Do diário gauche leio um artigo do jornalista Rui Martins (foto acima) critcando o artigo de Elio Gaspari, publicado aqui neste depósito, sobre a vergonhosa indenização recebida por Diógenes de Oliveira. Volto depois.
Uma comparação leviana
Recebo do jornalista Rui Martins, de Berna (Suíça), este artigo contestando Elio Gaspari.
Desta vez, o que me chamou a atenção foi um texto distribuído pela Internet para emigrantes brasileiros na Suíça e Alemanha. Um texto do respeitável e competente Elio Gaspari, cujos livros da série Ditadura, adquiri nas minhas últimas viagens ao Brasil.O texto publicado na Folha de SP, comparando o que uma vítima do atentado de 20 de março de 1968 contra a embaixada norte-americana em São Paulo, recebe do INSS, quando perdeu uma perna, com a aposentadoria paga a um dos autores do atentado pela Anistia.Elio Gaspari, jornalista e escritor, faz uma comparação, fora do contexto da época, e leva os leitores a um julgamento fácil e rápido, de culpado e inocente. Com esse mesmo tipo de argumentação se poderia condenar os resistentes ao nazismo na França ocupada. Os culpados pelos massacres de inocentes cometidos pelos nazistas em represália a atentados contra os ocupantes teriam sido os resistentes.Fazer uma comparação entre indenizações decididas, 40 anos depois, omitindo o clima reinante na época da ditadura militar e aproveitando para colocar em questão o que animava a extrema esquerda contra a ditadura, não é nada correto. Conhecedor da situação como poucos, Gaspari optou por uma argumentação minimalista e, por isso leviana, que ignora o complexo quadro daqueles anos de chumbo.Logo no começo da invasão americana ao Iraque, declarei, nas rádios em que falava e onde escrevia, que sempre chamaria os iraquianos de resistentes aos invasores e nunca de terroristas. Durante a ditadura militar, onde muita gente boa se enrustiu, não havia terroristas (essa era a designação dada pela governo e imprensa golpistas) mas resistentes. Idealistas, sonhadores, iludidos, irresponsáveis, tudo isso pode se discutir, mas, no caminho certo ou errado, eram movidos pelo desejo de resistir a uma situação ilegal, criada depois da deposição de um presidente e por instigação americana.E pagaram caro por isso. Uma parte morreu, outros foram torturados e sofrem sequelas até hoje. Outros que não aderiram à luta armada mas que contestavam o regime tiveram de fugir e perderam carreira, vivendo e sofrendo o exílio. Diógenes, citado como um malvado premiado, sofreu torturas e, no exílo na África, apanhou malária, outro tipo de tortura permanente.É dentro desse mesmo raciocínio que defendo a concessão da condição de refugiado ao italiano Cesari Battisti, ativista de uma facção de luta armada italiana, preso no Brasil e sob ameaça de extradição.Na verdade, existe hoje no Brasil, por parte da grande imprensa, a quase totalidade daquela que aderiu aos militares, uma campanha para desestablizar o governo, que apesar de numerosos erros, vem favorecendo o grande segmento da população pobre antes esquecido. E, pelo jeito, surge uma tendência negacionista, movida por uma lamentável vontade de reescrever a história.Isso faz parte da democracia, o debate franco ou desleal, porém, não se pode esquecer que no Brasil não existe imprensa de esquerda, que poderia defender o outro ângulo. Existem apenas alguns sites, jornais e revistas mantidos no benevolato, enquanto a direita dispõe de televisões, rádios e jornais de grande tiragem numa espécie esdrúxula de ditadura democrática da informação.
