Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 30 de outubro de 2007

Robin Hood não Existe


Que mania impressionante a esquerda latino americana tem de resumir tudo, como fez o Baleiro ontem, em questão de luta de classes. De um lado a elite e de outro os pobres; de um lado a civilização e de outro a barbárie. Tudo se explica e se resolve dessa forma simplista e primária. Chega de maniqueísmo, chega de dualismo. Isso é apenas cortina de fumaça para quem não quer enxergar além. O interessante é que os autores e atores de esquerda fazem questão de omitir um fato: o tráfico que corrompe, vicia e destroi a vida da favela. O tráfico existe. É o capitalismo mais selvagem, mais primitivo, mais bárbaro da história do planeta. O tráfico está ali: tentando dar uma de Robin Hood e aniquilando as expectativas de todos, corrompendo a vida das pessoas, arrebanhando a meninada que se torna fogueteira ou mula. E o traficante cobra seu preço -- e esse preço é caro. É muito caro. E as pessoas de bem da favela (a grande maioria) ficam reféns desses idiotas que dominam todas as atividades. E isso o discurso de esquerda não enfrenta, não ventila, se omite. Por que se omite? Porque prefere utilizar termos de uma falsa sociologia que já está para lá de caduca. Tadinhos dos traficantes, tão pobrezinhos e sem oportunidades. Que isso, cara? Tropa de elite mostra que do lado do tráfico não está nenhum Robin Hood, está sim a bandidagem, está o carinha que cobra de todos fidelidade. E quem não é fiel está condenado. E não tem julgamento nem nada. É bala na cara. E se sobrar a família vai junto. E quando o Estado e seu monopólio de poder de polícia deve fazer o que todos desejam: ingressar na favela e tomar conta daquele lugar, a esquerda atira pedra ... nos policiais.

7 comentários:

Carlos de Castro disse...

Maia, esse deslumbramento pelo mal não é monopólio da esquerda, ou da direita, é da humanidade. Billy The Kid, Jesse James e Frank James,Butch Cassidy e Sundance Kid, Bonnie e Clyde, Al Capone,Charles Manson, todos transformaram-se em heróis do capitalismo. Concordo que o discurso maniqueísta,divisionário, tem muito mais a ver com um stalinismo ultrapassado do que com a realidade atual. Era convincente em uma Rússia amordaçada, e pode ser convincente em um Brasil cego, do mesmo modo que o culto a personalidade, mas creio que não é o caso do Brasil. Aqui existe oposição. Aqui o presidente é chamado de apedeuta e anta e não move um processo ou se manifesta.Existe liberdade de expressão. Tropa de Elite que voce citou é a prova disso. A instituição policial é atacada e desnudada, comandantes corruptos, associados com o crime. Não podemos esquecer que o BOPE faz parte da instituição e os comandantes da PM também comandam o BOPE. Alguns oficiais da PM do Rio tentaram impedir a exibição e foram solenemente impedidos pelo ministério público.

Anônimo disse...

Caro Carlos,
Concordo plenamente com você. É preciso aparelhar a polícia, criar melhores condições de trabalho, valorizar os profissionais, oferecer melhores salários para que vivam com mais dignidade, e que o governo, como se fazia antigamente, financie através de planos especiais, moradias para essas famílias, tirando-os dos barracos e das favelas, onde eles se obrigam a conviver com marginais. Afinal, a sociedade já está pagando essa conta, mas tais benefícios não chegam até eles.

Jornalista Caco Barcelos, profissional competente, escreveu um livro sobre os caminhos e descaminhos do narcotráfico no Brasil, e citou que muito dessa lentidão para uma solução, depende de Brasília, e lá, às decisões ficam amarradas no pé da mesa, enquanto os “correria” mandam e desmandam.

Pôr causa desse livro, ele teve que se mudar para Londres e sair de circulação por um bom período. Ficou marcado.

O cidadão de bem está perdendo espaço na sociedade democrática. Dizem os marginais que estão socializando o país. Durma-se com um barulho desses. A Justiça precisa agir. E rápido. / Abs

Anônimo disse...

Também acho que o discurso maniqueísta é arcaico, mas enfrentemos as contradições:

"O tráfico existe. É o capitalismo mais selvagem, mais primitivo, mais bárbaro da história do planeta."

E onde está a outra ponta do capitalismo selvagem? Sabe, aquela que tem o capital - esqueçam por um momento a luta de classes. Quem financia o tráfico? No Tropa de Elite, tem o "playboyzinho branco" da faculdade, que também é traficante, mas é "pessoa de bem" pra maioria.

Acho que o "cidadão de bem" não está perdendo espaço - e tiro essa conclusão de minha experiência diária. O "cidadão de bem" está deixando de existir, simplesmente. Alie-se impunidade com essa noção de que há uma luta de classes, e que "nós somos melhor do que eles" e temos de resultado essa brutal desigualdade.

O maior fomento que há à luta de classes é a pobreza, e não é lá muito complicado perceber isso. Mas aí o Bolsa-Família vira Bolsa-Esmola e o "causaéreo" toma conta do país como se não tivéssemos outros problemas (só pra citar alguns exemplos).

O maior problema a ser enfrentado é a pobreza - quando a "zelite" perceber isso, se não for tarde demais, as coisas mudarão. Aliás acho que até há um certo movimento nesta direção. Esperemos que aumente e se crie.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Quem financia o tráfico é a classe média e alta das cidades. Mas o tráfico ocupa o lugar do Estado nas favelas. E esse círculo vicioso é que tem que acabar. O Estado tem que entrar na favela, como se fez em Bogotá na Colombia. Mas quando o Estado resolve impor o seu necessário poder de polícia, vem os esquerdistas dizer que isso não pode, isso é repressão, isso é contra os direitos humanos. E o traficante que mata os infieis e a família dos infiéis de forma violenta e impiedosa? Quando isso ocorre, a esquerda se cala, não fala nada, fica em silêncio absoluto.

Anônimo disse...

Que discurso maniqueísta, Maia. Misturar essa coisa de direitos humanos com esquerda, com repressão... Parece vindo direto dos anos 60 ou 70.

Eu também não vejo a direita se pronunciando abertamente quando se prende menino branco traficando na zona sul do Rio. Principalmente se for filho de bacana. Fica todo mundo quietinho. Aliás, quanto mais na surdina, melhor, não é?

PoPa disse...

Guimas, não posso concordar contigo, quando dizes que fica todo mundo quietinho quando se trata de garoto branco, classe média... Sempre que acontece de bacanas queimarem mendigos, arrastarem cachorros pelas ruas e outras atrocidades, a repercussão é muito maior do que quando guris pobres fazem igual ou pior. A imprensa passa dias batendo no mesmo assunto. O que é bom, diga-se de passagem, mas não ajuda na tua tese.

PoPa disse...

Se eles, eventualmente, ficam impunes, a culpa não é da sociedade em si, mas do sistema, o mesmo que permite que papagaio (que não era um miserável) fique no semi-aberto e saia quando quiser.