Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 30 de junho de 2008

Annie Leibovitz









Para encontrar a americana Annie Leibovitz é preciso mostrar a que se veio. Quem quer que seja deve enviar seu currículo ("detalhado, por favor") com antecedência. E, de todo modo, não espere muita coisa: você terá no máximo 20 minutos com ela.Aos 58 anos, a fotógrafa das estrelas imortalizou todos os que contam no planeta, sejam políticos, esportistas, atores, cantores ou empresários, de George Bush a George Clooney, de Patti Smith a Bill Gates.E as maneiras de seus modelos parecem ter-se decalcado nela. Para o vernissage em Paris de sua exposição na Casa Européia da Fotografia [até 14/9], ela chegou de limusine.E suas entrevistas mais parecem "junkets", esses pequenos encontros em série que os astros do cinema fazem com a imprensa internacional.Destaque da revista "Vanity Fair" há 25 anos, ela começou na "Rolling Stone" com 20 anos, em 1970, clicando os heróis da era rock and roll. Quem não se lembra da simbólica foto de John Lennon nu, enrodilhado em Yoko Ono, feita horas antes de seu assassinato?Outras imagens suas também causaram sensação, como a de Demi Moore, em 1991, grávida de oito meses e vestida apenas com um enorme anel de brilhantes. Hoje Annie Leibovitz é a retratista mais requisitada do mundo. E a mais cara.Mas de perto a fotógrafa americana não tem nada de estrela. Calma, direta, vestida descontraidamente, sem nenhuma maquiagem, deixa claro que seu modo de vida não tem nada de glamouroso."Eu não almoço com Mick Jagger, se é o que você quer saber. Há algumas pessoas das quais me tornei amiga, como Patti Smith, mas é muito raro.Todos nós temos agendas sobrecarregadas." E acrescenta: "De todo modo, não tenho necessidade de muitos amigos".A fotógrafa não recua diante de nada para tirar "a" foto: mandar construir um aquário gigante para nele mergulhar a atriz Kate Winslet ou obrigar Demi Moore a suportar 13 horas de maquiagem para aparecer nua com um falso figurino pintado sobre o corpo.Ninguém se recusa a posar para Leibovitz. Mas, mesmo para a estrela da fotografia, a liberdade é estreitamente vigiada. Na indústria em que se tornou a celebridade, Leibovitz é antes de tudo uma engrenagem eficaz. E sabe disso."Está no meu contrato que devo fazer capas, mas não gosto. As capas servem para vender, as revistas são obcecadas por elas. Não posso pedir que as pessoas posem com suas roupas de todo dia, elas têm de usar marcas. Nesse nível deixa de ser uma foto, é publicidade." Fotos irônicasEla gosta mais das fotos irônicas, como a do bilionário Donald Trump, ridículo ao lado de sua mulher muito jovem e grávida, vestida com um biquíni dourado, ao pé de um jatinho."São as que prefiro. Mas nem sempre é possível." A maioria de seus retratos são imagens eficazes e espetaculares, que quase sempre atingem o alvo.Ao contrário das celebridades que fotografa, Leibovitz fala à vontade sobre sua vida privada. Sua exposição nasceu de um livro intitulado "La Vie d'une Photographe - 1990-2005" [A Vida de Uma Fotógrafa], que mistura suas fotos de estrelas em ricas cores com um grande número de imagens pessoais em preto-e-branco.Ou seja, de um lado um mundo de sonho e beleza, onde o tempo não passa. E, do outro, um mundo de dor e tristeza.Pois, apesar de alguns instantes de felicidade familiar, como o nascimento de suas três filhas, lembramo-nos sobretudo das imagens que mostram a famosa ensaísta Susan Sontag, que foi sua companheira durante 15 anos, definhando de câncer em um hospital e finalmente morrendo."Quando fiz esse livro, vi as fotografias desse período e percebi que as mais importantes para mim eram as fotos pessoais. Susan acabara de morrer, meu pai acabara de morrer...Em certo momento isso coloriu toda a minha vida."Seu discurso desacelera.Tenta explicar por que fez essas fotos. "Quando os tratamentos fracassaram, me obriguei a fotografar. Susan teve uma morte horrível, dolorosa. Quando estamos assustados, angustiados, recorremos ao que nos define.Tinha a fotografia antes de conhecer Susan, e a teria depois dela. Utilizei-a como consolo."Sua emoção é visível, mas se recompõe rapidamente. Fotografou celebridades demais para se deixar levar pela ilusão das imagens. "Você sabe, são apenas fotos. Fabrico uma história.Mas não é a vida." Os 20 minutos se passaram. Annie Leibovitz cumprimenta a repórter pelas perguntas. Ela gostaria de continuar, então propõe que você lhe telefone mais tarde. Mas alguns dias depois sua secretária lhe dirá que ela está ocupada demais.

Artigo de Claire Guillot que saiu no Le Monde e foi publicado ontem no Caderno Mais da Folha.



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