Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Menas, Madureira, Menas!



Os insultos do Madureira


Domingo passado, cheguei em casa alquebrado da lida nas eleições, liguei a TV num suspiro e, por volta da meia-noite, assisti ao humorista Marcelo Madureira perpetrar um ataque contra o presidente Lula durante o Manhattan Connection. Madureira começou com crítica dura, mas foi se empolgando e logo descambou para a insulta chã. O adjetivo mais brando que empregou para classificar Lula foi “picareta”. Enquanto ele esbravejava, afirmando que iria “desmitificar” Lula, Diogo Mainardi erguia-lhe o braço, em comemoração:


– Eu voto no Marcelo!

A fúria do humorista não me surpreendeu. Já vi muitos assacarem contra Lula movidos pelo mesmo sentimento, a raiva, assim como já vi outros defendendo-o incondicionalmente.

Lula desperta paixões.

Por que será? Lula não é um radical, nem à direita nem à esquerda. Tampouco é um picareta. Foi um bom presidente, como o foram Fernando Henrique e Itamar Franco. Mas o melhor dos três foi Itamar. O Plano Real, concebido em seu governo, salvou o Brasil e asfaltou o caminho para Lula e FHC.

De Lula há que se lamentar a oportunidade que perdeu. Um presidente com sua sensibilidade social e com 80% de aprovação poderia ter promovido mudanças estruturais. Mas se passaram oito anos e Lula não fez a reforma da Educação Básica, que é a centelha de vida da alma de um país; não fez a reforma política, e assim permite que a corrupção continue campeando; não fez a reforma tributária, punindo quem trabalha e produz; não fez a reforma previdenciária, e por isso ainda vamos pagar muito caro; não fez a reforma do funcionalismo, e por isso já estamos pagando muito caro.


Lula poderia ter transformado os alicerces do Brasil. Poderia ter feito um governo que se refletisse nos próximos 50 anos, como se reflete ainda o de Getúlio Vargas. Mas, não. Lula preferiu não se arriscar. Compreensível: até a reforma do piso da cozinha incomoda.


Só que o fato de ele ter perdido essa oportunidade não é o suficiente para despertar as paixões violentas que desperta. Ao contrário: o fato de Lula ser um presidente tão comportado quanto FHC deveria tornar mornos os arroubos mesmo de quem o detesta, como Madureira e Mainardi.


Suspeito de que o que faz de Lula um ser odiado por alguns é o mesmo que o aproxima da grande parcela da população: sua autenticidade que bordeja a vulgaridade. O poder necessita de alguns paramentos. A nobreza foi inventada para que os nobres se beneficiassem, sim, mas também para que os plebeus tolerassem ser comandados por eles. Mando sem nobreza é difícil de se justificar. Para certas pessoas, é insuportável saber que o poder máximo do país é exercido por um tipo gordote que, nas férias, equilibra na cabeça uma caixa de isopor cheia de latinhas de cerveja, vestido de calção Adidas e chinelo de dedo, a caminho do piquenique com a nega veia, a Marisa Letícia.

Lula é o presidente da República, mas parece o borracheiro da oficina mecânica. Se fosse alto, magro e elegante, poderia fazer picaretagens, que ninguém o chamaria de picareta na TV.
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Artigo de David Coimbra na Zero Hora de hoje.

4 comentários:

guimas disse...

"De Lula há que se lamentar a oportunidade que perdeu. Um presidente com sua sensibilidade social e com 80% de aprovação poderia ter promovido mudanças estruturais. Mas se passaram oito anos e Lula não fez a reforma da Educação Básica, que é a centelha de vida da alma de um país; não fez a reforma política, e assim permite que a corrupção continue campeando; não fez a reforma tributária, punindo quem trabalha e produz; não fez a reforma previdenciária, e por isso ainda vamos pagar muito caro; não fez a reforma do funcionalismo, e por isso já estamos pagando muito caro."

Isso é o que mais me irrita na crítica a Lula.

Lula não consertou o Brasil e os brasileiros.

Que visão mais pequena, mesquinha, egoísta, míope.

Lula tem 80% de popularidade e não usou isso para transformar, em oito anos, todo o Brasil numa Suíça. Não promoveu "mudanças estruturais", e os 30 milhões que saíram da miséria o fizeram por conta da fada madrinha.

Se Lula poderia ter feito mais, que se aponte, sem termos genéricos, como poderia tê-lo feito. "Não fez a reforma política" é o mesmo que dizer "não acabou com a corrupção". Genérico, demagógico, sem valor.

É muita politiquinha pro meu gosto. David Coimbra devia se limitar a escrever de futebol. Ou não escrever.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, Lula podia, com sua popularidade e a precária oposição, fazer as reformas que o Brasil precisa e muitas delas são impopulares. Lula não teve essa coragem e acho que nem Dilma terá, porque dificilmente (e acho infelizmente que ela será eleita) ela terá a popularidade de Lula.

Mas o Brasil precisa, com urgência, fazer reforma política (acabar com o financiamento privado de campanha) fazer reforma na CLT da era Vargas que é um instrumento de atraso deste país, fazer reforma previdenciária e administrativa para que esse país tenha melhores condições de navegar para a frente, e nunca para trás.

guimas disse...

Maia,

Concordo contigo que Lula poderia ter avançado. Mas quem foi que propôs avanços? Quem se mexeu pra mudar algo?

Nenhum político quer a reforma política. Nem o PT, nem o PSDB.

A maior reforma que pode ser feita sem envolver um infindável debate social é a redução da miséria, e neste ponto o governo Lula foi bem.

Quantas reformas previdenciárias precisamos? FHC teve uma, Lula teve outra. Já ouvi que a previdência é superavitária na zona urbana, e que o problema é a pobreza da zona rural. Onde mais precisamos avançar?

Reforma administrativa? Como, quando e onde? O que precisa mudar? Se estamos insatisfeitos com o serviço público, por que não exigir mais qualidade lá? Por que tratar a questão como "emprego pra cumpanherada", como a oposição faz?

Enfim, de todas as minhas dúvidas, fica aparente uma só coisa: se Lula fez pouco, a oposição fez muito menos.

E não é Serra falando mal de Dilma por causa do aborto, propondo 10% de aumento pros aposentados ou salário mínimo de R$ 600,00 que vai mudar algo.

Continuo dizendo: precisamos de oposição. Se Serra ganhar as eleições, vamos ter quatro anos de revisionismo, personalismo. Quatro aninhos parados discutindo se Lula acertou ou errou, se era bom antes ou não.

Precisamos de oposição!

senna madureira disse...

Maia

Por favor, "pega leve" com meu primo.

Ele passa problemas serios de cabeça.