Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 23 de março de 2010

Esses Inacreditáveis Americanos


Charges criticando o Obama's Health Care. Esses americanos são muito doidos.

Definitivamente, não é fácil entender a lógica americana. Como é que um cidadão residente no pais mais rico do mundo não tem direito aquilo que é básico? Ao serviço de saúde universalizado? E o mais inacreditável, tem gente que é contra isso, porque entende que não deve haver qualquer tipo de intervenção estatal na vida das pessoas, dos particulares. Eu também sou contrário em algumas hipóteses, mas nunca nesse nível. O partido republicano americano votou em massa contra essa medida de universalização dos serviços de saúde, isso nunca aconteceu antes. Incrível, parte do povo americano sai às ruas para protestar, porque a medida aumenta os gastos públicos e a intervenção estatal. Eles acham que o presidente Obama está socializando os EUA. Besteira pura. Paranóia das grossas. Isso não tem nada de socialismo, isso é direito universal à dignidade humana e boa qualidade de vida. Parabéns ao Obama e aos Democratas.


Abaixo, artigo de David E. Sanger, no New York Times e publicado na Folha de hoje,  analisando a vitória de Obama e o custo dessa vitória. Recomendo. O pincel atômico amarelo é meu.

Uma grande vitória. Mas a que custo?

A aprovação da reforma da saúde garante, não importa qual seja o custo, que Barack Obama ganhará lugar na história como um dos poucos presidentes a encontrar uma maneira de reformular o sistema de bem-estar social dos EUA.
Pode ter sido um feito histórico ou um suicídio político para o seu partido -talvez ambas as coisas-, mas Obama obteve sucesso naquilo em que Bill Clinton fracassou: remodelar o sistema de saúde dos EUA.
O cerne da estratégia de Obama é a aposta em que os republicanos tenham forçado demais a barra ao tentar retratar a proposta como um avanço em direção ao socialismo. Agora, armados com um pacote legislativo que oferece benefícios a milhões de pessoas e promete garantir seguro de saúde a muita gente que o via como inacessível ou caro demais, a Casa Branca acredita que possa ter saído ganhando da disputa.
"Essa estratégia só funcionaria bem para o Partido Republicano caso não tivéssemos conseguido aprovar o pacote", disse David Axelrod, assessor de Obama. "Eles queriam combater uma caricatura do programa, e não o projeto real. Agora é problema deles dizer a uma criança com uma doença preexistente que acham que ela não merece cobertura de saúde."
Mas não resta dúvida de que, ao longo do debate, Obama perdeu algo. A promessa com a qual ele se elegeu em 2008 -a de uma Washington "pós-partidária", na qual a racionalidade e o discurso sensato substituiriam as disputas entre os partidos- se foi, e não há como trazê-la de volta.
Jamais, na história moderna, um pacote legislativo importante fora aprovado sem ao menos um voto republicano. O democrata Lyndon Johnson conquistou quase metade dos votos republicanos da Câmara para criar em 1965 o Medicare -programa de assistência médica aos idosos que muitos denunciaram em termos semelhantes aos empregados para combater a atual reforma.
"É preciso encarar o fato de que Obama fracassou em seu esforço de ser um presidente capaz de superar nossas tradicionais divisões", disse Peter Beinart, ensaísta de centro-esquerda. "O fato é que ele é o terceiro presidente polarizador que temos em seguida."
Obama pagou um preço alto por essa lição de governo. Quase foi derrotado no debate sobre a reforma da saúde e só conseguiu garantir uma vitória depois de adiar praticamente todas as suas demais prioridades e de defender a causa com um estilo passional que não exibia desde a campanha eleitoral. O argumento vitorioso, por fim, foi o de que embora o resultado político possa ser adverso para ele e outros democratas, reformar o sistema de saúde era uma pedra fundamental de seu credo quanto a uma "mudança na qual se pode acreditar"-seu slogan de campanha.
Os republicanos entraram na disputa convictos de que sabiam como ela se encerraria: com a queda da popularidade de Obama e uma perda maior que a normal para o partido do presidente nas eleições legislativas de meio de mandato.
O Partido Republicano, cada vez mais conservador, acredita que a reforma da saúde serve como prova de sua teoria de que o presidente quer criar um governo que interfira cada vez mais nas vidas dos cidadãos.
A aposta de Obama é a de que aquilo que funcionou para Franklin Roosevelt e Lyndon Johnson funcionará também para ele. Assim que os americanos descobrirem que os planos de saúde não podem mais rejeitá-los devido a doenças preexistentes ou que podem manter seus filhos como dependentes em seus planos por mais tempo, acredita Obama, eles passarão a apreciar mais e mais o efeito das mudanças sobre suas vidas cotidianas.
Anos passarão antes que possamos saber se as piores previsões dos republicanos ou a visão de Obama quanto a um sistema de saúde quase universal se tornarão realidade. Enquanto isso, Obama poderá alegar, com fundamentos e pela primeira vez em seu governo, que apostou tudo a fim de transformar suas convicções em lei.

