Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A Criminalidade Floresce Sempre no Mesmo Lugar



"Polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia". Essa é a estrofe da música polícia do grande e inesquecível disco do Titãs, Cabeça Dinosauro, na década de 80.

O Brasil vivia, naquela época, o fim da ditadura militar. Era o governo João Figueiredo e a polícia era chamada sempre para servir, bater e proteger quem estava no poder.

O Brasil de 2007 é diferente do Brasil da década de 80, mas muita gente acha que a polícia ainda serve para manter o status quo da "classe dominante."

Ontem, neste Brasil de 2007, uma operação policial na favela da Coréia, em Senador Camará, na zona oeste do Rio de Janeiro, deixou doze pessoas mortas nesta quarta-feira. Entre os mortos estão uma criança de quatro anos e um policial civil. As outras vítimas são suspeitas de envolvimento com tráfico de drogas. Mais de 250 policiais participaram da ação, que tinha como objetivo a apreensão de armas na favela. Onze pessoas foram presas. Em protesto contra a morte da criança, que foi atingida dentro de casa, moradores do local queimaram um ônibus na região. A informação é da Agência Chasque e pesquei a notícia, para variar, no diario gauche.

Diz o Cristóvão Feil, proprietário do gauche:

Eu nunca vi essa notícia (e nunca verei): “Uma mega operação policial no condomínio de luxo de São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, deixou doze pessoas mortas ontem. Entre as vítimas uma criança de quatro anos”.
O dia que isso acontecer, todas as estações de televisão do planeta darão manchetes escandalosas sobre o gravíssimo fato que reprime e aniquila famílias pacatas e cidadãos probos do Rio de Janeiro.
Polícia, conceitualmente falando (desculpem), é para isso: reprimir e se possível eliminar pobre e iletrado. Isso não é só no Rio de Janeiro. É também em Nova York, Londres (vide Jean Charles de Menezes), Paris (vide os jovens muçulmanos da periferia), Tóquio, Porto Alegre, Helsinque, Pretória, Sidney e Cabrobó do Judas.

Comentário do dono deste pequeno armazém da esquina:

Poder de polícia é monopólio do Estado que existe em qualquer sistema, em qualquer lugar do mundo e sempre existirá, inclusive os BOPEs da vida. Polícia não serve para reprimir e se possível eliminar pobre e iletrado, como entende o Feil. Mas a polícia tem que agir onde floresce a criminalidade. E onde floresce a criminalidade? Nos mesmos lugares de sempre: nos locais onde não existe ou pouco existe Estado. Por isso é baboseira esse papo neoliberal de Estado mínimo num país como o Brasil. O Brasil precisa de um Estado que funcione, que gera educação, saúde e segurança DECENTE. No Leblon, nos Jardins, nos bairros de classe média alta, a criminalidade atua, vendendo seus pós, seus fumos, furtando e roubando carros e residências, mas não é ali que ela floresce. Ela floresce na falta de oportunidade, na falta de investimento social, no abandono. Ela floresce nos morros do Rio, nas vilas das grandes cidades, Em St. Denis, subúrbio de Paris, nos bairros de imigrantes da Europa. O lugar é sempre o mesmo e é sempre o mesmo, porque o Estado (esse ente que nunca vai perecer, como religiosamente acredita Istvan Meszarós e seus cordeirinhos) e seus diversos poderes e serviços de assistência - não existem ou pouco existem.

2 comentários:

PoPa disse...

Espera um pouco! A polícia não invadiu um bairro rico para prender aquele supertraficante? Claro que não houve tiroteio, pois não houve reação armada à ação policial. Se o tal traficante tivesse uma milicia por alí, poderia ter havido um tiroteio e poderiam ter vítimas inocentes.

Mas, infelizmente, nos morros cariocas não são somente habitados por pessoas normais. Lá, os bandidos andam armados no meio da rua e recebem a polícia com tiros! O que o gauche esperava? Que se deixe como está para ver como fica? Bem, infelizmente, é o que tem acontecido ao longo dos anos e acabou nesta situação quase incontornável. Brizola teria sido o início desta escalada de violência nos morros, por ter deixado crescer (opinião de cariocas, não minha).

Carlos Eduardo da Maia disse...

O polêmico Reinaldo Azevedo escreveu um artigo interessante sobre o assunto que foi publicado na VEja desta semana. O filme que bem retrata o que acontece nas favelas do Rio é o Cidade de Deus. Os morros são dominados pelos traficantes.