Os economistas conservadores que há muito defendem a idéia do "risco moral" estão vivendo uma semana de negação. Um exemplo seria David Malpass. Ele ocupou posições econômicas nos governos Reagan e Bush (pai). Em abril de 2007, escreveu na "Forbes.com" que "governos causam recessões, não o setor privado". Também argumentou que "uma desaceleração no setor de habitação (...) poderia ser facilmente absorvida por meio do crescimento de outras áreas da economia". Ele é (ou era) economista-chefe do Bear Stearns, o banco de investimento norte-americano resgatado no final de semana pelo banco central dos Estados Unidos, que abriu uma linha de crédito de US$ 30 bilhões para que o JPMorgan Chase pudesse adquirir a instituição ao preço ínfimo de US$ 2 por ação -e na prática assumiu a responsabilidade pelas carteiras de investimentos sem valor administradas pelo banco. Eis como Malpass definiu "risco moral" em um artigo: "[O risco moral] representa as conseqüências negativas de proteger demais as pessoas contra prejuízos (...) no setor financeiro, isso acontece quando os bancos centrais oferecem liquidez adicional durante e depois de uma crise financeira, estabilizando o sistema financeiro, mas recompensando as pessoas que tenham assumido riscos superdimensionados". Bem... Sim! George W. Bush também sempre defendeu os mercados desregulamentados até que o mercado desabe, claro. Mas governos falidos vêm praticando esse velho truque desde que surgiram os governos organizados. Antigamente, o processo era conhecido como "degradação da moeda". A casa da moeda secretamente reduzia o teor de metais preciosos nas moedas que produzia; e posteriormente ficava tentando imaginar por que o valor da moeda despencava. Agora os bancos centrais imprimem dinheiro para resgatar especuladores, e os governos permitem que as moedas percam valor. Mas, para o patrimônio do cidadão comum, esses resgates e remendos produzirão os mesmos ruinosos resultados que sempre produziram: uma queda no patrimônio líquido das famílias médias, causada pela queda dos ativos pessoais, poupança e fundos de pensão e pela necessidade de enfrentar uma alta na inflação. Assim, por que George W. Bush está feliz a ponto de dançar nos degraus da Casa Branca? Talvez ele tenha se lembrado da melodia e da letra de "Fool on the Hill", o velho clássico dos Beatles: "Dia após dia, sozinho na colina/ O homem do sorriso tolo se mantém completamente imóvel/ Mas ninguém quer conhecê-lo/ Vêem que ele não passa de um tolo."
Artigo de Kenneth Maxwell publicado na Folha de hoje.
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