Da Coluna da Mônica Bergamo de hoje direto para este depósito, entrevista com Delfim Neto, um dos conselheiros escolhidos da TV Pública. Ele diz que vai ser um encrenqueiro.
FOLHA - A TV não pode virar um braço publicitário de Lula?
DELFIM NETTO - Não acredito. Na verdade, o que se vai tentar fazer é uma espécie de BBC de Londres, uma TV educativa no sentido mais amplo do termo, que aborde desde arte até a matemática. As tentativas feitas pelas TVs educativas já existentes não têm persistência. Por exemplo, os cursos de matemática sempre terminam na quinta lição.
FOLHA - Então a TV pública vai ensinar matemática?
FOLHA - Então a TV pública vai ensinar matemática?
DELFIM - A TV pública vai ensinar a ver o mundo de maneira razoável. Uma TV como essa pode ser intrigante, instigante. Pode ter uma independência que a TV comercial não pode.
FOLHA - Por quê?
FOLHA - Por quê?
DELFIM - Porque a TV comercial é parte do mundo em que vive, do mundo capitalista. Seria antinatural ela destruir o sistema em que vive. Ela é um reforço do sistema capitalista -que é o mais eficiente para o homem produzir, mas que precisa de controle para funcionar. E esse controle as TVs privadas não podem fazer.
FOLHA - Segundo reportagem publicada pela Folha, a cobertura da Rede Globo sobre o dossiegate na eleição de 2006 foi determinante para que o presidente Lula priorizasse a criação de uma rede pública de TV. O que o senhor acha disso?
FOLHA - Segundo reportagem publicada pela Folha, a cobertura da Rede Globo sobre o dossiegate na eleição de 2006 foi determinante para que o presidente Lula priorizasse a criação de uma rede pública de TV. O que o senhor acha disso?
DELFIM - As pessoas têm mania de atribuir coisas ao Lula, como se ele estivesse preocupado. E ele não está. A TV Globo já esteve com o Lula, contra o Lula. A TV Globo não pode ser neutra, nem que ela queira ela pode ser neutra. Quem acha isso está equivocado, naturalmente. Ela é parte do establishment. E não tem nada de pecado nisso. A TV Globo, e todas as outras, têm seus próprios interesses, como os patrocinadores também têm. Quando esses interesses coincidem com os do governo, o governo é bom. Quando não coincidem, o governo é ruim. É simples assim. E é legítimo que seja assim. É uma característica das TVs comerciais. Não se pode pensar que as TVs estão aí a passeio, né? E também ninguém pretende substituir a TV Globo. Ninguém tem esse sentimento ridículo. Queiram ou não queiram, a TV Globo é a TV Globo. A competência fez com que ela tivesse mais audiência que todas as outras.
FOLHA - A TV pública também não estará a passeio.
FOLHA - A TV pública também não estará a passeio.
DELFIM - É óbvio que tem sempre mensagens implícitas, propaganda subliminar. Algum resíduo desses vai restar na TV Pública. Mas os conselheiros escolhidos [além de Delfim, personalidades como Cláudio Lembo, Wanderley Guilherme dos Santos e Boni] formam um grande ninho de encrenqueiros. De modo que a vida deles [governo] não vai ser tão fácil. Mas é preciso ver primeiro se a TV vai ter sucesso, audiência. A receita você só sabe se presta depois de comer.
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