A invasão dos EUA ao Iraque completa agora cinco anos. A guerra no Afeganistão já tem mais de seis. A proposta de orçamento militar do governo Bush para 2009 é de US$ 515 bilhões, um recorde na seqüência de aumentos reais de seus dois mandatos. Isso sem contar os créditos suplementares já aprovados para sustentar as duas guerras, um valor superior ao próprio orçamento proposto. Descontada a inflação, é um orçamento anual próximo do que foi gasto durante a Segunda Guerra Mundial. A política social mais agressiva proposta pelas candidaturas democratas diz respeito à universalização da saúde. Custaria a cada ano entre US$ 50/65 bilhões (Barack Obama) e US$ 110 bilhões (Hillary Clinton). Para proteger os proprietários mais pobres da crise imobiliária, Hillary Clinton propõe um fundo de crédito de US$ 1 bilhão. Obama prevê US$ 10 bilhões. Por aí já se vê o quanto essas duas guerras são decisivas também do ponto de vista do Orçamento dos EUA. Só que não são mais um tema central da campanha presidencial. As duas candidaturas democratas prometeram muito vagamente "trazer as tropas de volta". Não falam em prazos nem em números. O indicado republicano fala de sucesso e de vitória. O conservadorismo dos anos Bush pode ter sido neutralizado no momento. Mas os efeitos de seu governo serão sentidos por muito tempo ainda. E uma das armadilhas é justamente a da necessidade de orçamentos militares crescentes. A invenção da chamada guerra preventiva vem junto com ocupações longas e custosas. O grande êxito de Bush foi o de ter conseguido tornar naturais as guerras que promoveu. Lê-se todos os dias sobre bombas e mortes no Iraque e no Afeganistão como se lê sobre um terremoto em um lugar distante e desconhecido. O complexo militar dos EUA aprendeu bem a lição do Vietnã. Com um exército profissionalizado e estratégias para minimizar ao máximo as baixas, não é mais só o caso de entrar para vencer militarmente. Hoje, a superioridade tecnológica garante isso com relativa facilidade. O segredo é entrar em uma guerra para não sair. Nessa lógica, é fundamental manter frentes militares permanentes. Além de deixarem patente para o resto do mundo o próprio poderio, os Estados Unidos garantem com isso "campos de teste e de treinamento" para tropas e armamentos. Bush precisou do cataclismo do 11 de Setembro para instituir essa nova estratégia bélica. Vai ser preciso mais do que uma eleição presidencial nos EUA para conseguir desmontar a idéia de que guerras são coisas naturais.
Artigo de Marcos Nobre, publicado na Folha de hoje.
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