Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Potencial - Desperdiçado - de Porto Alegre

Vista do cais do porto de Porto Alegre, onde o muro da Mauá separa a cidade do Guaíba.


Não é porque eu sou portoalegrense, porque cresci e vivo em Porto Alegre que vou puxar o saco da cidade onde moro. Mas sempre achei - até porque conheço diversos lugares do mundo, porque tive o privilégio de viajar por ai - que o potencial de Porto Alegre para o turismo é muito razoável. Porto Alegre é uma cidade bem arborizada, com bairros de boa qualidade de vida, com excelentes parques, mas falta muita coisa. O que emperra Porto Alegre de ir adiante e olhar para a frente é a disputa política e o preconceito ideológico. Não existe espírito de convergência. Quando algum governo tem alguma idéia, por exemplo, de revitalizar o centro de Porto Alegre e integrar o rio Guaíba, a oposição é contra, inventa histórias, diz que estão querendo privatizar o porto etc.. Assim tem sido sempre, infelizmente. Há quanto tempo, Porto Alegre espera para que seja aprovado um projeto decente, em parceria com a iniciativa privada, de revitalização do porto? E certa esquerda, que anda por aí, foi contra, inclusive a abertura da Av. Beira Rio e foi contra a construção do Museu Iberê Camargo, porque realizado pela Lei Rouanett. Mas a entrevista abaixo que copiei e colei da Zero Hora de domingo, do arquiteto português, José Paulo Mateus, professor da Universidade Internacional da Catalunha, de Barcelona (Espanha), e fundador da Trienal de Arquitetura de Lisboa, visitou Porto Alegre nesta semana e ficou impressionado com a cidade. Um dos palestrantes do fórum Porto Alegre, Uma Visão de Futuro, promovido pela Câmara Municipal, ele acredita que a Capital tem beleza "espantosa" e pode atrair visitantes de fora - se souber aproveitar o potencial do Guaíba. Para ele, o recém-inaugurado edifício da Fundação Iberê Camargo vai gerar uma peregrinação de arquitetos à cidade. Leia a entrevista:

Zero Hora - Qual foi a sua impressão sobre os potenciais de Porto Alegre?

José Mateus - Há cidades onde nós, passado um dia, não conseguimos identificar aspectos fortes que possam ser utilizados para reforçar a identidade e a capacidade de atrair pessoas. Mas aqui achei aspectos muito interessantes e fortes, como a topografia e a arborização. Um dele é a presença do Guaíba, que tem uma beleza, uma configuração e um potencial incríveis. O Guaíba deveria ser o enfoque de qualquer plano para a cidade. Ele é espantoso. Não sei se a gente de Porto Alegre consegue ter consciência disso, mas para quem vem de fora é algo notável.

ZH - Esse potencial está sendo mal aproveitado?

Mateus - Há cidades onde chegamos e percebemos que a vida é atraída para um lugar. Estive em Pisa, na Itália, há pouco tempo, e a vida flui em direção ao rio, que é um rio bastante modesto, mas que atravessa o Centro. À noite, as pessoas todas se aglomeram ali. Aqui, a sensação que eu tive ao circular de automóvel ao longo da orla ribeirinha era de que não havia uma presença de atividade humana, de funções e de dinamismo que tirasse partido do rio.

ZH - Em Porto Alegre, o que poderia ser feito para aproveitar o potencial do Guaíba?Mateus - Criar para cada zona da cidade um concurso de idéias no qual todos os arquitetos e engenheiros poderiam propor diferentes visões. No caso da área central de Porto Alegre, o muro constitui uma opacidade, uma barreira que desde logo bloqueia o acesso e o visual. Já vi casos em que muros como aquele podem acabar por permanecer, com algumas fendas de passagem.

ZH - A justificativa para manter o muro é que ele protege a cidade contra cheias do Guaíba. Ele é realmente necessário?

Mateus - Houve alguma cheia que tivesse ocorrido desde que foi construído o muro? A mim disseram que não. A questão que coloco é se não vão passar cem anos em que as pessoas não fruíram o rio e em que não houve nenhuma cheia. Será que compensa pagar esse preço tão elevado? Não sei se não há outras formas de transformação, até topográfica. Acho que poderia ser interessante ver, por exemplo, como na Holanda (boa parte do país está abaixo do nível do mar) vencem esse tipo de problema.

ZH - Pensar em uma solução para aquela área do Guaíba poderia combater a degradação do Centro?Mateus - Sem dúvida. O Guaíba seria o ponto de partida. O projeto teria de estabelecer a ligação entre esse espelho extraordinário de água e a cidade, produzindo pontos de atração, fluxos de ciclovias, equipamentos culturais, equipamentos lúdicos, etc. Eu circulei e vi imensa vida pela rua afora. Mas vi que era uma área decadente.

ZH - Porto Alegre tem potencial turístico?Mateus - Quanto mais a cidade tiver pontos de atração como o rio, mais atraente se torna para quem vem do Exterior. Porto Alegre tem uma beleza extraordinária da zona ribeirinha que pode aproveitar. E agora tem o Iberê. Acho que vai haver uma peregrinação de arquitetos e depois de muita gente a Porto Alegre. Será um efeito Bilbao (cidade espanhola que passou a atrair visitantes depois de inaugurar um museu de arquitetura arrojada). Com a diferença de que Bilbao é feia. Cheguei aqui e fiquei surpreendido: esta cidade tem imenso potencial. Há cidades que não têm, que nós forçamos para encontrar justificativas para as pessoas irem ali. Nesta não é assim.

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