Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Livrar a Política do Dinheiro - Oded Grajew


A Folha publica hoje um bom artigo do empresário Oded Grajew -- que gosta de circular nos fóruns da esquerda. Eu concordo com ele.


Livrar a política do dinheiro

ODED GRAJEW


O CÂNCER da corrupção se instalou na política institucional, está avançando, ameaça se tornar uma metástase e matar o que resta de credibilidade nas instituições públicas e na democracia. O pior que pode acontecer é atribuir tal calamidade a determinado partido, governo, pessoa, razões históricas e culturais ("brasileiro é assim mesmo"). Ou ainda a questões morais, já que o que nos restaria seria oscilar entre o pessimismo e o fatalismo ("não tem jeito mesmo") ou achar que, mudando de partido, governo, pessoa ou apenas pregando valores morais, acabaríamos com a corrupção na política. Já que a corrupção é quase generalizada, precisamos tomar consciência do processo que gera tantos desmandos. Quem tem um pouco de informação do que ocorre na política sabe que o processo danoso se chama financiamento de campanhas eleitorais. Para se eleger, é preciso arrecadar cada vez mais recursos, pois as campanhas são ainda mais caras. Quem não consegue arrecadar uma boa quantia de dinheiro tem pouca chance de se eleger. Quem investe nos candidatos quer retorno, e a maioria dos políticos passa metade do mandato tentando retribuir as doações e a outra metade tentando assegurar recursos para a próxima eleição. O retorno se dá ou por medidas que beneficiam só os doadores ou por meio de acesso privilegiado a recursos públicos. Não conheço nenhuma empresa que goste de ver seu nome aparecer na lista oficial de doadores. Por isso, a grande maioria dos recursos de campanha (mais de 80%) tem origem em caixa dois e em outras atividades ilegais que, infelizmente, ganham cada vez mais influência na política. Esse sistema perverso produz uma classe política em geral de baixíssima qualidade (com minoritárias e honrosas exceções), que não hesita em usar o cargo para o enriquecimento pessoal e para a formação de vultosas caixas de campanha. A política está virando um grande negócio movido majoritariamente por dinheiro ilegal, que pavimenta o caminho da eleição e cobra retorno lesivo à democracia e aos interesses sociais, econômicos e éticos do Brasil. Não podemos nutrir nenhuma esperança de que o Congresso Nacional introduza mudanças profundas no processo político pela simples razão de que essas mudanças inviabilizarão a carreira política da maioria dos atuais políticos que chegaram ao poder graças ao sistema atual (é por isso que nunca sai do discurso uma verdadeira reforma política). Mudanças para valer serão, por exemplo:

1- cada candidato ter direito a um valor fixo e predeterminado para sua campanha, a depender do cargo pretendido (valores diferentes para cargo de vereador, deputado, senador, prefeito, governador e presidente);

2- o candidato poder optar por recursos privados ou públicos, alegando que não quer usar o dinheiro do contribuinte ou que não quer ter "rabo preso" com ninguém (é assim em alguns Estados nos Estados Unidos);

3- o candidato ter que publicar diariamente, via internet e na porta do comitê eleitoral, as suas despesas;

4- o candidato e o doador que cometerem irregularidades serem punidos de forma rigorosa.


Além de permitir que pessoas de bem, mas sem recursos, possam se eleger (o que é muito difícil atualmente), esse sistema permitiria aos eleitores, durante a campanha eleitoral, saber quem financia a campanha do candidato. Também ofereceria instrumentos à sociedade, à mídia, à Justiça Eleitoral e aos adversários políticos para detectarem quando o candidato omite alguma despesa ou quando desenvolve atividades acima do limite legal dos recursos disponíveis (uso de recursos ilegais). Com tais medidas, seria arriscado e tecnicamente muito difícil burlar a legislação. As campanhas seriam menos caras. Aos cidadãos ficaria claro a serviço de quem estão os candidatos que recebem doações privadas, e a possibilidade de usar recursos públicos para as campanhas tornará os políticos mais comprometidos com as causas públicas. Creio que chegamos ao ponto em que participar é dever cívico e ético, e omissão é cumplicidade. Os riscos para a nossa democracia (demonstrados pela baixíssima credibilidade da classe política, segundo pesquisas de opinião) são enormes. Uma possibilidade que vejo, não apenas para protestar, mas principalmente para viabilizar propostas como essas, é uma ampla e forte mobilização da sociedade. Foi assim que mudanças profundas aconteceram no Brasil. Quanto antes, melhor!

2 comentários:

carlos murilo rocha disse...

