Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O Teste de Sarkozy


Reproduzo na íntegra o editorial da Folha de S. Paulo de hoje sobre a onda de greves que acontece na França de hoje e que tentam manter privilégios nas regras de aposentadoria.
SE HÁ algo que agremiações trabalhistas e estudantis da França não hesitam em fazer é organizar greves e sair às ruas para arrancar algo de seus líderes.Em 1995, uma onda de paralisações fez Jacques Chirac, então recém-eleito presidente, desistir de seu plano de reforma das aposentadorias no setor público. Dois anos depois, caminhoneiros foram às ruas e conseguiram ser incluídos entre as categorias com direito a regime especial. No ano passado, protestos sepultaram uma lei proposta pelo governo que tornaria mais fácil a demissão de recém-contratados.Embora o placar tenda a favorecer a rua, há ocasiões em que o governo triunfa sobre os protestos. Agora chegou a vez de Nicolas Sarkozy, que tomou posse como presidente há apenas seis meses, ser testado.A greve nos transportes públicos já dura mais de uma semana e virtualmente paralisou o país. Provoca prejuízos calculados em 400 milhões por dia. Na segunda-feira, outros setores do funcionalismo engrossaram os protestos com uma paralisação de 24 horas. Estudantes também aderiram ao movimento.Apesar da força dos sindicatos, tudo indica que Sarkozy vencerá. Muitos já o comparam a Margaret Thatcher, que, nos anos 80, conduziu com mão-de-ferro a repressão a uma greve de mineiros. Ao vencê-los, quebrou a espinha do sindicalismo britânico e abriu caminho para as reformas liberalizantes que ficaram conhecidas como thatcherismo.Sarkozy certamente não reclamará se os sindicatos ficarem mais dóceis. Ele também tem em sua agenda uma ou duas reformas identificadas como ultraliberais. Só que, ao contrário de Thatcher, seu objetivo não é o de aniquilar entidades trabalhistas nem engajar-se numa segunda batalha ideológica -venceu a primeira, ao ser eleito.A disputa desta feita é bem mais pragmática. A greve é uma reação aos planos do governo de reformar o regime de aposentadorias especiais, que permite a empregados dos transportes ferroviários, metrô e da área de energia aposentarem-se após 37,5 anos de contribuição, contra 40 no restante do setor público. Cerca de 500 mil dos 5,2 milhões de funcionários públicos da França e 1 milhão de pensionistas se beneficiam desse regime.Trata-se de privilégio difícil de defender. No caso dos maquinistas, é herança dos tempos em que os trens eram movidos a carvão, o que provocava sérios danos à saúde dos condutores. Só que hoje as locomotivas são elétricas.A maioria dos franceses está com Sarkozy. No setor privado, o tempo de contribuição já é de 40 anos (e deve passar a 41). Ao contrário de seus antecessores que fracassaram em eliminar os privilégios, Sarkozy não sacou a reforma do fundo de sua cartola. Ele a apresentou claramente na campanha eleitoral e recebeu a chancela de 53% dos eleitores.

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