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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O Encrenqueiro da TV Pública


Da Coluna da Mônica Bergamo de hoje direto para este depósito, entrevista com Delfim Neto, um dos conselheiros escolhidos da TV Pública. Ele diz que vai ser um encrenqueiro.


FOLHA - A TV não pode virar um braço publicitário de Lula?
DELFIM NETTO - Não acredito. Na verdade, o que se vai tentar fazer é uma espécie de BBC de Londres, uma TV educativa no sentido mais amplo do termo, que aborde desde arte até a matemática. As tentativas feitas pelas TVs educativas já existentes não têm persistência. Por exemplo, os cursos de matemática sempre terminam na quinta lição.
FOLHA - Então a TV pública vai ensinar matemática?
DELFIM - A TV pública vai ensinar a ver o mundo de maneira razoável. Uma TV como essa pode ser intrigante, instigante. Pode ter uma independência que a TV comercial não pode.
FOLHA - Por quê?
DELFIM - Porque a TV comercial é parte do mundo em que vive, do mundo capitalista. Seria antinatural ela destruir o sistema em que vive. Ela é um reforço do sistema capitalista -que é o mais eficiente para o homem produzir, mas que precisa de controle para funcionar. E esse controle as TVs privadas não podem fazer.
FOLHA - Segundo reportagem publicada pela Folha, a cobertura da Rede Globo sobre o dossiegate na eleição de 2006 foi determinante para que o presidente Lula priorizasse a criação de uma rede pública de TV. O que o senhor acha disso?
DELFIM - As pessoas têm mania de atribuir coisas ao Lula, como se ele estivesse preocupado. E ele não está. A TV Globo já esteve com o Lula, contra o Lula. A TV Globo não pode ser neutra, nem que ela queira ela pode ser neutra. Quem acha isso está equivocado, naturalmente. Ela é parte do establishment. E não tem nada de pecado nisso. A TV Globo, e todas as outras, têm seus próprios interesses, como os patrocinadores também têm. Quando esses interesses coincidem com os do governo, o governo é bom. Quando não coincidem, o governo é ruim. É simples assim. E é legítimo que seja assim. É uma característica das TVs comerciais. Não se pode pensar que as TVs estão aí a passeio, né? E também ninguém pretende substituir a TV Globo. Ninguém tem esse sentimento ridículo. Queiram ou não queiram, a TV Globo é a TV Globo. A competência fez com que ela tivesse mais audiência que todas as outras.
FOLHA - A TV pública também não estará a passeio.
DELFIM - É óbvio que tem sempre mensagens implícitas, propaganda subliminar. Algum resíduo desses vai restar na TV Pública. Mas os conselheiros escolhidos [além de Delfim, personalidades como Cláudio Lembo, Wanderley Guilherme dos Santos e Boni] formam um grande ninho de encrenqueiros. De modo que a vida deles [governo] não vai ser tão fácil. Mas é preciso ver primeiro se a TV vai ter sucesso, audiência. A receita você só sabe se presta depois de comer.

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