Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sábado, 29 de agosto de 2009

A Ópera Bufa Latinoamericana




Ontem tentei acessar, sem êxito, a reunião da Unasul em Bariloche. Sou um grande crítico de Hugo Chávez, mas confesso: gosto de assistir o troglodita e, sobretudo, quando ele está sendo contestado e atacado. Eu acho uma imensa baboseira este assunto relacionado às bases americanas na Colômbia que é um país democrático. Se o governo de plantão foi eleito com o discurso de fazer parceria com os EUA para dizimar com um câncer que se chama FARC, essa vontade popular é soberana. Se o governo da Colômbia quer assim, que assim se faça.

Quem são os terroristas, as FARC ou os EUA?

Tem gente que acha que os malvados são os EUA, porque em um passado recente foi co-autor de golpes como ocorreu -- dizem -- no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile e, também, na Venezuela, no chamado "golpe midiático".

No contexto atual é conveniente perguntar: será mesmo que os EUA, na atual administração Obama, podem ser considerados um estado terrorista?

E do outro lado estão as FARCs e seus rebeldes porra loucas revolucionários que querem implantar na Colômbia um regime que não deu certo em lugar nenhum e que recebem apoio do narcotráfico, de Chávez e de Corrêa, como já se provou e demonstrou. O que irrita em certa esquerda é a hipocrisia de não admitir o óbvio.

Resumo da ópera, a Reunião da Unasul foi catastrófica. Não houve avanços. Não existe consenso.

De um lado, Chávez, Correa e Morales que não admitem, sob hipótese alguma, bases americanas na Colômbia. No centro estão Lula, Lugo, Cristina K, Tabaré que têm apenas uma atitude crítica e cética a respeito das bases.
Na Folha de hoje:
A segunda reunião da transformou-se num bate-boca que, embora em termos contidos e diplomáticos, aprofundou o impasse entre os 12 países da região. Na berlinda, por permitir que tropas americanas usem bases militares colombianas, Álvaro Uribe reclamou da "ameaça de intervencionismo político na Colômbia".Uribe e o venezuelano Hugo Chávez polarizaram o encontro com pitadas teatrais. Uribe mostrou fotos dramáticas de famílias trucidadas na Colômbia, cobrando "corresponsabilidade" contra o narcotráfico e elogiando os EUA por se envolverem nesse combate. O acordo EUA-Colômbia foi que detonou a atual crise no grupo.Já Chávez leu trechos de um documento das Forças Armadas dos EUA, que classifica a base colombiana de Palanquero -1 das 7 incluídas no acordo militar entre os dois países- como "base expedicionária" na estratégia de mobilidade americana em caso de guerra.O documento, cujo subtítulo é "Estratégia Global de Bases de Apoio" e cuja existência a Folha já revelara no último dia 3, põe em xeque a versão tanto dos EUA quanto da Colômbia de que o acordo militar entre os dois países é exclusivo para combate ao narcotráfico, restrito ao território colombiano e sem objetivos militares.Apesar do impacto que o documento causou, a maioria dos demais presidentes não caiu na isca de focar as discussões nas suas implicações e de transformar a reunião num ato de condenação a EUA e Colômbia.Alan García (Peru) ironizou Chávez, Michelle Bachelet (Chile) relativizou a importância do texto, "que pode ser de uma unidade militar menor", Tabaré Vazquez (Uruguai) disse que o momento é de convocar "a paz".O Pentágono, reagindo a Chávez, disse que o texto é "tão somente um documento acadêmico, como tantos outros" -tese endossada por Uribe.Ao contrário de reuniões anteriores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupou um papel secundário. Sua conversa antes da cúpula com Chávez, para baixar o tom do venezuelano, mostrou-se infrutífera.Lula fez, primeiro, um discurso frágil e desconexo e, depois, um outro impaciente e crítico sobre a falta de rumo do encontro. O circuito interno de TV exibia seu rosto com expressão contrafeita.Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador) falaram longamente num tom de condenação à Colômbia. Lula, Bachelet, Cristina Kirchner (Argentina) e Fernando Lugo (Paraguai) mantiveram uma posição crítica ao acordo Colômbia-EUA, mas sem atacar Uribe.Lula e Cristina consideraram que a abrangência desse acordo extrapola em muito a necessidade de combate às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que nunca estiveram tão frágeis."As bases dos EUA na Colômbia existem desde 1952 e não solucionaram o problema, então, que outras coisas poderiam ser feitas para resolver?", disse Lula. Uribe corrigiu: "As bases não são dos EUA"."Combate ao narcotráfico se faz com inteligência e contrainteligência. Aviões C-17 ou radares de amplo alcance não me parecem os instrumentos adequados. A base de Palanquero parece mais compatível com guerra convencional", disse Cristina.Uribe manifestou-se contra a descriminalização da maconha, repercutindo indiretamente a decisão da Justiça argentina de não mais considerar crime o porte e uso pessoal. E ele também cobrou que os países da região classifiquem as Farc como grupo terrorista.Ele e Lula desentenderam-se em relação ao consumo de drogas. Para Uribe, a América do Sul está se tornando uma grande consumidora. Para Lula, esse é um problema principalmente dos países ricos.ImprensaAo chegar, Uribe falou com jornalistas para expor uma quase exigência: de que os debates fossem transmitidos pela TV para os telões da sala de imprensa. Numa votação simbólica, os demais presidentes concordaram, e apenas um condenou a decisão: Lula.Segundo ele, uma reunião desse tipo perde o sentido se é aberta, "porque cada um passa a falar para o seu público interno, e a reunião se perde". Depois, num bate-boca com Rafael Correa, Lula criticou: "Estou com medo do que a imprensa vai publicar amanhã". Ao que Correa rebateu: "Não estou preocupado com a imprensa, e sim com resultados".Em meio ao clima ruim, e sem perspectiva de alguma conclusão, os presidentes perfilaram-se para uma foto que deveria simbolizar integração, mas, neste momento, a realidade é o oposto disso.Na declaração final, eles tentaram contemplar todos os lados, propondo a criação de mecanismos para tornar mais transparentes as informações na área de defesa, ratificando a retórica do combate comum ao narcotráfico e determinando que se analisasse o documento evocado por Chávez.Alan García, maior aliado de Uribe na região, lançou a ideia de que as decisões passem a ser por maioria, não mais por consenso. Porque, por consenso, nada se conclui de concreto.

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