que nos digan que deben hacer los cubanos para sacarle está presilla de encima al Potro Salvaje.


Em outro post, o Potro Salvaje nos conta como é que os cubanos acessam a internet:


En la calle O´reilly, a pocos metros de la pequeña plaza dedicada a Albear, hay un ciberlocal para los que quieran acceder a Internet o a la intranet. El precio por hora es más barato que en otros sitios, 4,50 pesos convertibles por una hora de conexión. También tienen una oferta para usar sólo correo electrónico nacional por 1.50 cuc la hora. A pesar de ser una oferta más ventajosa que los hoteles o que el servicio de Internet del Capitolio, tiene muchas limitaciones:

No es posible usar ningún dispositivo para almacenar o transportar datos (discos, disquetes, Memory Flash, etcétera)
- La cola para acceder a un PC puede demorar más de dos horas.
- No hay ninguna privacidad mientras se escribe.
- Hay que dar el nombre y el número de carné de identidad.
- El software instalado en las computadoras tiene muchas limitaciones gráficas.
- No hay acceso a ningún servicio suplementario como chats, bancos o descarga de programas.
Vida dura. E tem gente que defende o regime.

Chávez vem ao Brasil de Cozinheiro e Cães-de-Guarda



Deu na Folha de hoje:


Como costuma fazer, o presidente Hugo Chávez trará um séquito de assessores, seguranças e cozinheiros para a estadia de cerca de 24 horas em Recife. A comitiva chega a 70 pessoas. Para acomodá-los, foram reservados 50 quartos de um hotel cinco estrelas. Três andares foram destinados à comitiva, assim como uma das duas cozinhas do hotel. A comida trazida da Venezuela é mantida em segredo. Também integram a comitiva camareiras e cães-de-guarda. Chávez terá esquema semelhante em São Luís (MA), onde irá amanhã.


70 pessoas, cães-de-guara, cozinheiro.


Quem paga a conta dessa paranóia?

O Espectro do Blog Ronda o Comunismo - Elio Gaspari


Grande artigo de Elio Gaspari hoje na Folha.

O assunto foi tratado neste blog aqui e ali.

Recomendooooo!

A imagem foi pescada do blog cubano da grande Yoani Sanchez, referida por Gaspari abaixo.

Boa Luta, Blogueiros!


Espectro do Blog Ronda o Comunismo


Começou uma bonita briga, a da ditadura cubana com os blogueiros. Os septuagenários veteranos da Sierra Maestra têm uma nova guerrilha pela frente. Em vez de viver escondida no mato, ela está na rede de computadores e seu símbolo mais visível é Yoani Sanchez, uma micreira filóloga de 32 anos que publica a página "Generación Y" (1,2 milhão de visitas em fevereiro). No lugar dos fuzis, cabos, pen-drives e celulares com câmeras.À primeira vista, os velhotes têm vantagem. Havana tem um só ponto de navegação pela internet acessível ao público. Fica numa pequena sala e custa 5 dólares por hora (um terço do salário mensal da terra). Dos 11 milhões de cubanos, só 200 mil têm acesso à rede, passando pelo único provedor, que pertence ao governo. Essa modalidade de bloqueio é burlada por um mercado negro de senhas e de acessos noturnos em empresas estrangeiras ou mesmo em agências estatais. Até parabólicas clandestinas já apareceram e a maior parte delas é usada para baixar músicas ou filmes.No caso de Yoani (www.desde cuba.com/generaciony), seu blog vai completar o primeiro ano de existência e está hospedado num sítio alemão. Ela transmite suas mensagens valendo-se de algumas astúcias. Numa, fantasia-se de turista alemã, entra num hotel e despacha o texto previamente gravado. Não se pode dizer que o blog seja um palanque de dissidentes, mas, mesmo assim, no último fim de semana o Grande Irmão envenenou-o com filtros que dificultavam o acesso dos cubanos ao endereço. Yoani informa que já conseguiu se desvencilhar da macumba: "A reprimenda é tão inútil que dá pena, tão fácil de burlar que vira incentivo".A moça tem muita graça. Raúl Castro libera os eletrodomésticos e ela saúda a chegada dos aparelhos de ar refrigerado, lembrando que as torradeiras virão daqui a dois anos: "Nesse ritmo, as antenas parabólicas chegarão lá pela metade do século e meus netos conhecerão os GPS quando estiverem na adolescência". Ouvindo o discurso de posse do comandante Raúl, ela se considerou um Champollion reencarnado, decifrando os hieróglifos da pedra da Roseta, "mais fáceis de desentranhar que o estatismo tedioso da política cubana".Yoani lista outros dez blogs da ilha. Um, o Havanascity, com bonitas fotografias da cidade. Outro, "Lo que yo y otros pensamos sobre la realidad cubana", é pesado como o próprio nome. Todos carregam um certo gosto pela literatura. Lembram a lição de um engenheiro de computadores de São Petersburgo que, nos últimos meses do comunismo, recomendava: "Se você quer achar a democracia nesta cidade, procure a música".Nos anos 80 o banqueiro George Soros financiou o movimento democrático da Tchecoslováquia doando computadores, copiadoras e aparelhos de fax à Fundação Carta 77. Em 1991, durante a tentativa fracassada de golpe na Rússia, foram as máquinas de fax que garantiram a comunicação dos aliados de Boris Yeltsin. Comparados com a versatilidade da rede e dos pen drives, os equipamentos de Soros são carroças.Por enquanto, os blogs cubanos são mercadoria para consumo externo, pois na ilha eles só estão acessíveis para a nomenklatura ou a turma do mercado negro. Se Raúl Castro não puder conviver nem com isso, suas prometidas mudanças acontecerão em 2131, quando completará 200 anos.

