Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O Medo de Revisar a História

Luiz Fernando Veríssimo escreveu hoje na Zero Hora uma crônica chamada "Matem o Cavalo" sobre os ícones e os símbolos e tocou no assunto Che Guevara. LFV inseriu no contexto da crônica o filme Viva Zapata e a imagem do cavalo branco. Depois volto com minha crítica.

O filme Viva Zapata (dirigido por Elia Kazan, escrito por John Steinbeck, com Marlon Brando no papel do revolucionário mexicano) termina com a morte de Zapata numa emboscada dos "federales". O antigo aliado que o traiu, um intelectual vivido no filme por Joseph Wiseman, insiste para que os soldados não deixem escapar com vida o cavalo branco de Zapata. "Matem o cavalo! Matem o cavalo!", grita, em vão. A última cena do filme é a do cavalo branco solto numa montanha, um símbolo não muito sutil do espírito que sobreviveu ao sacrifício do seu dono para inspirar outras gerações e outras revoltas. O intelectual entende que símbolos são perigosos e que não basta abater o homem para anular o exemplo. É preciso trucidar a sua memória, emporcalhar a sua legenda e apagar qualquer vestígio simbólico da sua rebeldia.Parecido com o que está sendo feito entre nós com o Che Guevara, que, de acordo com a revisão atual, não só cheirava mal como era um péssimo caráter. É difícil entender por que estão tentando matar este particular cavalo branco agora. Se Che simbolizava alguma coisa, nos últimos anos, era a absorção de todas as formas de revolta pela cultura pop. O ex-ícone da esquerda era visto principalmente nas paredes e camisetas de gente que jamais sonharia em ir para as montanhas, a não ser pelo fondue de queijo. E no entanto o empenho em desmitificá-lo, e desmistificá-lo, é evidente. Do que será que estão com medo? O que assombra tanto o neomacarthismo, a ponto de atirarem com tanta fúria contra um defunto de 40 anos? Talvez seja o caso de rever o significado da figura do Che, e do seu exemplo de idealismo e inconformismo, entre as novas gerações. Talvez a direita esteja vendo um cavalo branco solto por aí que nós não vemos.Quanto ao filme Viva Zapata, é um bom exemplo da romantização do proletariado que o cinema americano fez bastante - em mais de um caso, baseado em textos do mesmo Steinbeck. Brando e Anthony Quinn (que ganhou um Oscar pela sua interpretação do irmão de Zapata) estão ótimos no filme, e Wiseman está perfeito como o intelectual traidor. Mas a romantização de revoluções alheias não dá em muita coisa além de bons filmes. Nota histórica: "Zapata" foi o nome de uma das suas empresas escolhido por adivinha quem? George Bush, o pai. O nome chegou a aparecer numa das tantas teorias conspiratórias sobre o assassinato do Kennedy. Não adianta, o capitalismo absorve tudo. O que só torna maior o mistério. Do que será que estão com medo?

Comentário do dono do depósito:
Por que certas pessoas têm medo de revisar a história? Retirar dela a névoa que envolve o ícone. Quantos velhos heróis se transformaram em tiranos depois que a história foi recontada, de acordo com novas fontes? As recentes biografias escritas sobre a vida de Che, inclusive a do americano Anderson - tão cultuado pela nossa gauche -- revelam uma faceta de Che que pouca gente sabe. Por que essa faceta não pode vir à tona? Por que a história não pode revelar o que aconteceu no pátio e nas celas escuras do quartel La Cabaña? Por que matar tanta gente, a sangue frio, em execução sumária, sem julgamento, quando a revolução já estava controlada e não havia nenhum sinal de reação, porque o povo cubano apoiou de fato a revolução? Pois é, gente, essa história não pode ser revista e nem recontada. O lado obscuro da vida de Che vai manchar os que vendem sua grife. Enganam-se aqueles que acham que havia uma excelente relação entre Che e Fidel depois da revolução. Quando Che resolveu ir para o Congo Belga exportar a revolução, Fidel deu graças a deus, porque Che era uma mala, um murrinha no ministério (leiam as biografias de Che). É que os ícones são ícones, que não podem ser revistos. A história pronta e acabada, como cálice de cristal que não pode ser tocado.

6 comentários:

Santa disse...

Meu querido,

Ótimo post! A história contada e mantida é aquela que favorece a perpetuação do falso mito.

Bjs

Carlos Eduardo da Maia disse...

E Guevara, Santa, é um falso mito. Muitas pessoas que utilizam hoje a grife Guevara não conhecem e nem sabem quem efetivamente foi o Che e o que ele fez.

PoPa disse...

Maia, eu acho o LFV um cara muito inteligente e gosto de ler o que ele escreve. Mas não consigo entender essa fixação que ele tem com a esquerda burra!

Por que está sendo revisitado o mito Guevara? Os 40 anos da morte dele, óbvio. E o que provocou a reação da "direita"? As tentativas de reavivar a memória pelos motivos errados, como aquela sessão do Senado. Então, é claro que quem não concorda vai reagir! Qual o problema?

José Elesbán disse...

Sim, mas o que tu queres? Queres que ele se transforme num ditador sanguinário? Mas afinal, quantas pessoas foram executadas em La Cabaña? Processos revolucionários não geram sangue?
E as execuções em La Cabaña, e a gestão do ministério da economia não foram um período pequeno em alguém que ficou anos na serra e, depois de vencida a revolução, resolveu lutar na África e na Bolívia? Isto não te parece romântico (continuar a lutar, em vez de se estabelecer como burocrata)? E estabelcer guerrilhas não pressupõe sempre a possibilidade de mortes?

José Elesbán disse...

Aliás, caro Maia, uma coisa que tem me incomodado é o porquê de tu fazeres certos comentários em blogs de esquerda, e não treplicares à réplica, ou por quê abandonas as discussões que tu mesmo geras? Já foste acusado de trolagem, mas não está sendo trolagem o que fazes?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Pampa e Zé, eu sempre fui fascinado pela vida do Che Guevara. Na juventude li seus manuais e cartilhas. E depois suas biografias. Che não era uma figura fácil e muita gente não sabe quem efetivamente ele foi. Che não tinha pesos e nem medidas e sempre foi um autoritário. Era apaixonado pela religião da ideologia e nunca conseguiu pensar duas vezes. Che nunca foi um sensato, um razoável, um moderador, caracterísitcas e atributos fundamentais num lider. A humanidade conhece bens líderes com as características de Che. Che é um ícone torto e equivocado.

Por fim, Zé, não me considero um troll. O Feil limitou minha participação no gauche. Foi alertado pelo alma da geral do nosso imortal tricolor. Posso ter deixado de treplicar alguns post, mas não gosto de fugir da luta e do debate franco. E que ele prossiga, sem interrupções. A vida continua e a luta também. Abraçoooo