Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Guerra no Rio


Glauco


Iotti

Artigo da antropóloga Alba Zaluar na Folha de hoje:


Polícia ainda é reativa

Os acontecimentos se sucederam tão rapidamente que deixaram os moradores sem fôlego, mas com a pulga atrás da orelha. Primeiro, os trens inexplicavelmente atrasados e parados, populares revoltados fazendo quebra-quebra. As evidências de sabotagem continuam sem investigação conclusiva. Depois, as invasões de favelas dominadas por outros comandos, cada vez mais espetaculares, com artilharia aérea que derruba um helicóptero.Por fim, os oito ônibus e um carro, todos queimados em áreas dominadas pelo Comando Vermelho, aliado do PCC.Considerando o estilo similar, parece que os dois comandos estão mesmo aliados.Mas era de se esperar que invasões e ações violentas fossem ocorrer. E os serviços de inteligência da polícia já haviam detectados alguns sinais. Poucos ainda, considerando o volume de operações na cidade que prejudicavam os negócios dos traficantes.Primeiro, a expansão das milícias, o comando azul que proíbe a entrada de armas, de traficantes e assaltantes, mas espanca, expulsa e mata quem não obedece suas leis na "comunidade", além de fazer outros negócios escusos com o transporte "alternativo" e na cobrança de taxa em qualquer transação imobiliária na "comunidade".As favelas mudaram de cor: em 2005, a grande maioria era vermelha, hoje a maioria é azul.Da zona oeste, as milícias já invadem a área mais próxima do aeroporto, do porto e da baía de Guanabara: os subúrbios cariocas. E ensinam que o controle no acesso às armas é possível.Depois, a ocupação permanente de favelas em pontos muito lucrativos de venda de drogas localizados nas áreas mais ricas e mais centrais da cidade. Ainda em andamento, aplaudida por muitos que vivem dentro e fora de comunidades, cercada de segredos e pouco discutida, essa operação não aproveita aquilo que revolucionou as polícias dos países do primeiro mundo: a proximidade com os moradores e a discussão conjunta dos problemas locais para traçar as prioridades na segurança.Certamente, a circulação de armas nas favelas, a mais grave insalubridade que hoje se encontra nelas, a que mais mata prematuramente seus filhos, seria uma delas.As ações dos últimos dias podem ser interpretadas como uma mensagem dura dos traficantes para o governo que atrapalha seus negócios. Mas certamente é também a prova de que as rotinas de uma polícia reativa, estabelecida há décadas nas polícias brasileiras, ainda não foram substituídas pela estratégia que permite antecipar-se às ações criminosas, como estas a que assistimos estarrecidos na telinha/ona da TV.
ALBA ZALUAR, antropóloga, é coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Violências da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)

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