Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pedras Mofadas na Fábrica do Consenso


Desculpem a insistência, mas retomo o velho tema. E volto a ele, porque acabei de ler no diario gauche aquela critica surrada de que a inundação diária de informações pode alagar o pensamento dos indivíduos e promover o mofo permanente das idéias e reflexões.

Este mofo permanente diz respeito, segundo o gauche, a uma fábrica de consenso que ardilosamente a grande mídia e os poderosos colocam na cabeça de cada indivíduo para vender suas idéias e seus produtos. É o caso, por exemplo, do livro “A cabeça do brasileiro”, do sociólogo Alberto Carlos Almeida que, segundo o gauche, pretenciosamente tenta extrair verdades científicas sobre o pensamento médio da nossa população.
O destaque são quatro números significativos, segundo Almeida:
54% concordam que um condenado por estupro seja estuprado na cadeia;
54% concordam com a polícia espancar presos para que confessem seus crimes;
52% concordam que policiais matem ladrões e assaltantes depois de prendê-los;
48% aprovam o linchamento de suspeitos de crimes muito violentos.
Prossegue o gauche:

Aqui neste blog, eu já tinha comentado sobre essa fraude pseudo-científica do senhor Almeida. Agora, com o filme Tropa de Elite, a mídia corporativa esquenta a “pesquisa”, com a clara intenção de justificar a violência policial retratada no filme de Padilha. À luz dos resultados desses falsos pesquisadores, a brutalidade policial fica naturalizada.
Sendo assim, o trabalho de Almeida, menos que uma pesquisa, é um instrumento de ação política – pela direita, a serviço das oligarquias brancas, gordas, endinheiradas, rentistas, herdeiras do escravagismo e portadoras de flamantes relógios Rolex. Trata-se de uma estratégia de produção seriada de “opiniões públicas” visando o constructo de consensos legitimadores da ordem tradicional.
Essa retórica untuosa articulada em brochura e marketing pesado é muito velha, mais velha ainda que a Dercy Gonçalves. Ninguém desconhece que o exercício da força sempre se faz acompanhar – antes, durante e depois – de um discurso de justificação, visando legitimar a brutalidade de quem a exerce. Antigamente diziam: “Deus está conosco!” Hoje, dizem: “a opinião pública está conosco!” Não são, pois, equivalentes?
É aquilo que Bourdieu chama de “efeito de consenso”, cuja primeira operação consiste na suposição de que todo mundo tem uma opinião, e em segundo, ignorar as não-respostas, ou seja, eliminar as possibilidades de haver discrepância nos resultados. Tudo que não sustenta a minha tese, será descartado. Uma fraude da fraude.
As quatro questões acima tem uma natureza comum estritamente políticas. É inegável. Mas antes, quando apresentadas ao comum mortal, são embaladas no papel celofane da moralidade subjetivadora, escamoteada em perguntas tocantes e mobilizadoras de reações fortes e apaixonadas. Pronto, o entrevistado já caiu numa cilada irrecorrível, involuntariamente. Nessa dupla natureza das questões é que habita a fraude.

Comentário do ditador deste depósito:

Primeiro lugar, essa pesquisa não foi feita pelo sociólogo Almeida, ela foi realizada por uma universidade pública fluminense. Com base no resultado dela é que Almeida fez o livro.
Quando vi tropa de elite considerei a melhor cena a aula de sociologia, quando todos falaram mal da polícia e o Mateus, o policial, resolveu tomar a palavra e dizer que a verdade não era bem aquela. Foi execrado, morto e quase sepultado pela turma. Quem é a favor da pena de morte, da tortura não é classe média e nem a grande mídia. É o povão. É assim que pensa a grande maioria da população de baixa renda brasileira. E por que pensa assim? Porque ela que vive e convive com a violência do dia a dia, porque convive com o inferno dos traficantes. E o discurso de esquerda passa por cima disso, como se fosse esse um detalhe para lá de insignificante. O discurso da esquerda ele é conservador, porque parou no tempo das mesmas respostas. Vivemos numa luta de classes e a culpa é sempre dos poderosos. Isso sim é alienação pura, é falta de senso crítico, é banalizar uma discussão. É ingressar de cara na mediocridade dos fatos. A realidade hoje é outra. A realidade é que as periferias das grandes cidades brasileiras estão sendo dominadas pela bandidagem. E os bandidos cobram suas dívidas matando os infiéis, os traidores, os pobres e miseráveis. Tudo passa pelo mesmo problema: falta de Estado que funcione. Que o Brasil faça como fez a Colômbia, em Bogotá, que o Estado entre nas favelas com sua polícia, com suas escolas, com seus hospitais.