7 comentários:

Janaina Amado disse...

Carlos Eduardo, torço muito para que a reforma (mutilada, em relação ao projeto original) do Obama seja implantada, e funcione bem.
Quero lhe agradecer a solidariedade, no post sobre o sedex. Um grande abraço.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Obrigado pela visita, Janaina e torço para que tenhas direito a uma indenização justa, porque a reparação pela perda das obras originais é irreparável. Um abraço.

Pablo Vilarnovo disse...

Foi mais um passo para a derrocata americana.
Quando os americanos se derem conta que:

1 - O preço dos seguros vão disparar;
2 - A culpa disso é que fazer "bondade" com o dinheiro dos outros é muito bom;
3 - Irão ter aumentar - e muito - os impostos para poder bancar os seguros às pessoas que estão prometendo.

Não há almoço de graça amigos.

Obama não será nem mesmo reeleito. Aposto hoje.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Grande Pablo, eu já sabia da tua posição e respeito. Vamos ver, o futuro dirá. Um abraço.

Fábio Mayer disse...

O povo americano tem uma lógica diferente da maioria do resto do mundo.

Para eles, o Estado é apenas um mal necessário, não o provedor de certas necessidades básicas como é na Europa, muito menos o encosto para que espertalhões se dêem bem, como é no Brasil.

Os americanos acreditam no Estado mínimo,única forma de preservarem sua liberdade, ele vão demorar algum tempo pra se acostumar com um sistema universalizado de saúde, mas o aceitarão, até porque isto não socializará o país, sendo que o impacto sobre impostos será assimilado, desde que a economia do país volte a crescer.

ZEPOVO disse...

A medicina evoluiu muito, mas agora é para poucos. Para quem tem dinheiro, muito dinheiro, simples assim.
Planos de saúde, seguros e no caso apoio do governo seja qual for, são na verdade operações financeiras, e só!
Só os médicos ainda tenham se agarrar com unhas e dentes ao antigo status da profissão, quase divina.
Hoje se lida com o médico da mesma maneira que se liga com o mecânico do carro, cuidando para não ser roubado, explorado ou enrolado.

A divulgação da verdadeira situação da saude estadunidense foi muito boa, aqui pelo Brasil existia o mito de que TODOS sobrinhos de Tio Sam recebiam a melhor medicina automaticamente.
Recentemente nosso vice J.Alencar foi verdadeiro ao lamentar que o tratamento que ele recebeu se curando do cancer não está disponível para os mortais comuns...

Pablo Vilarnovo disse...

ZEPOVO - E seu te disesse que os americano em sua totalidade (não ricos ou pobres) recebem um tratamento melhor que o povo inglês?

Só um detalhe: as ações das empresas de seguro saúde e das farmacéuticas dispararam após a assinatura da lei.