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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

SOS Petrobrás


Plataforma P-34 da Petrobras na costa do Espírito Santo; estatal sofre com escassez de crédito

Analistas vêem problema de gestão na Petrobras

Crise expõe estrutura pesada num cenário de queda do petróleo e falta de crédito

Investimentos com as refinarias no Ceará e no Maranhão podem ser suspensos por causa das dificuldades da estatal.

O empréstimo emergencial de R$ 2 bilhões da CEF (Caixa Econômica Federal) à Petrobras mostra que a crise financeira pegou a empresa desprevenida, atingiu o seu caixa e revelou a real -e pesada- estrutura de custos da companhia e seus problemas de gestão num cenário de queda do preço do petróleo e falta de crédito, dizem especialistas do setor. "Esse empréstimo preocupa não pelo valor, mas por ser destinado a capital de giro. Agora que o petróleo foi para US$ 50, começa aparecer o real custo dela [Petrobras]. Ficam claras a má gestão e a ineficiência. A atual direção só pegou a fase de bonança da indústria do petróleo, que ficou sempre acima dos US$ 100, na média. Essa fase já passou", diz Adriano Pires, especialista do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura). A crise bateu com força à porta da maior empresa brasileira, e a revelação dos problemas de caixa da Petrobras surge porque o empréstimo é destinado exclusivamente a capital de giro, dizem especialistas do setor. Pressionada pela queda do petróleo e pelo acúmulo de impostos, a estatal não teve outra saída e recorreu ao banco público enquanto anunciava um lucro recorde no terceiro trimestre de mais de R$ 10 bilhões. Ou fazia isso ou cortava drasticamente investimentos, apurou a Folha, tudo o que o governo não quer na crise. Para Pires, a estatal sofre com sua elevada estrutura de custos e terá de reduzir drasticamente despesas e investimentos para se adaptar à restrição de crédito e ao cenário de petróleo mais baixo. Já o economista José Roberto Afonso, um dos criadores da Lei de Responsabilidade Fiscal e hoje assessor econômico do PSDB, o empréstimo "não faz sentido algum": "Se é para fazer investimento, todos somos a favor. Mas não faz sentido algum para capital giro". Segundo Afonso, pode ser um sinal de má gestão financeira: "Estamos vindo da melhor fase de toda a história em termos de preço do petróleo. Foram anos de preços em alta. Com dois meses de turbulência, já não há dinheiro para pagar imposto?", questiona. Nelson Rodrigues de Mattos, analista do BB Investimentos, afirma que a estatal enfrenta um "problema momentâneo de caixa", que obrigou a buscar capital de giro. Ele espera, porém, uma melhora no quarto trimestre, quando a receita deve crescer na esteira dos preços maiores da gasolina e do diesel no país do que as cotações de referência internacionais. Um analista que preferiu o anonimato diz que diversas empresas devem fazer o mesmo que a Petrobras: buscar bancos públicos para levantar capital de giro de curto prazo em razão da crise. A gravidade, segundo ele, é o fato de a estatal expor neste momento sua fragilidade de caixa, problema que deve ser passageiro. Ele considera também que o novo cenário fará a Petrobras cortar investimentos principalmente na área de refino. Tanto Mattos, do BB, como Pires, do CBIE, compartilham da mesma opinião. "Houve, em outubro, um desembolso muito expressivo num momento de aperto momentâneo. O problema é de caixa. Se já há falta de recursos para tocar o dia-a-dia da empresa, como pagar impostos, quiçá para investimento? Certamente, alguns projetos serão postergados", diz Mattos. Para Pires, os projetos de refino serão os primeiras afetados. Entre os investimentos a serem postergados, apurou a Folha, estão, em primeiro lugar, as duas refinarias "premium", no Ceará e no Maranhão, que, juntas, vão consumir mais de US$ 20 bilhões em investimentos. Também corre risco, a depender da evolução da crise, o Comperj (refinaria petroquímica do Rio de Janeiro), cujos investimentos se aproximam de US$ 9 bilhões. Além disso, a Petrobras já implementou um severo programa de redução de custos e racionalização de gastos que atinge todo tipo de despesa. Viagens de funcionários foram reduzidas e substituídas sempre que possível por teleconferências. Foram restringidos os produtos oferecidos em seus eventos a café, biscoito e suco.
Folha de hoje. Colaborou ROBERTO MACHADO, da Sucursal do Rio

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