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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Agronegócio Brasileiro Vem Concentrando Renda





Eis, meus caros e minhas caras, um problema que tem de ser corrigido. É matéria de capa da Folha de hoje. Não se pode duvidar que o agronegócio é salutar para o país. Mas ele está concentrando renda, porque está nas mãos de poucos empresários. Como, então, espraiar o agronegócio? Deve ou não o estado interferir neste mercado para democratizá-lo? E que mecanismos podem ser feitos para diversificar mais o acesso das pessoas ao agronegócio? Ou a tendência natural do agronegócio é mesmo a concentração de renda?


Folha de hoje:

Cresce concentração de terra no país, diz IBGE

Censo Agropecuário de 2006 revela que aumentou, em relação a 1995/96, número de grandes propriedades em poder de poucos.
Maior concentração não é necessariamente negativa, diz IBGE, pois mostra que a terra era explorada por quem tinha capital para investir.

Em dez anos, o agronegócio brasileiro cresceu, modernizou-se e ganhou produtividade, mas esse avanço não alterou uma realidade: a concentração da terra na mão de poucos proprietários, que até aumentou.Esse retrato surge dos dados do Censo Agropecuário de 2006, divulgado ontem pelo IBGE -o último havia sido realizado em 1995 e 1996.Indicador-síntese da desigualdade no campo, o índice de Gini da terra subiu 1,9% na média nacional de 1995/1996 a 2006, para 0,872 pontos. Quanto mais perto esse índice está do número 1, maior é a concentração de áreas de cultivo.Em São Paulo, por exemplo, o crescimento da cultura de cana-de-açúcar (estimulada pelo maior uso de álcool com o carro flex e pelos bons preços do açúcar) fez a concentração da terra aumentar 6,1%.O índice relaciona a área total destinada à lavoura e à pecuária com o número de proprietários rurais. Ou seja, revela que a terra estava, em 2006, nas mãos de um número menor de proprietários do que dez anos antes.Para Antonio Carlos Florido, gerente do Censo Agropecuário do IBGE, a maior concentração não é necessariamente algo ruim, pois mostra que a terra era explorada por quem tinha capital para investir. Esse, diz, foi um dos motivos do ganho de produtividade do campo."O índice de Gini não qualifica a concentração. Apenas indica se ela aumentou ou não. Às vezes o arrendamento de propriedades [que não é captado] pode resultar em maior distribuição de renda [para os donos da terra]. Porém, ele representa o aumento da concentração. Se ela é boa ou ruim, depende do ponto de vista", afirmou.Na visão de Fábio Silveira, diretor da RC Consultores, o aumento da concentração é uma imposição econômica e reflete o modelo escolhido pelo Brasil: uma agricultura "de resultados", competitiva e sem os pesados subsídios dos países desenvolvidos. "A tendência é que a produção em escala maior e em grandes propriedades tenha melhor resultado econômico e de produtividade."Entretanto, os dados mostram que o aumento da concentração ocorreu com mais força nas médias propriedades. Isso porque o peso dos latifúndios (mais de mil hectares) na área total oscilou pouco -de 45,1% em 1995/1996 para 44% em 2006. E a participação dos minifúndios (até dez hectares) subiu marginalmente, passando de 2,2% para 2,4%.O movimento de concentração, diz o IBGE, foi puxado pelas grandes culturas de exportação (soja e milho, especialmente), pela profissionalização do agronegócio e pelo avanço da fronteira agropecuária em direção à Amazônia e ao Pantanal -impulsionada pela criação de bovinos e pela soja.Não por acaso, os maiores aumentos do índice de Gini da terra ocorreram em Mato Grosso do Sul (4,1%) e no Tocantins (9,1%), além de São Paulo. Nos dois primeiros casos, a pecuária cresceu com força desde meados da década de 90. Já as estruturas agrárias mais concentradas permaneceram no Mato Grosso (na esteira da soja e do gado) e em Alagoas (por conta da cana-de-açúcar).A concentração só não se acentuou ainda mais por causa da criação de áreas de preservação e terras indígenas. Talvez por isso Roraima tenha registrado a maior queda no índice de Gini -de 18,3%-, uma vez que boa parte do território é composto por reservas.

