O caça francês Rafale nunca foi testado em combate, é mais caro e, por essas e por outras razões, nunca venceu concorrência
A raposa e o corvo
Aldo Pereira
Noite de 2 de maio, 1982, guerra das Falklands/Malvinas. Em rápida sucessão, dois torpedos disparados pelo submarino nuclear britânico Conqueror perfuraram o casco do cruzador argentino General Belgrano. Entre dilacerados e queimados a bordo por explosões primárias e secundárias ou afogados no subsequente naufrágio, a Argentina perdeu naquela noite 323 marinheiros. Chocado, o almirantado argentino recolheu às bases todas as suas unidades, de onde nenhuma delas voltou a sair antes do fim das hostilidades. Dois torpedos, uma esquadra inteira fora de combate. Livre associação de ideias: se equipada com torpedos Shkval, a frota de submarinos Varshavyanka e Amur, comprados da Rússia pela Venezuela, terá capacidade teórica de varrer do Atlântico, em poucos dias, toda a sucata flutuante da atual marinha de guerra brasileira. Propelido por cavitação, esse míssil subaquático leva menos de um minuto para atingir qualquer navio ou submarino a dez quilômetros de distância, sem lhe dar tempo para manobra defensiva. Que dizer duma estática plataforma? Na vociferante controvérsia estratégica de hoje, a marinha de superfície aparece como ainda insubstituível para certas operações. Mas as armas decisivas de qualquer confronto aeronaval são agora submarinos, torpedos, aviões, helicópteros, mísseis -e respectivos meios cibernéticos.
Noite de 2 de maio, 1982, guerra das Falklands/Malvinas. Em rápida sucessão, dois torpedos disparados pelo submarino nuclear britânico Conqueror perfuraram o casco do cruzador argentino General Belgrano. Entre dilacerados e queimados a bordo por explosões primárias e secundárias ou afogados no subsequente naufrágio, a Argentina perdeu naquela noite 323 marinheiros. Chocado, o almirantado argentino recolheu às bases todas as suas unidades, de onde nenhuma delas voltou a sair antes do fim das hostilidades. Dois torpedos, uma esquadra inteira fora de combate. Livre associação de ideias: se equipada com torpedos Shkval, a frota de submarinos Varshavyanka e Amur, comprados da Rússia pela Venezuela, terá capacidade teórica de varrer do Atlântico, em poucos dias, toda a sucata flutuante da atual marinha de guerra brasileira. Propelido por cavitação, esse míssil subaquático leva menos de um minuto para atingir qualquer navio ou submarino a dez quilômetros de distância, sem lhe dar tempo para manobra defensiva. Que dizer duma estática plataforma? Na vociferante controvérsia estratégica de hoje, a marinha de superfície aparece como ainda insubstituível para certas operações. Mas as armas decisivas de qualquer confronto aeronaval são agora submarinos, torpedos, aviões, helicópteros, mísseis -e respectivos meios cibernéticos.
Enquanto a Venezuela se arma nessa linha para atacar a Colômbia e instalar ali regime "bolivariano" aparelhado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (oportuno "casus belli" é questão de tempo), o Brasil boceja perante opções tardias de adequada resposta. Lembrado talvez da fábula "A Raposa e o Corvo", tal como recontada por La Fontaine, o presidente francês Nicolas Sarkozy tem recorrido a adulações marqueteiras para levar o ingênuo presidente brasileiro a preferir o Rafale para reequipamento central da Força Aérea Brasileira.
