Recomendo o filme Leões e Cordeiros (Lions for Lambs) por um motivo simples: é um filme inteligente, com bons diálogos, onde a sociedade americana faz uma auto análise do passado, do presente e do futuro sobre a guerra ao terror. Não estou equivocado em afirmar que Leões e Cordeiros está para os americanos hoje assim como Tropa de Elite está para os brasileiros.
Da mesma forma que o Capitão Nascimento afirma que não existe meio termo na luta contra o tráfico de drogas que comanda as favelas da periferia das grandes cidades brasileiras, o jovem senador republicano interpretado por Tom Cruise afirma a uma jornalista liberal (Meryl Streep) que na luta contra o terror não existe meio termo e qualquer vacilo, qualquer dúvida, qualquer notícia duvidosa vai servir como alimento para os inimigos. É a doutrina Bush posta em cheque. O passado está feito, realizado, seus acertos e graves equívocos definitivamente sepultados, o que importa é solucionar o presente e garantir um futuro mais seguro.
Leões e Cordeiros é uma gratificante conversa com vários e bons atores. O setentão Robert Redford é um professor universitário, veterano da guerra do Vietnã que conversa com seu mais inteligente aluno, que pouco assiste suas aulas, sobre estratégia e objetivos de vida. Faz uma oferta para seu aluno, ele não assiste mais as aulas e no fim do ano recebe um B. No mesmo tempo real da conversa outros dois alunos voluntários no Afeganistão participam de uma manobra estratégica para que os americanos tenham o comando das montanhas afegãs, onde estão as bases do Al Qaeda e do Taleban, sendo que o Irã se transformou num corredor de ofensiva inimiga entre o Iraque e o Afeganistão. É exatamente essa informação sigilosa e essa misão secreta, essa tarefa estratégica de montar uma base americana no alto das montanhas afegãs que o senador (Tom Cruise) informa à jornalista (Meryl Streep), tudo no mesmo tempo real. A jornalista liberal questiona: será mesmo que sunitas e xiitas vão mesmo abrir mão de séculos e séculos de divergência para lutar contra os EUA? Não seria mais fácil os EUA se retirarem do Iraque e Afeganistão? O senador responde: se os EUA fizerem isso será um massacre geral e todos -- que não são poucos -- aqueles que apoiaram e formaram os novos governos destes países correrão risco de vida.
O plano estratégico e secreto -- para variar -- não dá certo. E tudo - os diálogos e a tragédia - ocorre na mesma hora, em tempo real. Os inimigos estão armados e sempre atentos. Surgem as vítimas. Mas prevalece o tom arrogante e autoritário da doutrina Bush, que nunca admite a perda, porque se nega a enxergar o passado e, por isso, tem dificuldade em entender o presente. Prevalece o pensamento politicamente correto da jornalista liberal e sua complicada relação com seu patrão: a grande mídia. Prevalece os sábios ensinamentos do velho professor, veterano de guerra. Prevalecem as novas e velhas idéias das novas gerações. Prevalece o pensamento prático e alienado daqueles que frequentam as escolas da vida, as faculdades do cotidiano, apenas para passar com a mediocridade da nota C. Prevalece a fidelidade e a garra dos soldados leões que deixam suas vidas partir porque acreditaram nos vacilos, nas inseguranças e nas arrogâncias dos comandantes cordeiros.
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