Diversidade, Liberdade e Inclusão Social
Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Governo Justiceiro
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assiste à inauguração do monumento em comemoração ao bicentenário da independência do país
Uma das melhores definições sobre o governo Chávez foi dada ontem, na Folha, pelo historiador e antropólogo venezuelano Fernando Coronil, professor da Universidade da Cidade de Nova York, é autor "The Magic State: Nature, Money and Modernity in Venezuela" (O estado mágico: natureza, dinheiro e modernidade na Venezuela, The University of Chicago Press, 1997), considerado um clássico moderno sobre o Estado venezuelano, a relação com o petróleo e a tradição de presidentes fortes.
Todos os petroestados anteriores prometeram harmonia e bem-estar. O novo é que Chávez promete justiça: é um Estado justiceiro. Promete bem-estar para as maiorias excluídas, castigo para os oligarcas exploradores. Seu lugar na história dependerá de sua capacidade ser efetivamente justiceiro: reduzir as desigualdades e a exclusão social. Já é uma conquista Chávez ter dado às maiorias um sentido de pertencimento ao país e ao sistema político. Mas seu grande desafio é transformar tal sentimento em uma participação real.
Para melhorar, porém, penso que não deve encolhê-lo, como está fazendo, mas ampliá-lo. Não deve polarizar ou militarizar, mas integrar. Deve incluir gente competente, capaz de ser crítica -e escutá-los. A Venezuela tem milhares de engenheiros elétricos muito capacitados. É incrível que esteja sofrendo uma crise energética. É um momento para mudanças. Se não mudar o passo, não encontrará melhor caminho.
Em outras palavras, para diminui a exclusão social não é necessário fazer o terrorismo de luta de classes, não se faz isso polarizando, mas integrando.
"Reiteração de heróis do passado ocorre porque há crise de futuro"
O historiador e antropólogo venezuelano Fernando Coronil, professor da Universidade da Cidade de Nova York, é autor "The Magic State: Nature, Money and Modernity in Venezuela" (O estado mágico: natureza, dinheiro e modernidade na Venezuela, The University of Chicago Press, 1997), considerado um clássico moderno sobre o Estado venezuelano, a relação com o petróleo e a tradição de presidentes fortes. (FM)
FOLHA - Dos presidentes que falam de "segunda independência", Chávez é o que mais se dedica a ligar sua imagem à de Bolívar. Vale a pena o investimento?
FERNANDO CORONIL - Sempre nas Américas as elites usaram a independência como um momento fundacional. Agora, há duas coisas novas. Os governos "esquerdistas" também anunciam uma segunda independência, mas os momentos fundacionais já não são só as guerras de independência: para Evo Morales, são 500 anos de luta anticolonianista; para os Kirchner, são as lutas do peronismo progressista; para Michelle Bachelet, a empreitada allendista. Para Chávez, é fundamentalmente a guerra da independência porque isso lhe permite se apresentar como um "segundo Bolívar". Mas até Chávez expandiu a genealogia da Revolução: ontem [13 de abril], falou de 200 anos de luta, mas também de 500 anos, uniu Bolívar com a lutas de Guaicaipuro, o cacique conhecido por sua resistência aos colonizadores. Para o povo, Chávez representa o mestiço, Bolívar, mas também Guaicaipuro. Chávez não é o Bolívar das elites, mas o popular que encontramos no imaginário popular, tanto secular como religioso.
Essa reiteração de heróis do passado ocorre porque há uma crise de futuro. Nenhum sistema oferece um futuro confiável, viável. Então, todos os presidentes esquerdistas, sem modelos de futuro, têm de negociar no presente com o capitalismo, prometendo um futuro vago, e buscar modelos sólidos no passado. A constante celebração revela a necessidade de ter um fundamento sólido quando o horizonte de futuro parece falso.
FOLHA - O sr. diz que, com os discursos, Chávez quer produzir a "história" e a "revolução". Mas, se a fala se distancia tanto da realidade, não pode se desfazer o "encanto"?
CORONIL - Este é um momento difícil para o chavismo. Todo o encanto tem de se basear em conquistas, não só em palavras.
A crise energética, a inflação, a insegurança, a crise produtiva e a corrupção minam seu projeto. Contra o desencanto, Chávez propõe intensificar a polarização entre revolucionários e "burgueses pitiyanquis". A única estratégia que pode ter êxito agora é o encanto da eficiência.
FOLHA - Que lugar Chávez tem na história da Venezuela?
CORONIL - Todos os petroestados anteriores prometeram harmonia e bem-estar. O novo é que Chávez promete justiça: é um Estado justiceiro. Promete bem-estar para as maiorias excluídas, castigo para os oligarcas exploradores. Seu lugar na história dependerá de sua capacidade ser efetivamente justiceiro: reduzir as desigualdades e a exclusão social. Já é uma conquista Chávez ter dado às maiorias um sentido de pertencimento ao país e ao sistema político. Mas seu grande desafio é transformar tal sentimento em uma participação real.
Para melhorar, porém, penso que não deve encolhê-lo, como está fazendo, mas ampliá-lo. Não deve polarizar ou militarizar, mas integrar. Deve incluir gente competente, capaz de ser crítica -e escutá-los. A Venezuela tem milhares de engenheiros elétricos muito capacitados. É incrível que esteja sofrendo uma crise energética. É um momento para mudanças. Se não mudar o passo, não encontrará melhor caminho.
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2 comentários:
Maia, achei a definição de Chávez muito ingênua. Parece que quer transformar Chávez em um tipo de Déspota Esclarecido. Ele não é. A tal "integração" só será conseguida através da democracia e respeito às leis e liberdades individuais. Coisas que não existem na Venezuela de hoje. Outra coisa: como qualquer ditadura a meritocracia é suprimida em favor de conchavos, pistolões e todo o conjunto de manipulações onde os amigos do rei acabam por ficar em posições importantes desconsiderando a capacidada.
Não há a menor possibilidade da Venezuela dar certo.
Pablo, muito embora ele não seja um crítico ácido do troglodita, a definição é correta, Chávez posa de justiceiro, o salvador da pátria, o déspota esclarecido, aquele que representa os mais pobres contra os mais ricos...
Também não acho que existe a menor possibilidade da Venezuela dar certo seguindo o caminho da divergência e do antagonismo social.
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