Sensacional o artigo, abaixo um artigo que escrevi em 2003 para um jornal local e que trata do mesmo assunto












OU O BRASIL ACABA COM OS POLÍTICOS OU OS POLÍTICOS ACABAM COM O BRASIL



Caro leitor, não quero vender nada para você, pelo contrário, quero proteger a minha carteira e a sua do assalto que é feito ao dinheiro público, portanto, assalto aos nossos bolsos.
Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sabe e sente que muita coisa precisa ser mudada nesse país.
Mas por onde começar ?
Ora, pelo começo, pela política, pelos que são escolhidos para administrar os negócios de nosso país.
`Só que para mudar a política não podemos usar nem depender dos políticos, nem dos partidos existentes, eles nunca vão cortar a própria carne, eles nem vão querer matar a galinha de ovos de ouro, eles não vão querer largar o osso.
Mas alguém poderá dizer: mas tem gente honesta entre os políticos. Tem. Mas é minoria e não conseguem mudar nada. Portanto, só nós, a sociedade civil podemos fazer isto.
Como ?
Antes quero deixar claro que se trata de um protesto, uma idéia, um esboço do que podemos fazer. Detalhes técnicos, jurídicos, etc. serão elaborados à medida que o processo for acontecendo.

Mostre esta carta ai seu vizinho, tire xerox e distribua na sua rua, faça uma reunião das pessoas da sua rua, da rua para o bairro, do bairro para a cidade. Depois cada cidade coordenará um comitê para colher assinaturas que com outras cidades conseguiremos os números exigidos para fazer as mudanças constitucionais necessárias no nosso sistema político-partidário-eleitoral e eleger os novos representantes que serão triados pelos mesmos comitês que colheram as assinaturas e que terão os seguintes pré-requisitos:

1. Nenhum parlamentar (senador, deputado, vereador) terá salários exorbitantes para não atrair gente que só quer enriquecer e sim pessoas com vocação para a coisa pública e que queiram ajudar e não roubar. Os eleitos receberão da seguinte forma: vereador - se assalariado o seu salário, se autônomo a media mensal de seus rendimentos, deputados e senadores – o mesmo dos vereadores mais os custos de transporte e mudança.
2. Parlamentares não poderão manipular nenhuma verba social. Ou legista ou é assistente social.
3. Fim da infidelidade partidária para evitar que as decisões no congresso vire, um balcão de negócios.


OBSERVAÇÕES GERAIS


1. O país não pode parar, temos de fazer os consertos com o avião em pleno vôo. Portanto, todo este processo tem que acontecer simultaneamente a esse sistema necrosado que aí está. Só depois que os novos representantes estiverem eleitos, tomarão posse no lugar dos que aí estão.
2. Com essa nova classe política, portanto, a sociedade civil organizada implementará as outros mudanças necessárias e criará partidos políticos em novos moldes e que tenham atuação cívico-patriótica ativa na sociedade, permanentemente e não só no período eleitoral.
3. Não tenha a ilusão de acabar com a corrupção. Ela sempre existiu e existirá em qualquer parte do mundo. A diferença entre remédio e veneno é a dosagem e no brasil ela é muito alta e disseminada em toda sociedade.
4. Nosso problema não é econômico, é o alto grau de corrupção e falta de ética nos três poderes (executivo, legislativo e judiciário, sendo este último o pior deles) e no executivo em seus três níveis. Não respeitem os cabelos brancos desses senhores, eles são quase todos mafiosos. Nós estamos com problemas econômicos, mas eles são os sintomas e não a causa dos nossos problemas, por isso que esse país já teve vários planos econômicos e não resolve nada porque é a mesma coisa de dar um antitérmico para febre, ela baixa, mas volta enquanto não descobrir a causa. Se o médico erra no diagnóstico a terapêutica também será errada e o paciente piorar. O enfoque econômico dos problemas brasileiros é um diagnóstico equivocado, o problema é o câncer da corrupção e falta de ética que estão disseminados por todo o organismo social.
Roubar dinheiro público no brasil é tomar pirulito de criança, basta ter um cargo de qualquer escalão num dos três poderes que você terá as chaves do cofre. Por isso que os candidatos gastam muito dinheiro para se elegerem, por que depois recuperam o que gastaram e muito mais.

PENSAMENTOS DE APOIO


Nunca haverá dinheiro o suficiente para realizar tudo que um país precisa, mas a verdadeira política é a arte de administrar a escassez e estabelecer prioridades. (texto clássico de economia)

Para transformar um estado do mais baixo barbarismo ao mais alto grau de opulência são necessários: paz, tributação leve e uma tolerável administração da justiça. Todo o resto vem pelo curso natural das coisas. (Adam smith)

Nosso maior problema é a corrupção. (ANTÕNIO ERMINIO DE MORAIS)

Um repórter brasileiro certa vez perguntou a Tião Maia (empresário brasileiro bem sucedido na Austrália) o que achava da nomeação de um novo ministro da fazenda no brasil, ele textualmente: um país que gasta mais do que arrecada, não faz diferença quem seja o ministro, é uma questão simples de aritmética. Faça isso em sua própria casa e verá que a situação se tornará inadministravel.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Legal, Carlos.