8 comentários:

charlie disse...

Teu post lembrou que enterrada a busca pela socialização dos MEIOS de produção a novo graal da esquerda é a socialização dos RESULTADOS da produção. Ou, como ouvi várias vezes durante a campanha do Lula, "a justa distribuição da renda".

O socialismo nunca morre, apenas se adapta as novas realidades, com um novo discurso. O espírito permanece. Mas sobre o post, o mercado me parece um mecanismo mais interessante de distribuição de renda do que o burocrata do governo sentado em seu gabinete.

charlie disse...

Aliás, a diferença entre o comunismo e o assistencialismo (ou welfare state, como chamam lá fora) é justamente esta: enquanto uns usam o Estado para tentar controlar os meios de produção, os outros deixam que o mercado aja com relativa liberdade para depois usar o Estado para confiscar e redistribuir os frutos do trabalho. E tudo pelo "bem geral de todos".

Carlos Eduardo da Maia disse...

Mas a tendência do mercado, Charlie, como se vê por essa manchete de capa da Folha (que não é um jornal esquerdista) é que a tendência do mercado é mesmo a concentração de renda. Ou não é? Por isso eu sou um "liberal de esquerda". Acho que o mercado deve fluir quase que livremente, mas cabe ao Estado impor mecanismos regulatórios para evitar distorçoes.

Pablo Vilarnovo disse...

Maia - E qual o problema da concentração de terra?
Outra coisa: mercado não concentra renda. Ele não tem esse poder. Mercado é apenas e unicamente um alocador de preços. Só isso. Culpam o mercado por coisas que ele não faz.

O maior causador de desigualdade de renda são os impostos cobrados de forma desigual. O Estado não corrige as distorções. Ele as faz.

charlie disse...

Outro liberal. Não me sinto mais tão só...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Grande Pablo. Quanto tempo, cara!!!
Linkei o depósito com o "Fala Ai". O papel do Estado é de permitir que o mercado flua normalmente, mas com compromisso de distribuir renda. Quando o mercado concentra algo deve ser feito, inclusive em relação à diminuição da carga tributária, que é o mecanismo certo para corrigir distorções.

charlie disse...

"O papel do Estado é de permitir que o mercado flua normalmente, mas com compromisso de distribuir renda."

Isso me pareceu completamente sem sentido. O que entendes por "renda"? Se por renda entendes "ganho" (do inglês "income") então não existe mercado fluindo livremente enquanto os ganhos do trabalho de alguns é confiscado e redistribuído entre outros.

Maia, isto é uma forma um pouco mais light de socialismo (estou usando de eufemismo porque sei que não te consideras socialista). Esta tua visão impõe uma séria restrição ao incentivo capitalista de produzir ao socializar os resultados da produção.

Pablo Vilarnovo disse...

Amigo Maia, realmente faz bastante tempo.
O Estado não tem como função distribuir renda. Ele não consegue fazer isso. Porque renda não se distribui. Renda, como bem diz o dicionário é entre outras coisas: "o total das quantias recebidas, por pessoa ou entidade, em troca de trabalho ou de serviço prestado".

Quando o Estado diz que "distribui renda" ele apenas transfere recursos de um para outro. A soma é sempre zero ou negativa (perdas com corrupção, burocracia, retorno por meio de impostos e etc.)A simples distribuição desses recursos não melhoram a economia de um jeito geral e pior, atrelam as pessoas à "generosidade" do populista no governo (seja lá quem for). Não sou contra programas assistencialistas, acho o Bolsa Família um programa barato.
Mas é ilusão achar que isso é transferência de renda, pois fim do programa, fim do dinheiro.

O que o governo deveria fazer é criar condições para que as pessoas se qualifiquem para que possam buscar de maneira própria sua melhora na renda. E isso é feito através de uma educação de qualidade.

Se não houver uma revolução educacional no país, seremos para sempre a nação do futuro.

O mercado não concentra renda. Ele não consegue fazer isso, não tem essa capacidade. Até porque mercado é apenas um conjunto de decisões individuais.