Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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domingo, 18 de abril de 2010

Dilma ou Serra - Qual o Melhor Capitalista de Estado?


Matéria de capa da Folha de hoje: Desde 2003 a proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria caiu 43%. Esse é um índice muito expressivo e o governo Lula é responsável direto por esse êxito -- que interessa a todos.

A questão é saber agora, qual dos dois gestores - Dilma ou Serra -- pode levar esse êxito adiante. Dilma ou Serra?

Qual dos dois tem condições de diminuir cada vez mais a exclusão social? Dilma ou Serra?

Os que apostam em Dilma acham que essa gestão pertence apenas a ela, ela a grande gestora do estado capitalista, ela é que tem essa competência, pois ela é a legítima sucessora do pop presidente, ela é, portanto,  o ó do borogodó.  E os que apostam em Serra - como o editor deste blog - acham que é o candidato que pode fazer essa  necessária exclusão social sem dividir o país, sem apelar para populismos etc.

O fato é que o  Brasil tem hoje 30 milhões de miseráveis sobrevivendo com R$ 137 ao mês. Mas eles seriam mais de 50 milhões se a velocidade da diminuição da pobreza não tivesse se acelerado nos últimos anos."Foi uma "pequena grande década'", diz Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV-Rio. "E a melhora na renda hoje é muito mais sustentável, pois está apoiada mais na renda do trabalho."

Esses dados estatísticos deveriam apontar para uma vantagem significativa da Dilma, pois foi, sobretudo,  no governo Lula que os índices de exclusão social começaram a melhorar. Mas essa significativa melhora também está ligada a uma política econômica implementada no governo FHC, que também tinha -- mas não com a ênfase que o atual governo faz -- a sua bolsa família, os projetos do comunidade solidária, administrados por Dona Ruth Cardoso.

O dado  interessante dessa matéria da Folha é que as políticas de caridade e assistencialismo não são as grandes responsáveis pela melhoria dos nossos índices de inclusão social:

 Na média da década, a renda do trabalho explicaria 67% da redução da desigualdade. O Bolsa Família, cerca de 17%; os gastos previdenciários, 15,7%. Desde 2003 foram criados 12,2 milhões de empregos formais.

Dilma vai continuar essa política, mas o que Serra pode fazer além disso? Eu acho que Serra teria mais poderes e mais vontade para mexer e flexibilizar a CLT, incluindo mais e mais trabalhadores no mercado formal. O PT -- ligado a rígida e complicada estrutura sindical -- teve imensas dificuldades até mesmo para debater qualquer mudança na CLT.  Temos aqui, então, um ponto para Serra.

5,3% ao ano é  o aumento médio da renda per capita no país. No Nordeste, o ritmo é chinês, de 7,3%.Não por acaso, é no Nordeste que Lula tem a melhor avaliação: 83% de ótimo/bom, contra 70% no Sul e 67% no Sudeste.

Este é um ponto significativo para Dilma, o nordeste brasieiro, que era a região que sustentava os governos da Arena e do PDS e que a oposição à ditadura militar tinha imensas dificuldades para conquistar votos. Acho que o candidato a vice de Serra deveria ser do nordeste, mas nenhuma dessas figuras ligadas às estruturas arcaicas e coronelistas. Eis uma imensa dificuldade para Serra.

O economista Ricardo Paes de Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz ser "absolutamente fantástica" a melhora da distribuição de renda e a queda na pobreza."Não acho que Lula tenha feito mágica. Apenas demonstrou que com trabalho e continuidade de boas políticas é possível progredir rapidamente."Paes de Barros diz, porém, que o atual ritmo de crescimento da renda é mais "pró-pobre". E tende a gerar mais empregos entre os menos escolarizados."Os que estão do meio para cima na distribuição ficarão um pouco prejudicados", afirma.Enquanto a renda familiar per capita como um todo cresce em ritmo maior que 5% ao ano, entre os 10% mais pobres ela cresceu três vezes mais rápido (15,4%). Entre os 10% mais ricos, mais lentamente (3,7%).

