Policial tenta impedir saques no Chile
Grupos armados nas ruas do Chile
Muitos estão a dizer que a tragédia do terremoto mostrou o quanto é vulnerável o progresso chileno. Que o necessário serviço público foi esmagado pelas políticas liberalizantes etc. Esse mesmo discurso veio a tona no furacão que abalou Nova Orleans anos atrás, quando até Fidel disse que iria ajudar os americanos. Impressionante como o discurso oportunista ganha força diante da tragédia. Os fatos extraordinários são fatos extraordinários que ocorrem de forma extraordinária. Um terremoto do tamanho do que ocorreu no Chile desmonta um país que deve ser reconstruído e o povo carente de fome e de sede não tem outra alternativa senão a de saquear os mercados e a barbárie pode tomar conta. Foi isso o que aconteceu no Chile.É nessas horas que a solidariedade deve ser um ideal plenamente convergente. Abaixo artigo do Fernando Barros Silva na Folha de hoje, acho que ele exagera nas críticas, mas vá lá. As fotos acima são do exclente Boston Globe.
Vitimado por uma das piores catástrofes de sua história, o Chile se viu nos últimos dias diante de turbulências sociais graves e inesperadas. O terremoto desencadeou saques em massa ao comércio, assaltos a residências, incêndios premeditados. "Todos roubaram de todos, não foi uma questão de classe social, todos protagonizaram o vandalismo", disse, num desabafo, a prefeita de Concepción, onde a devastação foi brutal.
Ontem, Michelle Bachelet estimava em cerca de US$ 2 milhões o valor dos produtos recuperados dos saqueadores. A presidente chilena se deixou filmar num ginásio tomado por TVs e máquinas de lavar, descarregadas ali por 35 caminhões cheios de mercadorias que a população devolveu "espontaneamente", depois da ameaça policial.
Com armas e paus, famílias ricas de Concepción improvisam barricadas e fazem vigília em condomínios para enfrentar eventuais intrusos. Na área rural, pessoas andam com espingardas na mão.
São cenas e relatos muito chocantes. Sobre eles, intelectuais e jornalistas chilenos têm feito reflexões bastante desiludidas, muitas das quais com boa dose de autoflagelo. A "coesão social" do país se revelou bem menos sólida do que se imaginava e a autoestima dos chilenos está profundamente abalada.
Ao mesmo tempo, Bachelet, criticada por não ter mobilizado o Exército desde o primeiro momento, relacionou os saques a "uma deterioração moral profunda", procurando separar anomia de carência social.
É difícil tirar conclusões no curso de um momento tão traumático e tumultuado, mas o apelo por ordem e autoridade cresceu no Chile.
O conservador Sebastián Piñera, eleito presidente após 20 anos da Concertação no poder, toma posse depois de amanhã. O país que vai assumir é diferente daquele que o elegeu. Tem suas perspectivas rebaixadas, mas, ao mesmo tempo, as demandas exacerbadas. Vejamos como a direita democrática vai lidar com a ferida social que herdou.
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