Brasil e os Viajantes do Futuro


Brasil e os Viajantes do Futuro


Artigo de Caio Luiz de Carvalho


O Brasil, com os seus invejáveis recursos naturais, culturais e humanos, ocupa o 49º lugar no ranking da OMT (Organização Mundial do Turismo) como receptor de turistas. As perspectivas, ainda que com o câmbio desfavorável, podem ser melhores, afirma o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a partir de medidas para uma infra-estrutura aeroportuária mais competitiva e segura, regras flexíveis para a aviação, priorização do turismo interno e captação de fluxos no continente. Pesquisas mostram que, cada vez mais, as viagens serão de curta distância (76% em 2020). E o Brasil recebe apenas 17% dos sul-americanos que viajam. Em 2004, estudo do WTTC destacava questões fundamentais para o desenvolvimento do setor aéreo no mundo e já afirmava: "[os] custos futuros com o congestionamento de aeronaves e atrasos nos vôos apontam a necessidade urgente de investimentos em infra-estrutura". Entenda-se: pistas, equipamentos de segurança, esteiras. Não shoppings, mas, isto sim, tirar proveito das novas tecnologias de satélites em prol do bom funcionamento aeroportuário e controle de tráfego. O setor aéreo, segundo a OMT, responde por nada menos que 45% do total de deslocamentos no mundo. Logo, destinos que entenderem a importância estratégica do transporte aéreo terão sucesso no turismo. Para o Brasil, país-continente, é a única opção para integrar, deslocar pessoas, receber fluxos turísticos e transportar riquezas. Por isso, em São Paulo, está correta a decisão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e do governador José Serra de fazer de Viracopos um aeroporto do futuro, capaz de receber 60 milhões de passageiros em 2020, ano em que mais de 1,7 bilhão de viagens estarão acontecendo no mundo. O dobro das existentes hoje. Já a consultoria britânica Henley Centre Headlight Vision, especializada em marketing e estratégias para cenários futurísticos, prevê em outro estudo que haverá diversas tribos de viajantes por volta de 2020: a de seniores, formada por quem terá entre 50 e 75 anos; os clãs mundiais, ou pessoas que viajarão em grupos para visitar amigos e familiares por causa do crescimento da imigração em um mundo globalizado; os profissionais itinerantes, que aproveitarão horários de trabalho mais flexíveis e viagens com custos menores para morar em localidades com alta qualidade de vida; os viajantes urbanos em busca de destinos exóticos e experiências únicas; e os executivos globais de empresas, que viajam de primeira classe ou preferem alugar jatos a perder tempo e negócios. Ao abordar o futuro, fala-se na cultura da conexão permanente. Não se trata de viver em aeroportos à espera de vôos e conexões, mas de facilitar a vida do viajante com esse que será um dos itens que vai ditar as tendências do setor de turismo no mundo. Consumidores terão conhecimento sobre os mais variados serviços e exigirão tecnologias de ponta. Vão valorizar a correta gestão de recursos humanos e a qualidade da hospitalidade em seu sentido acadêmico, ao mesmo tempo em que demandarão estar conectados, de forma permanente -por meio de internet sem fio, celulares ou satélites- em busca de informação precisa onde quer que estejam e como obter as melhores condições nos preços ou roteiros. Turistas buscarão qualidade de informação para escolher uma viagem que irá, mais do que proporcionar um belo roteiro, oferecer memórias e experiências inesquecíveis objetivando a chamada FIB -Felicidade Interior Bruta. Que tem que estar presente em todas as etapas da viagem, desde a reserva até a volta para casa na retirada da bagagem transportada por um Airbus 380 com 800 passageiros. E nada de filas na imigração e cara fechada. Aconselha-se a partir já para a requalificação dos sistemas de transporte aéreo e intermodais, implantar infra-estrutura adequada nos aeroportos, ofertar mais vôos, criar modelos de deslocamentos mais rápidos a destinos sonhados e, acima de tudo, dar conforto e garantia de segurança a quem viaja e investe no segmento. É tempo de companhias aéreas inteligentes, como a JetBlue, de foco no turismo doméstico e intra-regional, de exploração de nichos e segmentos de mercado, de fidelizar e seduzir com criatividade o imaginário dos turistas que nos visitam. Ou seja, roteiros inusitados e segmentados em vez dos pacotes turísticos tradicionais. Com isso, o Brasil pode entrar na disputa pelas diversas tribos de viajantes do futuro que prometem "desequilibrar" o mercado nos próximos anos e melhorar sua posição no cenário mundial. O governo tem trabalhado e feito muito nos últimos dez anos. Mas estamos nos mesmos 5 milhões de turistas estrangeiros que recebíamos em 2000, ainda que o faturamento com o turismo interno tenha crescido. Refletir é preciso.


