FREUD E O FEMININO A foto que Freud tirou com sua mulher, Martha, em 1886 (acima), tornou-se uma espécie de imagem oficial de ambos. Abaixo, ele e Martha numa viagem para festejar 20 anos de casamento. Nessa época, Freud já responsabilizava as mães pelas neuroses dos filhos. Bastante contrariado, ele levou sua mãe na viagem. Quase o tempo todo, ela se colocou entre o casal.
Em três anos de noivado, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, escreveu 940 cartas românticas para a sua amada, Martha. Esse foi o início de uma histórica cumplicidade que só terminou em 1939 com a morte do psicanalista, aos 83 anos. Nas inúmeras biografias que foram publicadas postumamente sobre esse célebre neurologista, ela aparece como a esposa perfeita e a companheira ideal. Sempre obscurecida pela fama e importância do marido, Martha agora ganha voz no livro Madame Freud (Verus Editora, 210 págs., R$ 27,90), de autoria da psicanalista francesa Nicolle Rosen. Na obra (por meio de cartas trocadas com a jornalista americana Mary Huntington-Smith, personagem fictícia criada pela autora), conhecemos a esposa que abandonou a sua religião para atender ao desejo do marido e engravidou seis vezes em intervalos muito curtos (foram seis filhos em sete anos e meio) devido ao frêmito sexual do parceiro. Depois disso, entrou numa longa abstinência amorosa – Freud decidira abandonar o sexo (só com ela) para evitar novos filhos.
O livro é um romance histórico baseado em cartas que Martha trocou com amigos e familiares. Nicolle partiu desse material e criou uma ficção em que a esposa de Freud embarca numa viagem psicanalítica de autoconhecimento ao refletir sobre a sua vida. Esse é o recurso adotado pela autora para expressar as angústias e dúvidas que assombraram Martha quando ela se deu conta de que havia renunciado a sua vida em nome da carreira extraordinária de Freud. “Queria compreender por que me devotei completamente a uma vida e à execução de uma obra que não eram minhas”, escreve ela. No entanto, o leitor não fica sabendo o que é ficção e o que é verdade – uma licença literária de Nicolle que enfureceu a Academia Francesa de Psicanálise, que considerou a obra “ultrajante” à memória de Martha Freud. O terror dos momentos iniciais da Segunda Guerra Mundial, que eclodiria no ano da morte de Freud, também está presente em diversas passagens da obra.
Entre outras características “edificantes” da personalidade do criador da psicanálise ganham destaque no livro o fato de ele ter sido um ciumento patológico e homem apegado às formalidades. Tanto que não permitia à esposa chamar sequer o primo pelo primeiro nome. Além disso, era ateu radical e teria dado um tapa nas mãos de Martha quando a viu acendendo velas numa data religiosa. Também determinou que ela fosse cremada, embora essa idéia não a agradasse – e após a sua morte ela permaneceu fiel a todos os seus desejos. O livro também reforça a idéia de que Martha sentia ciúmes da filha Anna, única da família a seguir os passos do pai na profissão e a administradora de seu legado científico. Há outros detalhes mais prosaicos, como a queixa de que Freud não gostava de banhar-se e de que a incomodava o forte odor de tabaco e suor no leito do casal. Há também trechos dispensáveis, como o que Martha fala sobre os últimos momentos antes da morte do marido: “Eu não consegui olhá-lo sem horror. E ainda aquele cheiro terrível, até o cachorro dele se afastava.” O propósito da obra parece ser, todo o tempo, desfazer a imagem de que Martha se sentia honrada por ter vivido 53 anos ao lado de um homem tão extraordinário, como ela declarou após a morte de Freud. Mas a intenção da autora, segundo ela revelou em entrevistas, era levar ao divã, para um exercício psicanalítico, a testemunha mais fiel e confiável de Sigmund Freud.
O livro é um romance histórico baseado em cartas que Martha trocou com amigos e familiares. Nicolle partiu desse material e criou uma ficção em que a esposa de Freud embarca numa viagem psicanalítica de autoconhecimento ao refletir sobre a sua vida. Esse é o recurso adotado pela autora para expressar as angústias e dúvidas que assombraram Martha quando ela se deu conta de que havia renunciado a sua vida em nome da carreira extraordinária de Freud. “Queria compreender por que me devotei completamente a uma vida e à execução de uma obra que não eram minhas”, escreve ela. No entanto, o leitor não fica sabendo o que é ficção e o que é verdade – uma licença literária de Nicolle que enfureceu a Academia Francesa de Psicanálise, que considerou a obra “ultrajante” à memória de Martha Freud. O terror dos momentos iniciais da Segunda Guerra Mundial, que eclodiria no ano da morte de Freud, também está presente em diversas passagens da obra.
Entre outras características “edificantes” da personalidade do criador da psicanálise ganham destaque no livro o fato de ele ter sido um ciumento patológico e homem apegado às formalidades. Tanto que não permitia à esposa chamar sequer o primo pelo primeiro nome. Além disso, era ateu radical e teria dado um tapa nas mãos de Martha quando a viu acendendo velas numa data religiosa. Também determinou que ela fosse cremada, embora essa idéia não a agradasse – e após a sua morte ela permaneceu fiel a todos os seus desejos. O livro também reforça a idéia de que Martha sentia ciúmes da filha Anna, única da família a seguir os passos do pai na profissão e a administradora de seu legado científico. Há outros detalhes mais prosaicos, como a queixa de que Freud não gostava de banhar-se e de que a incomodava o forte odor de tabaco e suor no leito do casal. Há também trechos dispensáveis, como o que Martha fala sobre os últimos momentos antes da morte do marido: “Eu não consegui olhá-lo sem horror. E ainda aquele cheiro terrível, até o cachorro dele se afastava.” O propósito da obra parece ser, todo o tempo, desfazer a imagem de que Martha se sentia honrada por ter vivido 53 anos ao lado de um homem tão extraordinário, como ela declarou após a morte de Freud. Mas a intenção da autora, segundo ela revelou em entrevistas, era levar ao divã, para um exercício psicanalítico, a testemunha mais fiel e confiável de Sigmund Freud.
Fonte: Revista Isto é
Um comentário:
vou levar, Carlos. obrigada :)
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