Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 24 de março de 2008

Três Tigresas e Uma Arrogância


O diário gauche gosta de atirar pedra na Casa Grande, leia-se o jornal Zero Hora.

É que a ZH publicou recentemente uma matéria com as três candidatas de esquerda à prefeitura de Porto Alegre: Manuela Dávila (PCdoB), Luciana Genro (PSOL) e Maria do Rosário (PT).

E o gauche descarrega:

Três Tigresas Tristes
O que o jornal Zero Hora fez com as três candidatas – nominalmente de esquerda – à prefeitura de Porto Alegre não se faz nem com cães sarnosos. Esvaziou-as ainda mais dos seus ralos conteúdos políticos e preencheu-as com a palha seca da frivolidade e do decadentismo de espetáculo.
Transformou-as em três tigresas tristes de papel. Nivelou três vidas dedicadas à luta política ao denominador comum do caderno feminil Donna – que edita o olhar feminino canalizado para o consumo de moda, comésticos e mundanidades da hora. Na mesma linha mercadológica do concurso de beleza juvenil promovido pela RBS Eventos chamado “Garota Verão”, onde meninas são objeto de apreciação espetacularizada dos seus dotes físicos, e veículos privilegiados da venda de mercadorias e formação retrô de imaginários romantizados e fantasiosos do papel social da mulher.
Rosário (PT), Luciana (PSOL) e Manuela (PCdoB), hoje, estão sendo rebaixadas no diário da RBS: de mulher-sujeito que cada uma é, ficam irremediavelmente reduzidas a mulher-objeto, submetidas a um processo de pasteurização e liofilização que visa apresentar-lhes como produtos exóticos (mulheres-que-fazem-política-e-de-esquerda), mas inofensivos à ordem passiva da classe média guasca.
“Luciana e Rosário não se aventuraram pelas mais de 2,5 mil páginas de ‘O Capital’, de Marx. Manuela tentou, mas confessa que não entendeu.” - tranqüiliza o jornal.
Agora, as três receberam o carimbo da inspeção RBS de qualidade: estão aprovadas para concorrer às eleições de outubro, não abalarão nenhuma estrutura e nenhum pilar da sociedade branca e classe média de Porto Alegre. Obtiveram o selo de confiança do PIG local.
Surpreende é que essas filhas ou netas de Simone de Beauvoir e do movimento social das mulheres da segunda metade do século 20 (o mais bem sucedido movimento social do século passado) sejam fisgadas de forma tão simplória por componentes narcísicos que ainda não conseguem dominar racionalmente. A RBS lhes acenou a cenourinha skinneriana dos três V’s (vaidade, visibilidade e voto) e elas caíram no truque, abrindo mão de conquistas coletivas ao qual não estavam autorizadas a fazê-lo.
Coisas da vida.

Comentário:
É impressionante como certa esquerda tem dificuldade em aceitar que a vida não é apenas ideologia. As pessoas têm seus gatos, seus cães, seus programas de tvs favoritos, suas receitas caseiras, seus hobbies, suas diversões, suas leituras de cabeceira. E se um jornal publica aspectos da vida do dia-a-dia, a patrulha ideológica coloca a boca no trombone e avisa: estão querendo "desideologizar" a luta política. Ou seja, o que importa, o que apenas importa é a construção da "história já determinada" e que se faz pela luta social. Tudo que não rimar com o chavão é o resto: são frivolidades, esquisitices e futilidades. É por isso -- exatamente por isso -- que quando essa esquerda chega ao poder ela gosta de determinar as prioridades, assim como se faz em Cuba que não permite que seus cidadãos acessem a internet de suas residências, porque não é importante. Essa esquerda se acha legítima detentora da boa moral, da boa idéia e da boa lógica e se coloca acima do bem e do mal. Se isso não é arrogância, o que é arrogância?

Um comentário:

PoPa disse...

Eu achei horrível o título da reportagem, querendo aproveitar-se do título de um filme, mas isto é coisa para redator discutir.

Sobre o dito pelo Diário, é uma grande bobagem querer que as pessoas sejam "comunistas" o tempo todo! Que fiquem pensando "no povo" durante 24 horas do dia. Lembro-me de uma entrevista do Lula, muito tempo atrás, em que ele se queixava que o partido não deixava ele participar de festas, ir a restaurantes e coisas do gênero, ter uma vida classe média, enfim. Precisava manter a imagem de operário. Talvez isto explique um pouco o deslumbramento dele agora...