Neste ponto, Dilma também leva vantagem, até mesmo porque os mais ricos do Brasil apoiam, em tese, José Serra, mas não interessa aos ricos deste país o aumento da exclusão social, o que interessa a todos, o que deve ser convergente na sociedade brasileira é exatamente isso, que este país consiga reduzir cada vez mais os índices de exclusão social. A linguagem dessa política o Brasil já aprendeu, a questão ´fundamental, neste ano de elições, é saber, qual dos dois candidatos potenciais têm mais condições de ir além.

Em fevereiro, o setor tinha 2,5 milhões de vagas formais, o mais alto patamar da série, com o Nordeste liderando, proporcionalmente, as admissões.A política de aumentos acima da inflação (50% a mais) para o salário mínimo também deu impulso à renda. Em 2003, um salário mínimo comprava pouco mais de uma cesta básica. Hoje, paga 2,2 cestas
O lado negativo da massificação de programas sociais e financiados pelo INSS (que foram o "estopim" para o início da melhora na renda) foi o engessamento do gasto federal.
Cálculos do especialista em contas públicas Raul Velloso indicam que de cada R$ 1 para despesas não financeiras da União, R$ 0,62 vão para pagamento de benefícios assistenciais e previdenciários e a inativos e pensionistas.Somados a salários do funcionalismo e a outras despesas (como saúde), esses gastos limitam a União a investir em infraestrutura só R$ 0,06 para cada real desembolsado

Ponto para Dilma e ponto para Serra. Serra teria mais dificuldades de aumentar o salário mínimo, Dilma teria mais facilidade, por motivos óbvios. Serra teria mais condições de fazer uma gestão mais responsável nos gastos do INSS e no déficit fiscal.

11 comentários:

PoPa disse...

A análise é interessante, mas deixa de fora o também extraordinário gasto federal com uma máquina inchada e improdutiva. Qual dos dois vai cortar na "própria carne", deveria ser a pergunta...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Serra tem mais condições de cortar na carne, porque menos ligado aos devaneios populistas.

charlie foxtrot disse...

"Capitalismo de estado", realmente não gosto desses rótolos novos para coisas velhas. Intervencionismo já foi teorizado, aplicado. E o principal legado foi a teoria inflacionária de Keynes que manteve nosso país numa merda por décadas.

guimas disse...

A análise é interessante, e me fez entender uma coisa a respeito da opinião do blogueiro: enquanto Dilma é considerada como sucessora de Lula, atrelada ao populismo e a entidades sindicais (ou seja, um grupo político), Serra é considerado como uma entidade única, solitária, unitária.

Qual o problema? Simples: junto de Serra virá o DEM, o resto do PSDB, entidades empresariais importantes, e por aí vai.

Por isso considero falsa a afirmação de que "Serra tem mais condições de cortar na carne, porque menos ligado aos devaneios populistas". A pessoa Serra pode ser assim, não discordo. Um eventual governo Serra, não, pois terá que se apoiar em grupos muito propensos aos "devaneios populistas".

Tenho só mais um pitaco: lá pelas tantas dizes "mas não interessa aos ricos deste país o aumento da exclusão social". Reveja. Repense. Converse com "ricos" de Porto Alegre a respeito disso.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, que interesse têm os ricos no aumento da pobreza e da miséria? Nenhum. Eles não lucram nada com isso, apenas perdem, porque são obrigados a gastar um monte em segurança. Claro que deve haver algum idiota que pensa assim, mas é um equívoco imenso. Acho que a pobreza interessa a quem quer fazer dela massa de manobra; ou seja a certos movimentos políticos e sociais.

Pablo Vilarnovo disse...

Maia, você não acha essas duas afirmativas antagônicas?

"Desde 2003 a proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria caiu 43%. Esse é um índice muito expressivo e o governo Lula é responsável direto por esse êxito -- que interessa a todos."

