Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

França Vivencia Choque Étnico e de Gerações


Bela análise sobre os tumultos franceses.Leia também Trabalhar? Para quê Trabalhar?


Mas por que a França tem tanto medo de seus jovens?


Luc Bronner do Le Monde

Entre seus 4 milhões de estudantes, por enquanto são somente algumas dezenas a centenas de milhares deles que se manifestam contra a reforma da previdência – mas eles apavoram os poderes públicos. Os baderneiros são alguns milhares, muitos deles vindos de bairros desfavorecidos, violentos e minoritários – mas eles afligem a sociedade que preferiria se esquecer, fora a época do aniversário dos tumultos do outono de 2005, da guetificação de parte de seus subúrbios.
A mobilização estudantil atual não tem muito a ver com a previdência – é muito mais profunda, mais grave, mais enigmática. Mais imprevisível também: embora as organizações de jovens tenham feito uma convocação para uma nova manifestação, na quinta-feira (21), ninguém é capaz de dizer se o movimento sobreviverá às férias de Todos os Santos, e sob qual forma. Ninguém sabe tampouco se os atos de violência podem se ampliar ou sair de cena tão bruscamente quanto surgiram.

Se a situação atual é de alto risco, é porque entram em colisão dois medos franceses: o medo tradicional, de uma sociedade que envelhece diante de sua juventude turbulenta; e o medo novo, de uma sociedade que se descobre multiétnica e multicultural. Na angústia coletiva do momento, revelam-se os tabus da França, sua grande dificuldade em se olhar de frente, seu temor em se aceitar como é, certamente porque, em nossa religião republicana, é difícil admitir que as promessas de igualdade e de integração não estão sendo cumpridas.


O primeiro tabu diz respeito à questão das gerações. No DNA dos políticos franceses, a juventude é primeiramente um perigo, uma ameaça antes de ser uma possibilidade ou uma esperança. Como se a lembrança de 1986 (Devaquet e as universidades), de 1990 (Jospin e os direitos dos estudantes), de 1994 (Balladur e o contrato de inserção profissional-CIP), de 2005 (Fillon e a reforma do bac [equivalente ao vestibular]) e de 2006 (Villepin e o contrato primeiro emprego-CPE), aos quais devem-se acrescentar os tumultos urbanos de 2005, houvesse definitivamente bloqueado o pensamento do poder público, paralisado unicamente pela questão da manutenção da ordem.

Ora, do ponto de vista das elites políticas atuais, os movimentos dos jovens não são somente perigosos em termos estritamente policiais. Eles o são muito mais quanto à essência, como mostram os trabalhos do sociólogo Louis Chauvel sobre os processos de rebaixamento social. Porque eles podem desestabilizar a relação entre gerações. Porque eles obrigam todos a verem como se opera a distribuição das riquezas entre faixas etárias. Porque eles levam a reavaliar as gerações no poder há 40 anos e a questionar a distribuição das dívidas entre os mais idosos, que se beneficiaram diretamente disso, e os mais jovens, que deverão pagar por isso.


O segundo tabu diz respeito à diversidade étnica. As elites políticas francesas – é muito menos verdadeiro para as elites econômicas – não se conscientizaram da nova cara da sociedade francesa, especialmente em suas grandes cidades, especialmente entre os jovens. A França continua a se ver como uma sociedade branca e relativamente uniforme. Em suas zonas urbanas, ela é na realidade totalmente mestiça. A ponto de a linguagem da periferia e a cultura urbana serem hoje as dominantes entre os jovens, fenômeno social e cultural subestimado.


Mas essa mestiçagem é acompanhada de um movimento de guetificação – outra realidade que perturba o poder público – com bairros que, na verdade, concentram os pobres, os jovens e os imigrantes em proporções inéditas. Ora, essa segregação não é neutra em termos de comportamento e de atos de violência, como acaba de mostrar o pesquisador Hugues Lagrange em seu livro “Le Déni des Cultures” [“A negação das culturas”, Ed. Seuil]. Se os parlamentares se preocupam como o risco de reprise dos tumultos do outono de 2005, se agora ocorrem incidentes em cada movimento estudantil, é primeiramente um efeito bumerangue da segregação urbana, social e étnica.


