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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 4 de junho de 2008

O Crime e Castigo do Sonho de Cassandra

Ewan McGregor é Ian e Colin Farrell é Terry. Os dois irmão do Sonho de Cassandra de Woody Allen


A fase londrina de Woody Allen está sendo bem proveitosa. Um dos grandes filmes de Allen é match point - totalmente filmado em Londres -- e seu recente filme, o Sonho de Cassandra, não fica atrás. Recomendo.
Depois que sai do cinema, fiquei tentando reaver na minha memória como era mesmo o mito de Cassandra dos gregos. Cliquei na wikipedia e li:


A mitologia grega conta-nos como Cassandra e o seu irmão gêmeo, Heleno, ainda crianças, foram brincar para o Templo de Apolo. Os gêmeos brincaram até ficar demasiado tarde para voltarem para casa, e assim, foi-lhes arranjada uma cama no interior do templo. Na manhã seguinte, a ama encontrou as crianças ainda a dormir, enquanto duas serpentes passavam a língua pelas suas orelhas. A ama ficou aterrorizada mas as crianças estavam ilesas. Como resultado do incidente os ouvidos dos gêmeos tornaram-se tão sensíveis que lhes permitiam escutar as vozes dos deuses.
Cassandra tornou-se uma jovem de magnífica beleza, devota servidora de Apolo. Foi de tal maneira dedicada que o próprio deus se apaixonou por ela e ensinou-lhe os segredos da
profecia. Cassandra tornou-se uma profetisa, mas quando se negou a dormir com Apolo, ele, por vingança, lançou-lhe a maldição de que ninguém jamais viesse a acreditar nas suas profecias ou previsões.
Cassandra passa então a ser frequentemente considerada como louca ao tentar comunicar à população troiana as suas inúmeras previsões de catástrofe e desgraça.
A gravidade da incredibilidade das previsões e profecias de Cassandra levaram à queda e consequente destruição de Tróia, quando esta viu frustradas as suas sucessivas tentativas de implorar a Príamo que este destruísse o cavalo de madeira (
Cavalo de Tróia) divisado por Ulisses para a conquista de Tróia pelo seu interior.

No filme de Woody Allen, Sonho de Cassandra é o nome de um barco, comprado por dois irmãos: Terry e Ian. Ian é ambicioso e sonha com uma vida de riqueza e sucesso. Terry é viciado em jogo, bebida e remédios, ele acredita na sorte, mas um dia se afunda nas dívidas do pôquer. Um quer mais dinheiro e outro tem que pagar as suas dívidas com a usura. O que fazer? Simples, procurar o tio rico.

Mas o tio rico está em apuros fiscais e um homem não pode abrir a boca. Ele tem que ser morto. Em troca da promessa de ajuda e recompensa financeira, o tio pede que seus sobrinhos matem este homem.

A Dulce Critelli, terapeuta existencial e professora de filosofia da PUC-SP, escreveu na Folha o seguinte:
O que acontece com eles após esse assassinato premeditado? Ian acredita que fez o que deveria fazer para poder ter o sucesso com que sonhava. Terry arde em culpa e em remorso e, não suportando conviver com a memória do gesto cometido, pensa em se entregar à polícia ou em se suicidar. Em uma conversa com o irmão, pergunta: "... e se Deus existir?" É como se perguntasse: qual é o castigo para quem faz o mal? Terry é o personagem em quem se manifesta uma das marcas mais originárias da nossa condição humana: somos criaturas nas quais a consciência se desdobra em consciência moral. Distinguimos entre o bem e o mal e, então, nos angustiamos diante de nossas ações. É o que nos conta o Gênesis. Por meio da consciência do bem e do mal, descobrimos nossa presença no mundo e nos entendemos como criaturas individualizadas, capazes de compreensão, de escolha e de decisão. Assim como Dostoiévski, Woody Allen parece afirmar que o homicídio premeditado é o principal ato humano em que a consciência moral se torna totalmente emergente. Sem as justificativas que atenuariam o seu significado, como a guerra ou a defesa da própria vida, o homicídio premeditado implica uma escolha deliberada. Enquanto Terry se consome no arrependimento, Ian, o outro irmão, tenta justificar seu ato como uma espécie de solidariedade familiar, mas age em benefício próprio, em nome do enriquecimento pessoal. Ian representa a consciência moral do homem moderno que elegeu a riqueza como o único deus diante do qual se curva e diante do qual pode se sentir fracassado, mas sem angústias. O assunto do filme coincide com o conjunto de acontecimentos recentes: homicídios, estupros, seqüestros, torturas políticas... E a pergunta de Terry certamente está em nossa própria consciência. E se Deus existir?

Ora, se deus ou Deus existir ou não..... levante dessa cadeira e vá ver o filme, vivente!

Um comentário:

Flavia disse...

Excelente análise!!!!!!!!!!