Artigo de CAIO LUIZ DE CARVALHO, 56, é presidente da São Paulo Turismo, professor da Fundação Getulio Vargas e da Universidade Anhembi Morumbi. Foi presidente da Embratur (1995-2002) e ministro do Esporte e Turismo (2002). Folha de hoje

terça-feira, 25 de março de 2008

Os Saudosos do Radicalismo Petista


O diário gauche anda muito indignado com o PT. O diário gauche e os medalhões do PT apoiaram o Miguel Rossetto como candidato do partido ao trono da capital gaúcha. E deu Rosário que seria ligada ao Zé Dirceu. E agora o PT de Minas quer fazer aliança com os tucanos mineiros comandados por Aécio Neves.

E o gauche faz o seguinte alerta:

Como já vínhamos chamando a atenção aqui neste blog, desde que ele foi criado há dois anos, o PT cada vez mais esquece os seus objetivos estratégicos e adota políticas pragmáticas pautadas exclusivamente por agendas eleitorais. Vai para o vinagre o PT estratégico-ideológico e passa a vigorar a linha dos que pensam a política como pura tática de ocasião. Ontem, a reunião da Executiva nacional petista decretou o novo advento do PT de resultados.

O dono deste empório precisa saber urgentemente: que estratégias e que utopias são essas que a parte saudosita do PT pretende reconstruir? Não seria, por acaso, aquelas escritas na Circular do Diretório Nacional do PT justificando sua posição frente à Constituição de 1988:

O PT como partido que almeja o socialismo é por natureza contrário à ordem burguesa, sustentáculo do capitalismo (...) rejeita a imensa maioria das leis que constituem a institucionalidade que emana da ordem burguesa capitalista, ordem que o partido justamente procura destruir.... ?
Hoje a juventude não está minimamente interessada em utopias e estratégias. Ela quer é ingressar no mercado de trabalho, ter uma boa graninha extra para tomar bons chopps na cidade baixa e comprar um carrinho de 60 parcelas, ela quer participar da farra da sociedade de consumo e do fetiche da mercadoria. O revolucionário barbudo, aquele que enche o saco de todos com discursos ideológicos, virou definitivamente uma figura do passado.

Grande Glauco


O Direito de Aprender - Marie Pierre Poirier


O direito de aprender


Marie Pierre Poirier


EM 1940, apenas 21% dos brasileiros em idade escolar estavam na escola, segundo o IBGE. Em 1960, foi atingida a marca, ainda muito baixa, de 31% de crianças e adolescentes na escola. Em 1998, alcançamos 86% e, oito anos depois, chegamos próximos da universalização do acesso, com 98% das crianças de sete a 14 anos na escola. Como o país avançou nessa área! No entanto, a cada passo, novos desafios se apresentam. Não podemos cruzar os braços diante das 660 mil crianças brasileiras ainda fora da escola -essa é a tradução em números absolutos dos 2% que parecem tão pouco. Não podemos também fechar os olhos para os milhões de alunos e alunas das escolas públicas submetidos à lógica perversa da repetência, da evasão e do abandono. A quase universalização do acesso colocou na pauta a qualidade da educação. Não é suficiente apenas abrir vagas e garantir matrícula para as crianças e adolescentes. Uma vez na escola, cada um deles tem o direito de permanecer estudando, de se desenvolver, de aprender e de concluir toda a educação básica na idade certa. Nós do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) escolhemos o "aprender" como tema central para nossa atuação no Brasil em 2008. O entendimento da aprendizagem como direito está presente na pauta das mais importantes articulações e mobilizações em torno da educação e cada vez mais direciona as políticas públicas nos três níveis de governo. Como contribuição para esse esforço, o Unicef, a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), o Ministério da Educação e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) lançam hoje os resultados de um estudo que buscou identificar boas práticas desenvolvidas por 37 redes municipais de ensino no país. A publicação "Redes de Aprendizagem" dirige o foco do nosso olhar para o compromisso essencial e estratégico de todas as redes escolares deste país: garantir o direito de aprender de cada um dos seus meninos e meninas. Localizadas em todas as regiões do país, em municípios de diferentes tamanhos, as redes públicas estudadas têm em comum tanto a inserção em contextos de vulnerabilidade social quanto os resultados no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) acima da média nacional. Isso significa que, em contextos que não facilitam a aprendizagem de alunos e alunas, essas redes conseguiram resultados acima da média na aprendizagem de leitura e matemática, aliados a bons índices de aprovação. Quais as diretrizes, quais as práticas, que tipo de atitudes inspiram e mobilizam os atores educacionais dessas redes para chegar a tais resultados? São as respostas e reflexões sobre essas questões que apresentamos na publicação. O estudo aponta dez aspectos considerados responsáveis pela boa aprendizagem pelos atores educacionais entrevistados -gestores municipais, diretores e coordenadores, professores, funcionários, famílias, comunidade e, em especial, alunas e alunos. Destacam-se a valorização do planejamento realizado de maneira coletiva e solidária, a importância da avaliação contínua e cuidadosa e a valorização criativa da leitura como pedra fundamental do aprender. Nenhuma das práticas identificadas é por essência inédita ou inovadora. O que as fortalece é o fato de terem um objetivo comum e indispensável: a garantia do direito de aprender. É possível ter educação de qualidade na escola pública? O estudo "Redes de Aprendizagem" mostra que sim. E aponta um conjunto de iniciativas que, implementadas de maneira articulada, participativa e mobilizadora, transformou escolas, redes e suas comunidades em espaços privilegiados e estratégicos de aprendizagens. São essas ações que queremos disseminar, abrindo espaços para que novas e boas práticas sejam apresentadas. E que essa reflexão e mobilização se façam sempre com o olhar voltado para o direito de aprender daqueles que são os sujeitos de direito desse processo: as crianças e os adolescentes no Brasil.