O movimento estudantil atual causa medo nos políticos, tanto de direita quanto de esquerda, porque ele reúne as problemáticas da juventude e da periferia, da igualdade entre gerações e da igualdade entre territórios. O problema é que as elites políticas não têm nenhum interesse em abordá-los de frente. A curto prazo – que é o tempo do político - , na verdade nem os jovens, nem a periferia têm rendimento eleitoral: os menores de 18 anos não votam, os jovens adultos se abstêm mais do que o resto dos eleitores, infinitamente mais que o eleitorado mais velho. A menos de dois anos da próxima eleição presidencial, o medo dos jovens continua sendo vantajoso.

Tradução: Lana Lim

2 comentários:

charlie foxtrot disse...

O problema da França não tão difícil de entender. Além da questão bastante evidente da imigração o o welfare state, tão celebrado, é um sistema caro demais que cria bolhas demais. Em tempos de crise algumas dessas bolhas estouram e a coisa toda fede. Mas é cíclico. Em alguns anos, depois que fizerem um bom enxugamento nos gastos, provavelmente o sistema volta a ser restabelecido.

Anônimo disse...

Em depoimento à PF, jornalista afirma que dossiê era “fogo amigo” entre tucanos
Líderes do PSDB tentavam culpar PT por quebra de sigilo de pessoas ligadas a Serra

A quebra dos sigilos fiscais de Luiz Carlos Mendonça de Barros, Verônica Serra, Eduardo Jorge Caldas e outros tucanos ligados ao candidato José Serra vinha sido atribuída ao PT por líderes do PSDB. Nesta semana, porém, as apurações da Polícia Federal conduzem a um caso de investigação interna no partido por motivação política.

O jornalista Amaury Ribeiro Júnior confessou ter contratado o serviço ilícito de investigação. E em depoimentos à Polícia Federal, afirmou que um grupo ligado a José Serra procurava montar dossiê contra Aécio Neves, que à época do pedido, em dezembro de 2007, era governador de Minas Gerais e travava uma disputa interna com Serra para definir quem seria o candidato do PSDB à Presidência.

A declaração foi dada no último dia 15 em depoimento e o documento foi obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo. O depoimento do jornalista indica que, ao contrário das acusações feitas por Serra, o dossiê contra pessoas ligadas ao tucano nasceu após uma disputa interna dentro do próprio PSDB. A campanha de Serra acusava o PT e pessoas ligadas à campanha de Dilma de ter encomendado a quebra de sigilo de tucanos e de familiares de Serra.

Amaury disse que decidiu, por conta própria, elaborar um dossiê. À época, ele trabalhava no jornal O Estado de Minas. Segundo ele, após obter informações de suas fontes jornalísticas, ele consegui descobrir que se tratava de “grupo que trabalhava pra José Serra, sob o comando do deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ)”. Segundo ele, no grupo havia pessoas ligadas ao Serviço Nacional de Investigação (SNI).

O pedido teria partido de Itagiba, delegado e à ocasião deputado tucano carioca, muito ligado a Serra e comandante do serviço de inteligência da Polícia Federal durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência. Itagiba teria montado, então, ação com ex-agentes da Polícia Federal e da Abin (órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência) para vasculhar ações de Aécio e procurar supostas irregularidades.

Aécio tinha interesse em ser candidato do PSDB à Presidência e, como tem alto índice de aprovação principalmente em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral e decisivo na disputa presidencial, era uma barreira para Serra. Em abril, o jornalista fez chegar aos ouvidos petistas a apuração, pois tinha interesse em participar da campanha de Dilma Rousseff. Mas o grupo que procurou não foi contratado pela campanha do PT.

Para o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o resultado das investigações “comprova o que dizíamos desde o início” sobre o suposto dossiê, de que “não houve solicitação, encomenda, ou ligação do PT ou da campanha” (de Dilma) relativa à quebra de sigilo de pessoas ligadas a Serra. "O que podemos constatar é que caiu por terra qualquer tentativa do candidato Serra de dar forma de estrela a esse episódio, a esse bicho. Esse bicho tem perna, pena e bico de tucano."

Dutra afirmou que ainda falta descobrir o “motivo”, daí o pedido de investigação sobre a suposta central de espionagem de Serra. "Não temos nem tivemos qualquer responsabilidade nesse episódio. Pedimos o primeiro inquérito, fizemos aditamento e agora a partir do que foi informado hoje estamos solicitando investigação dessa central de espionagem comandada pelo deputado Marcelo Itagiba, que além de tucano é araponga contumaz."

As informações são do portal R7.