Não será de todo irrelevante lembrar que o bilionário senador Serge Dassault é amigo e patrocinador eleitoral de Sarkozy. Dassault controla a fabricante do Rafale e também importante segmento da mídia francesa (Apesar do que, neste ano, um tribunal lhe cassou o mandato de prefeito de Corbeil-Essonnes, municipalidade próxima de Paris, por compra de votos na última eleição). Dassault espera que o Estado francês o ajude agora a vender o Rafale. Ele e Sarkozy têm custeado, para isso, bajuladoras viagens à França de parlamentares e autoridades brasileiras com influência na decisão.Mas tão complexa equação seria acessível à maioria desses convidados? Cada variável corresponde a alguma opção aviônica (referente à parafernália eletrônica de bordo) ou de logística, ou ainda a fatores estratégicos, como autonomia tecnológica e garantias de reposição de material perdido em ação. A matéria, desafiadora até para refinadas seleções de especialistas, é decerto inacessível à análise de jornalistas leigos e políticos incultos. Note que, ao adiar o Programa FX, em 2003, Lula impôs ao Brasil irresponsável atraso ao já então precário reaparelhamento de nossa defesa.Caças-bombardeiros Sukhoi 30MK2, como os da Venezuela, sonho e pesadelo dos pilotos da FAB, são tidos como superiores a qualquer outro, com possível exceção do americano F/A 18 Hornet (dependendo de perícia dos pilotos, armamentos, aviônica). Os fabricantes de ambos, porém, recusam partilhar os segredos da respectiva tecnologia. A precaução visa tanto resguardar mercado quanto prevenir repasse -acidental ou intencional- a adversários potenciais.Os franceses prometem ser mais flexíveis quanto à transferência, não se sabe bem até que ponto. Mas o Rafale nunca foi testado em combate, é mais caro, e, por essas e outras razões, nunca venceu concorrência. Ao rejeitá-lo, como também a Índia o fez, a Austrália alegou uma razão que o Brasil deveria ponderar: raio de ação relativamente curto. O Rafale foi projetado para guerra na Europa, onde trajeto de mil quilômetros pode transpor meia dúzia de países. Não serve para a vastidão continental da Austrália. Que, aliás, é até pouco menor do que o Brasil.Transferência de tecnologia é decerto ponto essencial na barganha em curso. Fator decisivo da derrota da Argentina na guerra das Falklands/ Malvinas foi sua incapacidade de pronta reposição de arsenal e equipamento. Já em nosso caso, a prioridade imediata deve ser superioridade capaz de dissuadir os potenciaisagressores.
ALDO PEREIRA , 77, é ex-editorialista e colaborador especial da Folha
5 comentários:
De todas as informações apenas uma está errada. O Rafale já foi testado no Afeganistão.
O Sukhoi que seria meu preferido nunca foi testado e o Gripen nem existe.
Alguém realmente acredita que existe qualquer chance daquele palhaço da Venezuela tentar algo contra nós? Isso é absurdo.
Pablo, tem mais informação errada ali... o SU-30 da venezuela ainda não dispõe de misseis BVR (ou seja, até a combinação F-5M - Derby - R-99 joga-os no chão) e são de uma versão simples (nem TVC possui) e que não dão dentro com o RAFALE; Aliás, em comparação com o RAFALE F2, o SU-30 não dá dentro em 60% dos casos (Jane´s Defense). Imagine contra o RAFALE F3 armado com o Meteor, que é o do FX-2...
Meu nobre Pablo.
Eu também prefiro o Sukhoi, todavia não haveria transferência de tecnologia.
Com o Rafaele, aposto que São José dos Campos, em dez anos, estará fazendo um jato muito melhor.
Roberto - O SU-30 sendo uma variação do SU-27 é capaz de lançar todas as armas desse. Os SU-30 indianos, por exemplo, já na ativa dispara o R-27 que é um BVR e o R-77 de médio alcance.
Mestre Senna, tenho minhas dúvidas sobre isso. Nossa experiência depõe contra. O AMX foi um tiro no nosso pé. Tenho para mim que a Embraer não deve produzir caças. Os custos são altos demais, as incertezas idem. Países que contrõe caças fazem principalmente pela demanda interna e depois a externa. A SAAB por exemplo está mal das pernas mesmo tendo vendido alguns Gripens. O Brasil não possui grana e, na minha opinião, necessidade de produção de um caça. Lógico que a tecnologia agregada iria ser utilizada em projetos civis, porém tenho minhas dúvidas sobre esse transferência tecnológica. Niguém nos dará a capacidade de construir nossos próprios caças de bandeja.
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