Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Obama é de Centro ou de Esquerda?

"Barack Obama, candidato democrata à presidência americana, fala aos partidários durante um comício em Cleveland, no Estado de Ohio."
"Um voto de repúdio à direita"
Folha de ontem.

De Nova York

Para o jornalista e analista político americano Thomas Frank, há dois Obamas: um de esquerda, que ele prefere, e um de centro, que faz discursos que poderiam ter sido elaborados pelo republicano Ronald Reagan (1981-1989).Frank não sabe qual deles ocupará a Casa Branca em caso de vitória eleitoral. Mas de uma coisa tem certeza: "Uma vitória de Obama significará o repúdio da filosofia conservadora de governo que domina Washington hoje". Frank é autor de "Qual o Problema com o Kansas?" (Henry Holt, 2004) e "O Grupo da Destruição - Como Conservadores Governam" (Metropolitan Books, 2008). Leia trechos de sua entrevista. (AM)

FOLHA - O que significaria uma vitória de Barack Obama?

THOMAS FRANK - Se Obama jogar direito com as cartas que tem, sua vitória significará um forte repúdio da filosofia conservadora de governo que domina Washington hoje. Mas para isso ele vai ter que reconstruir o governo a partir do zero. Vai ter que oferecer um sistema de saúde real, re-regular o sistema financeiro, abordar a desigualdade nos EUA. E terá que mostrar inequivocamente que o governo conservador fracassou.Acredito que há dois Obamas: um esquerdista, como o que vimos em seu discurso de aceitação da candidatura na Convenção Nacional Democrata, e outro bastante de centro. Não sabemos qual deles ocuparia a Casa Branca. Mas acho que as circunstâncias o obrigariam a ser mais favorável a um Estado de bem-estar, como aconteceu na Grande Depressão.


FOLHA - Mas ele conseguiria, sob forte déficit orçamentário?

FRANK - Sim. Algumas reformas vão demorar. Mas, se ele tiver a seu lado um Congresso democrata -o que provavelmente terá-, vai conseguir transformações importantes.

FOLHA - O sr. já disse que um déficit forçou Bill Clinton (1993-2001) a abandonar seu populismo. Algo similar não aconteceria com Obama?

FRANK - Sim, mas seria temporário. Depois de alguns anos, Obama poderia contornar isso. E ele precisa deixar claro ao público por que chegamos nesta situação. Precisa mostrar que o governo anterior fritou verbas em gastos ridículos como a reconstrução do Iraque, que eles mesmos destruíram.

FOLHA - O quão difícil seria fazer esse ataque ao conservadorismo, já que os EUA continuam divididos?

FRANK - É verdade. Metade do país ainda acha que os conservadores estão certos, e eu não tenho uma explicação para isso. Obama deveria ter tido uma campanha mais fácil. Os republicanos apresentaram um candidato muito bom em 2008. Em qualquer outro ano, John McCain venceria. O que o segura é a crise econômica.

FOLHA - O sr. já disse que a esquerda americana estava morta. Ela foi revitalizada por Obama?

FRANK - Os esquerdistas foram revitalizados. Mas Obama não é realmente um esquerdista. Ele nem mesmo é um liberal [progressista, nos EUA]. Ele diz coisas que poderiam ter saído da boca de [Ronald] Reagan [1981-1989]. Ele acredita no mercado! O que está realmente revitalizando a esquerda é assistir à ideologia conservadora desmoronar. Mas é verdade que as duas alas do Partido Democrata -a "Wall Street" e a esquerdista- estão muito satisfeitas e não estão brigando agora.


FOLHA - O que o sr. acha da crítica de McCain de que Obama quer redistribuir a riqueza? FRANK - A riqueza é redistribuída o tempo todo nos EUA, só que de baixo para cima. Toda política de impostos implica redistribuição. Muda a direção.

Um comentário:

Anônimo disse...

Evitando falar em termos de centro, esquerda ou direita, diria que ele é o mais próximo que os americanos conseguiram chegar de um social democrata. Tem algo de latino americano no impacto que ele causa entre seus partidários, a paixão e a esperança que desperta nas massas.

“re-regular o sistema financeiro, abordar a desigualdade nos EUA”. Oras, ele tem muito o que aprender com nosso próprio presidente, se desejar seguir o caminho da esquerda populista. Mas pra isso vai precisar jogar no lixo tudo o que os Estados Unidos representam e abandonar o “sonho americano” de liberdade. E foi graças ao suposto “fracasso” dos republicanos que os americanos são hoje a maior potência do planeta.