Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Suplicy Recebe Cartão Vermelho do PT



Dedos Pendurados no Ar

Pescado do Blog do Josias.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), submeteu o senador Eduardo Suplicy (SP) a um constrangimento: negou-se a cumprimentá-lo.

A descortesia ocorreu na noite passada, na solenidade de lançamento da candidatura do ex-senador José Eduardo Dutra à presidência do PT.

Suplicy acabara de mostrar, da tribuna do Senado, o "cartão
vermelho" a José Sarney. Instara-o a renunciar à presidência. Depois do discurso, foi ao encontro do petismo.

Ao chegar, dirigiu-se à mesa. Pôs-se a cumprimentar os presentes: ministros, governadores e lideranças do partido.

Recebeu a reciprocidade de todos, menos de Berzoini. O presidente do PT estava sentado. Suplicy achegou-se a ele pelas costas.

Estendeu-lhe a mão, como fizera com os demais. E Berzoini deixou a os dedos de Suplicy pendurados no ar.

Foi uma cena rápida. Passou despercebida pela audiência. Mas quem estava próximo testemunhou o mal-estar.

O repórter telefonou para Suplicy. Ouviu dele o seguinte relato: “Cumprimentei um a um, dando a mão. Todos me deram a mão...”

“...Na hora que passei pelo Ricardo Berzoini, ele prefetiu não dar a mão. Como eu estava por trás, falei boa noite, bati no braço dele, sem que ele tenha virado”.

Por quê? “Ele estava descontente. Eu tinha acabado de discursar. Ele não gostou. Vi uma declaração dele desaprovando a minha fala...”

“...O Ricardo Berzoini disse que o discurso pode me dar popularidade, mas não é bem recebido pelo partido.”

Concorda com essa avaliação? “Não”. O que pretende fazer? “Vou procurar o Ricardo Berzoini. Direi a ele o seguinte:...”

“...Se quiser fazer uma pesquisa de profundidade nas bases dos partido, tenho a convição de que o sentimento majoritário dos filiados do PT coincide com o meu”.

Curiosamente, a tônica dos discurdos feitos na cerimônia foi a exaltação do modo de fazer política do PT e do “orgulho” de ser petista.

Ex-presidente da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, José Eduardo Dutra vai à sucessão de Berzoini como candidato do ex-campo majoritário.

Justamente a ala que empurrou as supostas virtudes do partido para dentro do mensalão.

Dutra fez questão de enaltecer os petistas que trazem o escândalo enganchado nas biografias. Citou José Dirceu. Mencionou José Genoino. Ressuscitou Luiz Gushiken.

Sobre Genoino, signatário dos pseudoempréstimos bancários obtidos por obra e graça de Marcos Valério, Dutra disse: “Na ditadura, teve o corpo torturado. Na demcoracia, o coração e a mente”.

Perto das 23h, já recolhido ao seu apartamento, Suplicy recordava uma passagem de março de 2005. Fora convidado para compor uma chapa que disputaria a direção do PT. Era encabeçada por Genoino.

Sobreveio o terremoto do mensalão. E, contra decisão do diretório do PT, Suplicy apôs a assinatura no requerimento da CPI dos Correios, que desnudaria os malfeitos.

Na semana seguinte, recordava um Suplicy reflexivo, recebeu um telefonema de Delúbio Soares, o ex-gestor das arcas do PT. Chamou-o à sede do partido.

“O Delúbio me disse: 'Em nome da coordenação do Campo Majoritário, tendo em conta a sua deicisão de assinar a CPI, informo que você está fora da chapa'. Não quis nem ouvir explicações.

Há duas semanas, quando Dutra o convidou para a solenidade de lançamento de sua candidatura, Suplicy disse a ele que, hoje, identifica-se com a “Mensagem ao Partido”.

Trata-se do grupo criado, entre outros, pelo ministro Tarso Genro (Justiça), justamente para se contrapor à hegemonia do grupo majoritário. A despeito disso, Suplicy aceitou o convite de Dutra.

Tornou-se testemunha de uma cerimônia em cuja atmosfera boiava o fantasma de Sarney. Ideli Salvatti (SC), um dos votos que livraram a cara do neo-aliado no Conselho de (a)Ética criticou os desertores.

Sem mencionar-lhes os nomes, fustigou Marina Silva, a caminho do PV, e a Flávio Arns, ainda sem endereço. Ideli, timbre altivo, falou do “orgulho de ser petista!”

Terceiro suplente no conselho que salvou Sarney, na semana passada, Suplicy fizera questão de dizer, no microfone, que, se lhe fosse dado votar, optaria pelo desarquivamento das ações.

Antes, recordava na noite passada, tocara o telefone para Berzoini: “Olha, Ricardo, quero lhe informar que, pela minha convicção, devem ser desarquivadas as ações”.

E Berzoini: “Respeito a sua posição, Eduardo, mas é preciso pensar na governabilidade”.

Seguiu-se um blá-blá-blá que envolveu até o projeto de renda mínima, caro a Suplicy. O senador manteve o "voto" que o partido cuidara de tornar inócuo.

Numa fase em que o PT ainda era o PT, Suplicy era um ícone. Agora, rendido à governabilidade provida por um Sarney que, no passado, Lula chamava de “ladrão”, o ex-PT nega ao ex-ídolo a cortesia de um cumprimento.

Pretende fazer disso um cavalo de batalha? "Não, imagina!", disse Suplicy ao blog. O senador soou tão sereno que passou ao repórter a impressão de que cumprimentava a si próprio.

Nenhum comentário: