Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 30 de outubro de 2007

O Aborto e a Fábrica de Marginais


Do ribimboca da parafuseta pesquei a seguinte mensagem:

Isabel (nome fictício), tem 24 anos. Moradora do morro da Babilônia, namora há 4 meses e está vivendo um dilema. Seu namorado não sabe, mas Isabel está grávida.Ela faz uso de pílula anticoncepcional, dia sim, dia não, por economia e total desinformação. Pensa em abortar, mas católica, foi desaconselhada pelo padre de sua paróquia.

Se o aborto fosse legalizado, seria um problema a menos para Isabel, que poderia procurar o SUS, ser aconselhada por uma médica e ter acompanhamento psicológico.Isabel dependerá da boa vontade de seu namorado, que poderá pagar ou não o aborto, e na melhor das hipótese assumir o filho.

Isabel, de acordo com o governador Sérgio Cabral Filho, é uma das milhares de fabricantes de marginais que habitam as 700 favelas da cidade.Ela deveria ter o direito de abortar? Sim, mas seguindo outros critérios, sem imposições.Cabral não enxerga, ou não quer enxergar, que sua análise é cruel, preconceituosa, superficial e tem algo de eugenia.

Se tomarmos sua análise como parâmetro, podemos inverter, e as mulheres de classe alta e média, seriam incubadoras de políticos corruptos e todo tipo de criminosos engravatados. Do sonegador de impostos aos usuários de drogas classe "A".


Comentário do Maia:


Concordo que Isabel deve decidir se quer ou não abortar e deveria fazer esse aborto num hospital limpo e decente do SUS. Mas a lei brasileira, ao contrário das leis portuguesas, francesas, alemãs, italianas e americanas, entende que aborto é crime e a pessoa que aborta deve ir a juri popular. Isso é medieval. Cabral pode não ter se expressado muito bem, pode ter ido direto ao pote com certa demasia, mas o que ele disse, infelizmente, é uma realidade. Que futuro tem um filho não desejado que já possui diversos irmãos de uma família, cuja renda familiar é menor que o salário mínimo? Não quero aqui generalizar, porque grande parte das pessoas que moram, vivem e convivem nas favelas não viram bandidos. O problema é que o menininho cresce na favela junto com os filhos dos traficantes, até que um belo dia ele se torna um, uma mula, um fogueteiro e dificilmente vai conseguir sair dessa viciada vida, porque o traficante é impiedoso, ele cobra -- e cobra bem -- pelos serviços prestados. O grande mérito do filme tropa de elite é exatamente esse, ele aponta a arma na cara da hipocrisia brasileira, vítima de um pensamento politicamente correto, mas equivocado na prática. Constatar a realidade nua e crua, doa o que doer, não é fascismo, não é direitismo. Ninguém pode ser a favor da tortura e da repressão sem limites, mas ao Estado cabe exercer uma função soberana e que só ele tem esse monopólio: o poder de polícia.


Um comentário:

PoPa disse...

Acho o aborto uma prática inominável. O certo seria uma programação familiar ou até mesmo a autorização para ter filhos, como tem para adoção. Mas nossa realidade é outra! O aborto deveria ser - não estimulado - mas permitido pelo Estado, após análise da mãe, suas condições financeiras e psíquicas para ter o filho. Ou apoiá-la durante a gravidez e entregar o filho a quem queira adotar, que são muitos. Operações de laqueadura ou vasectomia deveriam estar disponíveis sempre pelo SUS.

No Brasil, ao contrário dos chineses que ganhavam radinhos para se esterelizarem, as pessoas ganham grana para terem mais filhos...