Foi muito morno e chato o debate dos presidenciáveis ontem na RedeTV. A única parte mais interessante foram as perguntas das jornalistas que colocaram os dedos nas feridas dos candidatos. Dilma se saiu melhor do que no debate da Band, mas ela é, convenhamos, muito fraquinha. Ela se esforça para posar de simpática e confiável, mas não consegue. E o Serra foi o Serra -- ele não anima, mas também não desanima.
Boa análise do debate fez Carlos Melo. no Estadão:
Nos primeiros blocos, Dilma Rousseff insistiu no tema "privatização", que deveria ser página virada - mas, aborto e religião também. No entanto, revelou-se sua intenção de vincular o tema ao pré-sal, bandeira empunhada como solução para todos os males. José Serra se viu preso a justificativas por mais tempo do que seria razoável. O tucano focou em suas realizações. Insistiu no que vai se constituindo como bordão: "fiz isto, fiz aquilo!". A "comparação de biografias" soa arrogante e "paulistocêntrica" para o conjunto do País.
A lição básica deste e dos debates anteriores é que o modelo se esgotou: não se discute com profundidade, candidatos respondem o que bem entendem e são ágeis em acusar o adversário de não ter respondido. Estabelecem vetos cruzados e pactos tácitos. Erenice e Paulo Preto surgiram somente pelas vozes das jornalistas. A petista pareceu melhor treinada neste ponto. O tucano justificou seu "esquecimento" em relação ao assessor com uma esfarrapada tangente sobre racismo: o "preto" de Paulo. Ninguém saiu definitivamente derrotado, mas não foi proveitoso.
3 comentários:
Folha de S.Paulo
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Serra em transe
SÃO PAULO - Não resisto a uma provocação inicial: a blogosfera estaria em polvorosa e os serviços da ombudsman da Folha amanheceriam entupidos de mensagens indignadas contra o jornal se a notícia não dissesse respeito a Monica Serra, mas a Dilma Rousseff.
Isso dito, é claro que é polêmica a publicação do relato de uma ex-aluna da mulher de Serra dando conta de que ela (Monica), em sala de aula, revelou já ter praticado um aborto. Não se trata de uma notícia qualquer. Ela coloca em conflito o direito à informação, de um lado, e o direito à privacidade, de outro.
Haverá, neste caso, bons argumentos a favor e contra a publicação. Penso que a Folha acertou, por duas razões principais: com o aborto alçado a tópico da disputa eleitoral (e por obra de Serra), o episódio passou a envolver evidente interesse público. E, tão importante quanto isso: Monica Serra havia dito, há um mês, em campanha pelo marido no Rio, que Dilma era a favor de "matar criancinhas", numa clara alusão à posição da petista sobre o aborto. Ao assumir como sua, e nos termos que fez, a campanha do marido, Monica fixou para si as regras do jogo que estaria disposta a jogar.
O caso (tão desconfortável, tão cheio de implicações desagradáveis a quem o aborda) permite, ou exige, uma reflexão de ordem mais geral. O PT tem sido acusado, quase sempre com razão, de ser capaz de qualquer coisa para se manter no poder. Isso virou um mantra, a despeito da sua veracidade. Mas Serra não está se revelando, já faz tempo, alguém disposto a pagar qualquer preço para chegar ao poder?
Essa pantomima de devoção e carolice que se apossou da campanha tucana (e que nada tem a ver, como parece óbvio, com respeito efetivo pela religiosidade do povo) é a expressão patética de que tudo (biografia, valores, familiares) está sendo sacrificado em nome de uma ideia fixa. Serra sonha ser presidente. Mas se parece, cada vez mais, com o personagem de Paulo Autran em "Terra em Transe".
Gráfica de tucana fez panfletos anti-Dilma
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BRENO COSTA
DE SÃO PAULO
A Polícia Federal apreendeu ontem, por determinação da Justiça Eleitoral, cerca de 1 milhão de panfletos que pregam voto contra o PT devido à posição favorável à descriminalização do aborto.
A gráfica que imprimia os jornais pertence à irmã do coordenador de infraestrutura da campanha de José Serra (PSDB), Sérgio Kobayashi.
Arlety Satiko Kobayashi é dona de 50% da Editora Gráfica Pana Ltda, localizada no Cambuci, na capital paulista.
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A empresária é filiada ao PSDB desde março de 1991, segundo registro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O ministro do TSE Henrique Neves concedeu liminar para a apreensão dos panfletos atendendo a representação do PT para apuração de crime de difamação. O partido também pede investigação sobre quem pagou a impressão do material.
Sérgio Kobayashi atribuiu ontem a uma coincidência o fato de a gráfica Pana ter sua irmã como sócia. A assessoria da campanha de Serra negou qualquer relação entre o candidato e a produção dos panfletos, nem por meio de encomenda, financiamento ou indicação de gráfica.
"A campanha de José Serra não aceita a insinuação de conluio de qualquer tipo entre a atividade eleitoral e a Igreja Católica. É um desrespeito à Diocese de Guarulhos e à própria Igreja imaginar que possam ser correia de transmissão de qualquer candidatura. A Igreja Católica não é a CUT", diz a nota.
Responsável pelo contato com a gráfica, Kelmon Luís de Souza afirmou que encomendou 20 milhões de panfletos em nome da diocese e que o dinheiro para a impressão veio de "doações pesadas de quatro ou cinco fiéis".
Olá, Maia.
Também achei um debate chatinho, mas não por falta de maior “voracidade” de argumentações – como parece que querem alguns, acredito que este não seja o caminho. O que é chato é ver a falta de discussões realmente necessárias num debate de presidenciáveis, é lamentável o foco que os candidatos dão à tentativa de diminuir o adversário. A Dilma só tem esta arma – a de tentar diminuir o outro –, o Serra está municiado com sua biografia. Na minha modesta opinião, num debate a biografia é legítima, faz parte do processo; quanto à arma de Dilma, bom, só serve para ilegitimar o debate.
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