Artigo de Maria Pierre Porier publicado na Folha de hoje. Poirier tem 47 anos, graduada em relações internacionais pela Sorbonne e mestre em economia pela Universidade de Paris 2, é representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no Brasil.

*foto de Salvador Cordaro.

Um Depoimento Insosso


Assisti ontem parte do depoimento do ex presidente do Detran na gestão Yeda Crusius (PSDB) na CPI do Detran. Nada a comemorar. Flávio Vaz Netto acusou Yeda de desleal. Mas desleal por que? Flávio foi preso, algemado e colocado dentro de um camburão da Polícia Federal. Sua foto nessa situação humilhante saiu na primeira página da Zero Hora. O que Yeda deveria fazer? Manter o homem no cargo? Yeda fez bem e era exatamente o que tinha de ser feito. Mas um ponto chama a atenção nos debates de ontem: o despreparo dos nossos políticos para interrogar. E a mais despreparada foi a deputada Stella Farias (PT) que se enrolou em sua forma prolixa e agressiva de se expressar. Não arrancou nada. Ninguém ganhou e ninguém perdeu com o depoimento de ontem.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Generación Y - Desde Cuba


De regaños y paginas “presilladas”

Confieso que me ha dado por portarme mal. Me rebelo ante las órdenes, busco limones que no aparecen, exijo disculpas que nunca llegan y, gran majadería la mía, pongo mis opiniones en un Blog -con foto y nombre incluidos-. Como ven, con estos treinta y dos años –tan impertinentes- ya me viene tocando un correctivo.
Así que los anónimos censores de nuestro famélico ciberespacio, han querido encerrarme en el cuarto, apagarme la luz y no dejar entrar a los amigos. Eso, convertido al lenguaje de la red, quiere decir bloquearme el sitio, filtrar mi página, en fin, “pinchar” el Blog para que mis compatriotas no puedan leerlo. Desde hace un par de días Generación Y es sólo un mensaje de error en la pantalla de muchas computadoras cubanas. Otro sitio bloqueado para los “monitoreados” internautas de la Isla.
Mis textos, los de los otros bloggers y periodistas digitales, han hecho que la presilla de los inquisidores haga su ridículo papel. Con estas ínfulas de adolescentes rebeldes, nos hemos ganado el manotazo, el severo guiño y el regaño. Sin embargo, la reprimenda es tan inútil que da pena y tan fácil de burlar que se trueca en incentivo.
Pescado integralmente do Blog Generación Y

Cuba Censura Blog da Yoani


O Depósito do Maia é assíduo frequentador do Blog generación Y . A dinastia Castro -- e tem gente, os Emir Sader da vida, que defende esse sistema -- acabou de bloquear o acesso para o povo de Cuba deste Blog que não é chapa-branca do regime. A foto acima é da blogueira Yoani, dona do generación Y.
O blog está disponível para quem acessa fora de Cuba. Mas até quando Yoani conseguirá carregar seu blog com novas postagens?

Infelizmente, leio no Terra brasil de hoje, que as autoridades cubanas bloquearam o acesso a partir de Cuba ao blog mais lido do país, disse sua autora, Yoani Sánchez, na segunda-feira. Sánchez, cujo blog crítico "geração Y" recebeu 1,2 milhão de visitas em fevereiro, disse que os cubanos não podem mais visitar a página dela e os de outros dois blogueiros do país hospedados em um servidor alemão. Os internautas vêem apenas um mensagem de "erro no download".
"Então, os censores anônimos do nosso famélico ciberespaço tentaram me trancar em um quarto, apagar a luz e não deixar meus amigos entrarem", escreveu ela em seu blog na segunda-feira. Sánchez diz que não consegue acessar seu blog diretamente de Cuba, o que impede novas atualizações. Mas ela descobriu uma maneira de driblar os censores comunistas, por meio de uma rota diferente.
Aos 32 anos e graduada em linguística, ela conquistou um número considerável de leitores ao escrever sobre seu dia-a-dia em Cuba e descrever as dificuldades econômicas e restrições políticas que enfrenta. Ela critica as "vagas" promessas de mudança do novo líder, Raúl Castro, que assumiu o poder formalmente no mês passado, depois da renúncia do irmão Fidel. Segundo ela, ele deu passos mínimos para melhorar o padrão de vida dos cubanos.
"Quem é o próximo na fila para ganhar uma torradeira?" era o título de um blog que satirizava a derrubada das restrições à venda no varejo de computadores, aparelhos de DVD e outros utensílios que os cubanos desejavam. Apesar da mudança, as torradeiras não serão vendidas livremente até 2010.
Em um país controlado pelo Estado, sem mídia independente, Sánchez e outros blogueiros que vivem em Cuba encontraram na internet um meio de expressar-se sem amarras. "Esta rajada de ar fresco despenteou os burocratas e os censores", disse a blogueira em uma entrevista por telefone. Ela prometeu continuar com o blog. "Qualquer um com um mínimo de prática com computador sabe como contornar isso", disse ela.
O objetivo dos censores do governo é bloquear a leitura em Cuba, onde as pessoas têm acesso restrito à Internet, disse ela. "Eles assumem que não existe pensamento alternativo em Cuba, mas as pessoas vão continuar nos lendo de algum jeito", disse ela. "Nenhuma censura poderá deter as pessoas determinadas a acessar a Internet", afirma

Repórteres Sem Fronteiras


O pessoal dos Réporteres sem Fronteiras (http://www.rsf.org/) está a mil por hora. É marcação cerrada sobre a China que vai ser a sede dos jogos Olímpicos de 2008. Segundo o RSF, a China é o maior cárcere do mundo para jornalistas e internautas.