5 comentários:

Anônimo disse...

Foi um post longo, e ele não vale nada só por causa disso:

"Vivemos numa luta de classes e a culpa é sempre dos poderosos"

Se os poderosos não têm culpa, por que não usam o seu poder para resolver o problema?

a. Porque não querem, estão confortáveis na atual situação
b. Porque não podem, e são poderosos só no nome?
c. Porque não sabem como
d. Todas as alternativas acima

Se tu acertares a resposta, aí entenderás o mecanismo que leva o Brasil a ter uma luta de classes e uma desigualdade tão evidentes.

Ou os poderosos usam seu poder para resolver o problema, ou eles são só reis fajutos sentados num trono que não lhes pertence.

Anônimo disse...

Carlos,
Sua defesa está claríssima. É bem verdade que esses problemas não são de hoje. Mas tem uma agravante perigosa: agora, para essa marginalia – me refiro exclusivamente aos gatunos e traficantes, jamais às camadas menos favorecidas – tudo virou problema social. O governo e seus apaniguados passam a mão na cabeça do larápio, dizendo que ele é fruto da sociedade injusta.

É mentira. A sociedade não é injusta. O cidadão pagou seus impostos, o governo enfiou o dinheiro no balaio, e a contrapartida não foi dada a essa mesma sociedade, sem distinção de classe.

O imposto e melhor qualidade de vida, é para todos. Mas o sistema público não respeita o cidadão, o contribuinte.

Marginal é marginal. Não é problema social. Se assim fosse, todos que vivem uma vida miserável nos morros poderiam estar também praticando crimes, em nome do abandono social.

Mas, no entanto, não o fazem. Trabalham de sol a sol para ter uma vida digna, mesmo que sem a presença de um Estado atuante.

Aliás, fiz um texto recente, intitulado “Em defesa da sociedade”, se você achar oportuno, poderei postar aqui, é meio longo, mas tira a máscara da inverdade imposta para encobrir desmandos.
Abs

PoPa disse...

Estás coberto de razão, Maia. O pobre é que sente mais a ação da marginalidade, do abandono pelo Estado. O cara do Rolex tem problemas esporádicos com os correrias, mas o povo que mora nas favelas tem que driblar o traficante todos os dias. Se for marcado por eles, está fora da favela e - muito provavelmente - da vida também. Os ricos e poderosos não gostam desta realidade, pois atrapalha sua vida, mas nada fazem para melhorar isto.
Quem tem que meter a mão é o governo. Em todas as instâncias! Tem que manter todas as áreas do país sob controle da lei e da ordem. Isto não deveria ser muito difícil, mas governos anteriores, principalmente os do RJ, deixaram a bandidagem tomar conta dos morros. Primeiro, foram os bicheiros, depois as drogas leves e agora, são verdadeiros exércitos que precisam ser exterminados. Simples assim...

Santa disse...

Maia,
Estou chocada com o que li!Já a tua crítica ao texto procede. Se não houver urgente intervenção do Estado a violência prosperará e a sociedade entrará em colapso.

Bjs

Letícia Losekann Coelho disse...

Pura verdade, concordo contigo! A crítica que tu faz é de fundamento!