Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Deus, Alcorão e os Bons Muçulmanos


texto de Ayaan Hirsi Ali que estará na próxima segunda, dia 30 em Porto Alegre RS, no Fronteiras do Pensamento, publicado na Zero Hora de sábado.



Meus pais me educaram para ser muçulmana - uma boa muçulmana. O Islã dominava a vida e as relações da minha família, até os mínimos detalhes. Era nossa ideologia, nossa convicção política, nosso padrão moral, nossa lei e nossa identidade. Antes e acima de tudo, éramos muçulmanos e, só então, somalis.Muçulmanos, conforme aprendemos, são aqueles que se submetem à vontade de Alá, expressa no Alcorão e no Hadith, uma coletânea de dizeres atribuídos ao profeta Maomé. Aprendi que o Islã nos separa do resto do mundo, o mundo dos não-muçulmanos.Nós muçulmanos somos escolhidos por Deus. Eles, os outros, os kfur, os infiéis, são anti-sociais, impuros, bárbaros, incircuncisos, imorais, inescrupulosos e, acima de tudo, obscenos; suas meninas e mulheres são prostitutas, pelas quais eles não têm o menor respeito; muitos dos homens são homossexuais; homens e mulheres fazem sexo fora do casamento.Os infiéis são malditos, e Deus lhes reserva as mais atrozes punições no além.Há cerca de 12 anos, aos 22, cheguei à Europa Ocidental fugindo de um casamento arranjado. Logo percebi que, ali, Deus e sua verdade haviam sido humanizados. Para os muçulmanos, a vida terrena não passa de um estágio transitório que antecede o que está por vir. Na Europa, porém, é permitido investir nesta vida mortal. E mais, o inferno parece já não existir, e Deus é um deus de amor, não um senhor cruel que distribui castigos.Experiências pessoais, extensas leituras e conversas levaram-me a entender que a existência de Alá, dos anjos e demônios e da vida após a morte são, no mínimo, questionáveis. Ainda que Deus exista, não devemos tomar sua palavra como absoluta, mas desafiá-la. Certa vez, escrevi sobre minhas dúvidas quanto à nossa fé, na esperança de iniciar uma discussão. Fui imediatamente hostilizada por muçulmanos zelosos, homens e mulheres que queriam minha excomunhão.Chegaram ao ponto de dizer que eu merecia a morte, pela ousadia de questionar a verdade absoluta da palavra de Alá. Levaram-me ao tribunal para me impedir de criticar a fé na qual nascera e de fazer perguntas acerca das regras e dos deuses que nos foram impostos pelo mensageiro de Alá.Um fundamentalista islâmico assassinou Theo van Gogh, o cineasta holandês que me ajudou a filmar Submission: Part 1, um filme sobre o relacionamento entre o indivíduo e Deus ou, mais especificamente, entre a mulher e Deus. E ameaçou matar-me também, uma ameaça que outros prometeram cumprir.





AYAAN HIRSI ALI

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