Hoje, quando a chama olímpica foi acesa, em Olympia na Grécia, três representantes dessa entidade abriram esse painel com a imagem das algemas no lugar dos arcos das olimpiadas.

A China é uma potência, uma grande parceira comercial e, por isso, o mundo inteiro faz vistas grossas à falta de liberdade de imprensa e aos problemas do Tibete. O governo chinês centraliza e controla toda a mídia, através do Departamento de Propaganda que impõe censura sob numerosos temas. Além disso, o Estado chinês tem leis autoritárias para castigar os contraventores (jornalistas e internautas). Não existe na China um pluralismo informativo.

Fonte: aqui.


Três Tigresas e Uma Arrogância


O diário gauche gosta de atirar pedra na Casa Grande, leia-se o jornal Zero Hora.

É que a ZH publicou recentemente uma matéria com as três candidatas de esquerda à prefeitura de Porto Alegre: Manuela Dávila (PCdoB), Luciana Genro (PSOL) e Maria do Rosário (PT).

E o gauche descarrega:

Três Tigresas Tristes
O que o jornal Zero Hora fez com as três candidatas – nominalmente de esquerda – à prefeitura de Porto Alegre não se faz nem com cães sarnosos. Esvaziou-as ainda mais dos seus ralos conteúdos políticos e preencheu-as com a palha seca da frivolidade e do decadentismo de espetáculo.
Transformou-as em três tigresas tristes de papel. Nivelou três vidas dedicadas à luta política ao denominador comum do caderno feminil Donna – que edita o olhar feminino canalizado para o consumo de moda, comésticos e mundanidades da hora. Na mesma linha mercadológica do concurso de beleza juvenil promovido pela RBS Eventos chamado “Garota Verão”, onde meninas são objeto de apreciação espetacularizada dos seus dotes físicos, e veículos privilegiados da venda de mercadorias e formação retrô de imaginários romantizados e fantasiosos do papel social da mulher.
Rosário (PT), Luciana (PSOL) e Manuela (PCdoB), hoje, estão sendo rebaixadas no diário da RBS: de mulher-sujeito que cada uma é, ficam irremediavelmente reduzidas a mulher-objeto, submetidas a um processo de pasteurização e liofilização que visa apresentar-lhes como produtos exóticos (mulheres-que-fazem-política-e-de-esquerda), mas inofensivos à ordem passiva da classe média guasca.
“Luciana e Rosário não se aventuraram pelas mais de 2,5 mil páginas de ‘O Capital’, de Marx. Manuela tentou, mas confessa que não entendeu.” - tranqüiliza o jornal.
Agora, as três receberam o carimbo da inspeção RBS de qualidade: estão aprovadas para concorrer às eleições de outubro, não abalarão nenhuma estrutura e nenhum pilar da sociedade branca e classe média de Porto Alegre. Obtiveram o selo de confiança do PIG local.
Surpreende é que essas filhas ou netas de Simone de Beauvoir e do movimento social das mulheres da segunda metade do século 20 (o mais bem sucedido movimento social do século passado) sejam fisgadas de forma tão simplória por componentes narcísicos que ainda não conseguem dominar racionalmente. A RBS lhes acenou a cenourinha skinneriana dos três V’s (vaidade, visibilidade e voto) e elas caíram no truque, abrindo mão de conquistas coletivas ao qual não estavam autorizadas a fazê-lo.
Coisas da vida.

Comentário:
É impressionante como certa esquerda tem dificuldade em aceitar que a vida não é apenas ideologia. As pessoas têm seus gatos, seus cães, seus programas de tvs favoritos, suas receitas caseiras, seus hobbies, suas diversões, suas leituras de cabeceira. E se um jornal publica aspectos da vida do dia-a-dia, a patrulha ideológica coloca a boca no trombone e avisa: estão querendo "desideologizar" a luta política. Ou seja, o que importa, o que apenas importa é a construção da "história já determinada" e que se faz pela luta social. Tudo que não rimar com o chavão é o resto: são frivolidades, esquisitices e futilidades. É por isso -- exatamente por isso -- que quando essa esquerda chega ao poder ela gosta de determinar as prioridades, assim como se faz em Cuba que não permite que seus cidadãos acessem a internet de suas residências, porque não é importante. Essa esquerda se acha legítima detentora da boa moral, da boa idéia e da boa lógica e se coloca acima do bem e do mal. Se isso não é arrogância, o que é arrogância?

A Prisão de Cacciola


Na Coluna da Mônica Bergamo de hoje, detalhes interessantes da prisão de Salvatore Cacciola em Mônaco:


Os advogados do ex-banqueiro Salvatore Cacciola já têm pronto recurso para apresentar ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em Estrasburgo, caso a Justiça de Mônaco decida autorizar sua extradição para o Brasil. E, caso ela seja negada, devem abrir ação de indenização "bilionária" contra o governo brasileiro.