Desta vez, o que me chamou a atenção foi um texto distribuído pela Internet para emigrantes brasileiros na Suíça e Alemanha. Um texto do respeitável e competente Elio Gaspari, cujos livros da série Ditadura, adquiri nas minhas últimas viagens ao Brasil.O texto publicado na Folha de SP, comparando o que uma vítima do atentado de 20 de março de 1968 contra a embaixada norte-americana em São Paulo, recebe do INSS, quando perdeu uma perna, com a aposentadoria paga a um dos autores do atentado pela Anistia.Elio Gaspari, jornalista e escritor, faz uma comparação, fora do contexto da época, e leva os leitores a um julgamento fácil e rápido, de culpado e inocente. Com esse mesmo tipo de argumentação se poderia condenar os resistentes ao nazismo na França ocupada. Os culpados pelos massacres de inocentes cometidos pelos nazistas em represália a atentados contra os ocupantes teriam sido os resistentes.Fazer uma comparação entre indenizações decididas, 40 anos depois, omitindo o clima reinante na época da ditadura militar e aproveitando para colocar em questão o que animava a extrema esquerda contra a ditadura, não é nada correto. Conhecedor da situação como poucos, Gaspari optou por uma argumentação minimalista e, por isso leviana, que ignora o complexo quadro daqueles anos de chumbo.Logo no começo da invasão americana ao Iraque, declarei, nas rádios em que falava e onde escrevia, que sempre chamaria os iraquianos de resistentes aos invasores e nunca de terroristas. Durante a ditadura militar, onde muita gente boa se enrustiu, não havia terroristas (essa era a designação dada pela governo e imprensa golpistas) mas resistentes. Idealistas, sonhadores, iludidos, irresponsáveis, tudo isso pode se discutir, mas, no caminho certo ou errado, eram movidos pelo desejo de resistir a uma situação ilegal, criada depois da deposição de um presidente e por instigação americana.E pagaram caro por isso. Uma parte morreu, outros foram torturados e sofrem sequelas até hoje. Outros que não aderiram à luta armada mas que contestavam o regime tiveram de fugir e perderam carreira, vivendo e sofrendo o exílio. Diógenes, citado como um malvado premiado, sofreu torturas e, no exílo na África, apanhou malária, outro tipo de tortura permanente.É dentro desse mesmo raciocínio que defendo a concessão da condição de refugiado ao italiano Cesari Battisti, ativista de uma facção de luta armada italiana, preso no Brasil e sob ameaça de extradição.Na verdade, existe hoje no Brasil, por parte da grande imprensa, a quase totalidade daquela que aderiu aos militares, uma campanha para desestablizar o governo, que apesar de numerosos erros, vem favorecendo o grande segmento da população pobre antes esquecido. E, pelo jeito, surge uma tendência negacionista, movida por uma lamentável vontade de reescrever a história.Isso faz parte da democracia, o debate franco ou desleal, porém, não se pode esquecer que no Brasil não existe imprensa de esquerda, que poderia defender o outro ângulo. Existem apenas alguns sites, jornais e revistas mantidos no benevolato, enquanto a direita dispõe de televisões, rádios e jornais de grande tiragem numa espécie esdrúxula de ditadura democrática da informação.
Voltei.
Não se pode comparar os movimentos de resistência ao nazismo da França com os movimentos terroristas no Brasil da extrema esquerda. E a ditadura apertou o cinto dos brasileiros exatamente pelas besteiras cometidas por Diógenes de Oliveira e Cia. Existem formas e formas de se fazer resistência a uma ditadura. A extrema esquerda, infelizmente, jogou o jogo da ditadura. Caiu na sua armadilha. E perdeu a batalha que já estava perdida. Marighella e Cia pensavam ser possível fazer no Brasil, na época dos milicos, uma revolução. Mas uma revolução sem povo.
2 comentários:
Diógenes provou que não era um iludido ou alguém que lutava pelo "povo". Sua trajetória política, mostra que era, simplesmente, um aproveitador, criminoso, ladrão, sem escrúpulos! Se na juventude roubava bancos para "combater o regime", qual a desculpa dos crimes realizados já adulto?
De qualquer maneira, a comparação não é nada leviana, pois - na pior das hipóteses - tratam-se de atores do mesmo fato! Um perpretador e outro vítima. Esta sem culpa e sem pertencer "ao regime"! Soldados, que cumpriam ordens, também seriam "vítimas do regime". Ou não? Afinal, a primeira vítima na tal guerrilha do Araguaia, foi um militar... o resto foi reação.
1. Eu admiro muito o Elio Gaspari, mas a comparação que ele fez não faz sentido. Foi comparar laranja com banana. Uma coisa é o sistema de reparações feito no governo FHC, outra uma pensão dada a alguém que foi mutilado num atentado terrorista.
2. Acho difícil dizer que a ditadura se endureceu por causa dos grupos guerrilheiros. Ela se endureceu porque queria endurecer. Tanto que se os grupos guerrilheiros foram esmagados, muito mais gente foi punida e encarcerada, sem ter pego em armas.
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