"O dado interessante dessa matéria da Folha é que as políticas de caridade e assistencialismo não são as grandes responsáveis pela melhoria dos nossos índices de inclusão social"

Guimas, olhando apenas a disputa presidencial não há muita diferença. Se o Serra vem com o pessoal do DEM, Dilma vem com o pessoal do PMDB, PP e quetais. Hoje são bem mais danosos ao pais que o pessoal do DEM. De longe, bem longe mesmo.

Sobre também o empresariado o PT se cercou da turminha da boquinha. Principalmenten construtoras. Sem falar na Oi... O fato do Paulo Skaf estar se candidatando pelo PSB, um partido da base de apoio de Lula fala muito sobre isso.

guimas disse...

"Hoje são bem mais danosos ao pais que o pessoal do DEM. De longe, bem longe mesmo."

Não penso assim. Acho que são igualmente danosos, infelizmente. E se o Serra ganhar, é mais que óbvio que a turma do PMDB vai se bandear pro lado do governo, como fez com Lula, como faz sempre.

"Sobre também o empresariado o PT se cercou da turminha da boquinha."

De novo, a turma da boquinha está onde está o governo, independente do partido.

"Acho que a pobreza interessa a quem quer fazer dela massa de manobra; ou seja a certos movimentos políticos e sociais."

Acho curiouso que não incluas a elite econômica nestes "movimentos políticos e sociais".

Pablo Vilarnovo disse...

Guimas, por isso acho o PMDB muito mais danoso ao país que o DEM. Concordo contigo, não há dúvidas que caso Serra ganhe, o PMDB irá para o governo.

Novamente concordo contigo. A turma da boquinha está onde está o governo.

Por isso não vejo o "perigo" de Serra trazer essas pessoas caso eleito. Essas pessoas já estão de braços dado com o PT...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Pablo, Lula é responsável direto por esse êxito, porque está no governo desde 2003. A pesquisa mostra que as políticas assistencialistas -- que também contribuiram, em um primeiro momento, na diminuição da exclusão social -- não foram as grandes responsáveis; ou seja tiveram também alguma parcela de responsabilidade.

Guimas, Que motivos a elite econômica teria para aumentar a exclusão social? Só não me venha com o papo antigo de explorador e explorado, please!

guimas disse...

@Pablo:

Minha motivação para resposta foi achar que Serra fará um governo mais austero por não ser populista. Isso é falso. Se for eleito, Serra será populista (e trará populistas com ele) o quanto for exigido e necessário para manter a governabilidade, igual ao PT. Não haverá "cortes na carne" por conta disso.

@Maia:

Num mundo ideal, Maia, as pessoas no topo da pirâmide se esforçam para criar condições para que os de baixo possam subir. No mundo capitalista real, isso está longe de acontecer. Não se trata de "explorador e explorado". Trata-se de inclusão e exclusão.

O assunto é extenso, mas pensar que os ricos querem melhorar a vida dos pobres espontaneamente para que, indiretamente, melhorem a sua própria vida é, no mínimo, uma ingenuidade. Ricos querem manter-se ricos.

Fábio Mayer disse...

O fato econômico é o seguinte:

Os ricos ficam tão mais ricos quanto a população em geral també enriquece. Quando o povão compra consome, os ricos vendem mais, prestam mais serviços e... ficam mais ricos, muito mbora a riqueza relativa, ou seja, comparada às demais pessoas, possa diminuir.

Sempre digo que Lula faz um bom governo, os méritos dele não podem ser retirados, nem com a alegação de que recebeu a casa em condições econômicas favoráveis e com a situação fiscal estabilizada por FHC.

E basicamente porque há mutos exemplos de governantes que pegaram o país em boas condições econômicas e o afundaram, o mais recente, GEORGE W BUSH.

Agora, intervnção estatal na economia tem limites no empreguismo e no aparelhamento do Estado. A intervenção estatal começa a perder força quando confunde-se o econômico com o político, o que já aconteceu no Brasil nas décadas de 60, 70 e meados da de 80.Os resultados todo mundo sabe...