Os advogados brasileiros de Cacciola ficaram impressionados com o tratamento gentil que receberam na prisão do ex-banqueiro, a Maison d'Arrêt, que fica no centro histórico de Mônaco. "Fumante ou não fumante?", perguntaram os carcereiros antes de providenciarem uma sala para que Carlos e Guilherme Eluf se encontrassem com o cliente.

O banqueiro usa sempre um moletom azul-marinho, camiseta branca "de boa qualidade", tênis e meia esportiva. Tem acesso a biblioteca, sala de fisioterapia e ginástica. Seu quarto tem banheiro próprio e frigobar. Pode comprar revistas e jornais de qualquer parte do mundo, além de encomendar refeições em bons restaurantes -o que Cacciola não faz com freqüência já que, como descreveu aos advogados, a comida da Maison d'Arrêt é melhor que a dos melhores restaurantes de SP. As despesas são descontadas de conta bancária aberta em seu nome. "O preso é tratado com dignidade", diz Eluf.

A Direita e o Lulismo - Fernando Barros e Silva


A direita e o lulismo


A chegada de Lula ao poder seguida da ruína moral do petismo serviu de trampolim para impulsionar uma nova direita no país. É um fenômeno de expressão midiática, mais do que propriamente político. Está disseminado em jornais, sites, blogs, na revista. E deve sua difusão aos falcões do colunismo que se orgulha de parecer assim, estupidamente reacionário.Mesmo que a autopropaganda seja enganosa e oculte que até ontem o conservador empedernido de hoje comia no prato da esquerda, que é só um "parvenu", um espertalhão adaptado aos tempos -ainda assim, temos aqui uma novidade.Essa direita emergente já formou patota. Citam uns aos outros, promovem entrevistas entre si, trocam elogios despudorados. Praticam o mais desabrido compadrio, mas proclamam a meritocracia e as virtudes da impessoalidade; são boçais, mas adoram arrotar cultura.É uma direita ruidosa e cínica, festiva e catastrofista. Serve para entreter e consolar uma elite que se diz "classe média" e vê o país como estorvo à realização de seu infinito potencial. Seus privilégios estão sempre sob ameaça e agora a clientela de Lula veio azedar de vez suas fantasias de exclusivismo social.Invertemos a fórmula de Umberto Eco: enquanto a direita anuncia o apocalipse, os integrados, sob as asas do lulismo, são testemunhas vivas do fiasco do pensamento de esquerda neste país. Não me lembro de ter visto antes a mídia estampar com tanta clareza os passos da regressão social de que participa.Do lado oficial, há um ambiente paragetulista de cooptação e intimidação difusas, se não avesso, certamente hostil às liberdades de expressão e de informação.Na outra ponta, um articulismo de oposição francamente antinordestino e preconceituoso, coalhado de racismo e misoginia, que faz do insulto seu método e tem na truculência verbal sua marca. Deve-se a ele o retorno da cultura da sarjeta e do lixo retórico, vício da imprensa nativa que remonta ao Império, mas que havia caído em desuso.

Angeli


domingo, 23 de março de 2008

O Moderno e o Pré-moderno - Antônio Cícero


Qualquer homem moderno, medianamente culto, e que viva numa sociedade aberta, consideraria intolerável que lhe fosse negada a perspectiva de ascensão social, de viajar, de se mudar ou de mudar de profissão.Naturalmente, o fato de que o homem moderno não possa admitir tal imobilidade não significa que ele seja mais feliz -no sentido de mais contente- do que o homem pré-moderno. Ao contrário: quando nem a possibilidade de mudança, nem o suicídio são concebíveis, não há alternativa senão contentar-se com o que se é e o que se tem.Para o homem que nasceu em determinada casta, não existe a possibilidade, nem em pensamento, de mudar para outra. A casta em que nasceu faz parte do seu ser tanto quanto a família à qual pertence ou o seu próprio corpo; e é desse modo também que ele pertence à religião em que nasceu. Sua vida possui, portanto, uma estabilidade social impensável para o homem moderno. Logo, tal homem é contente, no sentido de ser livre da frustração de querer ser, ter ou saber mais do que aquilo que supõe convir a quem nasceu em sua casta.Já o homem moderno, faustiano, não conhece limites pré-estabelecidos. Em princípio, tudo lhe é possível. E não é apenas de maneira abstrata que ele pressente as infinitas possibilidades de transformação da sua vida, mas elas lhe são mostradas constante e concretamente através do cinema, da televisão, da internet, da cidade, das vitrines, do teatro, dos jornais e revistas, dos livros etc.Ora, sendo infinitas as suas possibilidades e finita a sua realidade, o homem moderno não pode deixar de conhecer intimamente a frustração, ao passo que mal conhece a segurança da estabilidade social ou a felicidade do contentamento. Isso não significa necessariamente que ele inveje o homem pré-moderno.O Fernando Pessoa de "Mensagem", por exemplo, afirma a superioridade do seu espírito moderno nas palavras: "Triste de quem é feliz! / Vive porque a vida dura. / Nada na alma lhe diz / Mais que a lição da raiz / Ter por vida a sepultura".Mas nem todos pensam assim e, para muitos dos nossos contemporâneos, são sobretudo a instabilidade e as múltiplas frustrações que pesam. De qualquer maneira, serão essas, sem dúvida, as razões pelas quais é tão forte, no mundo moderno, a nostalgia pela comunidade tradicional. As religiões prometem não só felicidade e contentamento no outro mundo, mas a estabilidade de uma solidariedade comunitária aos que renegam a sociedade moderna, tida por caótica, atéia, infernal. O fascismo e o nazismo se alimentaram em grande parte do anseio por condições de vida mais estáveis, comunitárias.Friedrich Engels que, como Karl Marx, aplaudia a destruição pelo capitalismo das comunidades tradicionais, mas sonhava com uma espécie de síntese futura entre a sociedade e a comunidade, queixa-se, em "A Condição da Classe Trabalhadora na Inglaterra", de que, em Londres, "a multidão das ruas já tem, por si só, algo de repugnante. [...] Essas pessoas se cruzam correndo, como se nada tivessem em comum, nada a fazer juntas. [...] Essa indiferença brutal, esse isolamento insensível de cada indivíduo no seio dos seus interesses particulares são tanto mais repugnantes e ferinos quanto maior é o número de indivíduos confinados num espaço reduzido."Mas nem sempre é tão negativamente que o homem contemporâneo se relaciona com a grande cidade. Charles Baudelaire, por exemplo (cuja relação com a grande cidade era bastante ambígua), diz que "estar fora de casa e no entanto se sentir em toda parte em casa: ver o mundo, estar no centro do mundo e continuar escondido do mundo, tais são alguns dos prazeres menores desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que a linguagem só inadequadamente consegue definir".Felizmente o homem moderno é também capaz de se dar conta de que, mesmo se a realidade é finita, ela nunca está definida de uma vez por todas e jamais deixa de ser, de algum modo, surpreendente; e ao viajar, através da arte, do pensamento, do conhecimento, da imaginação -e das ruas, dos espaços, dos mares, dos céus- ele é capaz de conhecer incontáveis possibilidades que enriquecem a sua vida finita, tornando-a virtualmente infinita.Proust dizia, por exemplo, que um belo rosto que passou "é como o encanto de um novo país que se nos foi revelado por um livro. Lemos seu nome, o trem vai partir. Que importa se não partimos, sabemos que existe, temos uma razão a mais para viver".


