Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 22 de março de 2010

Vagner Love e Adriano e o Preconceito de Classe


Para refletir, artigo de José Geraldo Couto, publicado no Caderno Mais! da Folha de ontem,  sobre os escândalos envolvendo os jogadores do Flamengo, Vagner Love e Adriano (assisti ontem aquele gol racional  de cabeça aos 48 do segundo tempo, ele continua imperador). Segundo o colunista as críticas aos jogadores escancaram o preconceito de classe no Brasil. Será? Pode ser. Quem sabe?


Nostalgia da lama

Talvez não seja correto dizer que o esporte é um espelho da sociedade, mas a maneira como os fatos do esporte e seu entorno são lidos pela mídia certamente diz muito sobre ambas (a sociedade e a própria mídia).


O "mea culpa" do golfista Tiger Woods diante das câmeras expôs muito mais que suas infidelidades conjugais. Colocou a nu uma cultura manifestamente puritana que transforma em espetáculo midiático a repressão de suas pulsões.


Como se sabe, muitos norte-americanos, talvez a maioria, acham que gostar de sexo é uma espécie de doença.


No Brasil, a cobertura e a repercussão crítica dos recentes escândalos envolvendo os astros do futebol Adriano e Vagner Love revelam, entre outras coisas, um indisfarçável preconceito de classe.


O que mais escandaliza a chamada crônica esportiva, com honrosas exceções, parece ser o ambiente em que os personagens foram "flagrados". A própria recorrência desse verbo é significativa, como se estar num baile funk ou simplesmente na favela fosse por si só uma atitude ilícita ou, no mínimo, suspeita.


Na Chatuba e na Barra


O vínculo entre os termos favela e crime, martelado durante décadas pelos meios de comunicação, parece ter-se tornado indissolúvel.


Condena-se Adriano não tanto por trocar socos com a namorada, mas por fazê-lo no morro da Chatuba, e não numa cobertura na Barra da Tijuca ou num palacete em Milão.


O viés de classe nunca ficou tão evidente, aliás, como quando o jogador, um ano atrás, deixou de se reapresentar a seu clube, a Internazionale de Milão, e se refugiou durante três dias no bairro onde se criou, no Rio de Janeiro. A perplexidade foi geral, na imprensa e no mundo futebolístico.


A pergunta que se repetia era: como um sujeito abre mão de milhões de euros, do destaque num clube de ponta, de uma cidade sofisticada, para voltar à favela? O corolário, explícito ou subjacente, era mais ou menos o seguinte: "Quem nasceu na maloca nunca vai deixar de ser maloqueiro".


Uma espécie de "nostalgia da lama" arrastaria Adriano para baixo -ainda que, topograficamente, para cima.


O que escandaliza, no fundo, é a recusa em aderir aos valores, condutas e discursos tornados praticamente compulsórios para quem "vence" na nossa sociedade.


Não se perdoa Vagner Love por optar por um baile funk na Rocinha em vez de uma boate na zona sul do Rio. No primeiro, estão os "bandidos"; na segunda, a gente de bem.


Pouco importa que o tráfico que mata tanta gente no morro se alimente do consumo recreativo de muitos habitués das casas noturnas chiques.


Num país de "malandros com contrato, com gravata e capital", não escandaliza ninguém que Kaká saia publicamente em defesa dos líderes de sua argentária igreja, investigados em dois países por estelionato e lavagem de dinheiro.


Kaká, diz a crônica em uníssono, é um rapaz de boa cabeça, de boa família, de boa "estrutura". Mas Vagner Love aparecer num baile na Rocinha ladeado por traficantes armados (algo que talvez ocorresse com qualquer celebridade que visitasse o local) é intolerável.


Motel e travestis


Para reforçar a constatação de que, entre nós, o viés de classe é ainda mais forte do que o viés moralista, um caso exemplar é o de Ronaldo, "flagrado" (olha o verbo de novo) com três travestis num motel do Rio.


O que mais se ouviu, nos bastidores da imprensa, foi: "Como é que um sujeito com a grana que ele tem vai se meter com travecos de rua? Era só pegar o telefone e encomendar a perversão que quisesse, no sigilo do seu apartamento ou de um hotel de luxo".


Ou seja, dependendo do montante gasto, do cenário e dos figurinos, tudo é bonito e aceitável.

6 comentários:

PoPa disse...

Quem colocou aspas nos "bandidos"? Gente de bem não anda com fuzis embaixo do braço!!! O que realmente aconteceu, não foi uma ida a um baile funk, mas um encontro com a mais perigosa marginália do País! Se isso for preconceito, estamos mal...

Carlos Eduardo da Maia disse...

As aspas não foram minhas, Popa, foi do José Geraldo Couto.

Fábio Mayer disse...

Sinceramente, não acho que seja preconceito de classe se horrorizar quando um ídolo popular tem ligações visíveis com narcotraficantes ou se envolve com travestis de praça.

Porque se for preconceito, sou mesmo preconceituoso: bandido tem que estar preso ou morto, não tem o direito de se exibir e divertir em baladas, nem mesmo acompahado de ídolos populares!

Ademais, o exemplo é que irrita. O cara aparece do nada, vira milionário do dia para noite jogando futebol e ao invés de passar uma mensagemn positiva: trabalhe duro, vá atrás do seu sonho, passa uma completamente negativa: o que importa é ter dinheiro, não interessa se vem do futebol ou do trafico de drogas.

É falta de caráter assumida, fazer pública uma imagem de amigo de traficantes. Quer ser amigo deles, o seja na surdina se você é pessoa pública e principalmente ídolo popular!

charlie disse...

O que chocou as pessoas não foi a ida ao baile funk ou passeio pela favela. Até onde me consta, baile funk no Rio é "hype" (usando expressão da moda). Má fé do articulista. O que chocou foi o sujeito estar no meio de um monte de gente com armas de uso restrito do exército. E parecer bastante confortável com isso.

O dia que jogador de futebol em favela for notícia....

charlie disse...

Má fé também no comentário sobre o Ronaldo: não foi o fato de ter catado puto de rua que chocou o povo, foi o fato de ter tido relações com os putos. É diferente. Chocaria tanto quanto se ele tivesse encomendado em casa.

O autor está desesperado para justificar preconceito de classe. Que por sinal existe, mas não nos exemplos citados.

Pablo Vilarnovo disse...

Na boa, ele viajou na maionese com esse artigo. Errou em tudo. Tentou colocar um viés de "luta de classe" que simplesmente não existe.

Concordo totalmente com o Charlie, o pior com o Ronaldinho nem foi o caso com os putos, foi ele mesmo dizer que "não sabia que eram putos"...