sexta-feira, 21 de março de 2008

Orquestra Imperial - Fita Amarela




Orquestra Imperial é DEZ.

Oi, Negrinho



Contraí a mania de chamar os outros de negrinho, tempos atrás. Uma pequena amabilidade:- Tudo bem, negrinho?Certo. Uma tarde, espetei o cotovelo no balcão do bar da Redação e perguntei à atendente:- Salta um expresso bem quente aí, negrinha?Ela me olhou de viés.- Aqui ainda não é a senzala - ralhou.Fiquei boquiaberto, constrangido e surpreso, tudo ao mesmo tempo.- Falo assim com todo mundo - tentei explicar. E acrescentei: - Nem tinha percebido que tu és negra...Depois pus-me a pensar: aquela palavra, "negrinho", seria indício de que havia traço de racismo em mim? Pensei, pensei e concluí que não. Sempre desprezei racistas, fascistas, nazistas et caterva. Mas, por segurança, passei a usar o velhinho, que nem o Pernalonga:- Tudo bem, velhinho?O incidente me fez refletir sobre isso de formas de tratamento. A moça do bar se ofendeu quando a chamei de negrinha. Mesmo que não tivesse a mínima intenção discriminatória, não podia censurá-la - sabe-se lá o que já enfrentou por ser negra e pobre. Mas o ocorrido me deixou inseguro: um negro pode se magoar se o chamo de negro, outro se o chamo de preto, um terceiro se o chamo de crioulo e chamar alguém de afrodescendente, por favor!, seria como chamar o Alemão do Girasole de germanodescendente, não tem cabimento.Só que tem o seguinte: esse desconforto não é ruim. É sinal de que existe baixa tolerância ao racismo. Que os negros, afinal, estão reagindo.O sistema de quotas nas universidades pode ser enquadrado nessa categoria. Trata-se de uma reação, de certa forma. Uma compensação por todo o sofrimento infligido aos negros no país por pelo menos três séculos.O problema é que não parece a compensação mais inteligente. A evasão escolar no segundo grau atinge 46% dos alunos. Assim, o sistema de quotas atinge pouquíssima gente que já está entre uma minoria - a dos candidatos a vagas universitárias. E pode originar um universitário de segunda classe, visto com preconceito pelo empregador. Pode, também, despertar os piores sentimentos em algumas pessoas, e até já anda despertando.Existe, porém, um jeito de resolver a questão. É o colégio. O ensino básico e fundamental. Os investimentos e os esforços dos governos tinham de ser canalizados para a escola. Escolas onde a criança permanecesse o dia inteiro, sendo alimentada, praticando esportes, aprendendo artes, recebendo assistência e, sobretudo, recebendo ensino de qualidade, que rivalizasse com a rede privada. Alguém dirá que é impossível. Ora, isso já existiu. Há não muito tempo, as escolas públicas eram melhores do que as privadas. Eu mesmo só estudei na rede pública, em ótimos colégios, com excelentes professores dos quais ainda sinto saudade.O negro, o pobre, o branco, o japonês, qualquer um que freqüente uma boa escola pública, chegará à margem da universidade em condições de disputar vaga com o filho do abastado, a despeito de cursinhos preparatórios e professores particulares. É com as crianças que o Brasil tem de se preocupar. É pelas crianças que haverá de se salvar.


* Artigo de David Coimbra da Zero Hora de hoje. Foto de Ricardo Azouri

quinta-feira, 20 de março de 2008

As Desculpas (Esfarrapadas) de PHA


Paulo Henrique Amorim gosta de comer gato por lebre. Ele é o rei das desculpas esfarrapadas.

Por que será que ele foi demitido do IG que pertence a Brasil Telecom - que é controlada pelos fundos de pensão das estatais (Funcef, Petros e Previ) e que são administradas pelos companheiros que têm íntima relação com o governo do PT?

O próprio PHA admite isso ao afirmar:

Aqui no Brasil, receberão uma copia os presidentes dos fundos Funcef, Petros e Previ – que são do bloco controlador da Brasil Telecom -, a presidente da CVM, o presidente da Bolsa de Valores, e a Ministra Dilma Rousseff que, segundo o PIG, é quem coordena a criação da “BrOi”.:


Mas nada disso importa, porque PHA coloca a culpa de sua demissão no PIG, no Daniel Dantas, no tucanato e no Citibank. Ora, carambas, a participação do Citibank na Brasil Telecom e no IG (que agora virou PIG) é pequena, não é majoritária. Assim como a participação de Daniel Dantas que está bem longe do poder da Brasil Telecom.

Esfarrapadas desculpas de um campeão de demissões.

Grande Angeli


O Tolo na Colina - Kenneth Maxwell


O tolo na colina

Os economistas conservadores que há muito defendem a idéia do "risco moral" estão vivendo uma semana de negação. Um exemplo seria David Malpass. Ele ocupou posições econômicas nos governos Reagan e Bush (pai). Em abril de 2007, escreveu na "Forbes.com" que "governos causam recessões, não o setor privado". Também argumentou que "uma desaceleração no setor de habitação (...) poderia ser facilmente absorvida por meio do crescimento de outras áreas da economia". Ele é (ou era) economista-chefe do Bear Stearns, o banco de investimento norte-americano resgatado no final de semana pelo banco central dos Estados Unidos, que abriu uma linha de crédito de US$ 30 bilhões para que o JPMorgan Chase pudesse adquirir a instituição ao preço ínfimo de US$ 2 por ação -e na prática assumiu a responsabilidade pelas carteiras de investimentos sem valor administradas pelo banco. Eis como Malpass definiu "risco moral" em um artigo: "[O risco moral] representa as conseqüências negativas de proteger demais as pessoas contra prejuízos (...) no setor financeiro, isso acontece quando os bancos centrais oferecem liquidez adicional durante e depois de uma crise financeira, estabilizando o sistema financeiro, mas recompensando as pessoas que tenham assumido riscos superdimensionados". Bem... Sim! George W. Bush também sempre defendeu os mercados desregulamentados até que o mercado desabe, claro. Mas governos falidos vêm praticando esse velho truque desde que surgiram os governos organizados. Antigamente, o processo era conhecido como "degradação da moeda". A casa da moeda secretamente reduzia o teor de metais preciosos nas moedas que produzia; e posteriormente ficava tentando imaginar por que o valor da moeda despencava. Agora os bancos centrais imprimem dinheiro para resgatar especuladores, e os governos permitem que as moedas percam valor. Mas, para o patrimônio do cidadão comum, esses resgates e remendos produzirão os mesmos ruinosos resultados que sempre produziram: uma queda no patrimônio líquido das famílias médias, causada pela queda dos ativos pessoais, poupança e fundos de pensão e pela necessidade de enfrentar uma alta na inflação. Assim, por que George W. Bush está feliz a ponto de dançar nos degraus da Casa Branca? Talvez ele tenha se lembrado da melodia e da letra de "Fool on the Hill", o velho clássico dos Beatles: "Dia após dia, sozinho na colina/ O homem do sorriso tolo se mantém completamente imóvel/ Mas ninguém quer conhecê-lo/ Vêem que ele não passa de um tolo."


Artigo de Kenneth Maxwell publicado na Folha de hoje.

Cinqüentão começa corrida de Paris a Pequim


Philippe Fuchs, um engenheiro de minas de 57 anos, começou em Paris um périplo de cerca de 10 mil quilômetros em direção a Pequim. Ele pretende chegar à capital da China no mês de agosto, na época dos Jogos Olímpicos. Para isso, planeja correr me média 85 quilômetros por dia durante 20 semanas.
Fuchs já tem no seu currículo façanhas como os percursos Paris-Barcelona e Paris-Atenas. Com essas experiências, ele afirma que não teme o cansaço. "Isso pode parecer surpreendente, mas o esforço que terei de fazer não será tão intenso como vocês imaginam. Se vocês pensarem no que fazia um mineiro ou um agricultor há um século e meio, antes da mecanização do trabalho, eles tinham que se esforçar muito mais do que nós", declarou Fuchs à agência Reuters antes de sua partida, em Paris, na sexta-feira passada (foto).
"Tenho uma passada bem curta, perto do chão, muito econômica e uma grande facilidade de recuperação", acrescentou.
Patrocinado pela Dassault Systémes, o desafio a ser enfrentado por Fuchs servirá também para estudos científicos. Seu pé será acompanhado em três dmensões e serão observadas as conseqüências da fadiga e das contrações físicas durante uma corrida de longa distância.
A análise dos resultados poderá ajudar a melhorar a concepção de próteses, o desenvolvimento de novos modelos de sapatos esportivos ou a elaboração de programas de treinamento para esportistas de alto nível.


Pescado integralmente do Blog do Rodolfo Lucena.